Especialistas em Educação pedem novos modelos de ensino no primeiro Innovators Forum, promovido pela Sonae
O Innovators Forum, uma iniciativa de partilha de conhecimento promovido pela Sonae, realizou a sua primeira edição ontem no LX Factory, em Lisboa, onde a Educação foi o tema central que juntou especialistas nacionais e internacionais para discutir tendências, desafios e oportunidades nesta área crítica para a sociedade, sempre com uma lente de futuro.
O evento contou com mais de mil participantes, presencialmente e online, incluindo professores, alunos, empresários e decisores.
Entre os presentes esteve Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, que, na sessão de abertura, explicou o motivo que levou à criação desta iniciativa: «Percebeu-se que na Sonae se fez muita coisa que ficava dentro da empresa. Quisemos, por isso, que este conhecimento se tornasse público e que chegasse à sociedade. Quisemos, sobretudo, que esse conhecimento levasse à acção.»
Sobre a escolha da Educação como mote desta primeira edição, Cláudia Azevedo destacou a importância desta área enquanto maior elevador social, citando como exemplo a história de vida do seu pai e fundador da Sonae, Belmiro de Azevedo. A gestora concluiu ainda que «o futuro precisa de ser desenhado e inventado. Precisamos de novas abordagens, novas experiências e muita determinação dos vários agentes da sociedade».
Ao longo da manhã, subiram a palco diversos especialistas para debater as mudanças que devem existir para escalar a Educação do futuro. Entre eles Sugata Mitra, cientista de computação e teórico educacional, que mostrou a sua visão sobre o futuro da Educação, destacando, em particular, que o sucesso dos alunos não deve ser medido pelo nível de conhecimento, mas antes pela sua capacidade de compreensão, comunicação e computação. Terminou a expor a sua crença de que, mais do que educar, «o propósito da Educação passa por permitir às pessoas viver vidas felizes, saudáveis e úteis».
Já David Kellermann, consultor e professor universitário, reconhecido pelo seu trabalho na aplicação de inteligência artificial e machine learning para melhorar o sistema de ensino, colocou à reflexão da audiência o desafio que a tecnologia traz aos modelos de ensino actuais: de que forma o digital, a inteligência artificial e a realidade aumentada podem melhorar a experiência humana no contexto educativo.
Sobre este tema, o académico explicou o trabalho que tem vindo a desenvolver na University of New South Wales, em Sidney, onde se tem focado em integrar a tecnologia como factor potenciador do processo de aprendizagem em quatro realidades: na relação da e com a comunidade escolar; no contexto de sala de aula; nos processos de avaliação dos alunos (por exemplo, nos exames); e, também, no cenário de laboratório de investigação. Em resumo, David Kellermann concluiu que «o campus físico é algo que temos vindo a melhorar ao longo de mais de mil anos. Agora, temos de começar a evoluir no que respeita ao campus digital».
O Innovators Forum contou ainda com diversos debates centrados em tópicos como os novos modelos educativos em Portugal ou a necessidade de repensar o tradicional sistema de ensino. José Pacheco, educador, antropólogo, pedagogo, fundador da Escola da Ponte e da Open Learning School, chegou mesmo a referir que o actual «sistema não funciona, é inútil. Ele não pode ser melhorado, tem de ser mudado».
Já Pedro Santa Clara, professor na NOVA SBE, fundador da 42, e director da TUMO Coimbra, refere que o principal problema está no facto de a «indústria da Educação ser altamente regulada. Para o futuro, é crucial que nós, como sociedade, possamos permitir mais experimentação, deixando surgir mais modelos educativos».
Outro dos temas quentes foi a Educação ao longo da vida, onde os conceitos de reskiling e upskiling foram amplamente mencionados. De acordo com João Magalhães, co-founder e CEO da Code For All, «há um desafio gigante: as pessoas vão ter de mudar de ocupação. É um problema super complexo e difícil de resolver».
No que toca à solução, Marta Cunha, head of Transformation na Sonae e coordenadora da iniciativa Reskiling for Employment (R4E), destacou que as empresas têm de assumir um papel preponderante na actualização de competências dos seus colaboradores, destacando a eficácia de projectos como o PRO_MOV, que conta com taxas de empregabilidade na ordem dos 80%.
Já João Duarte, professor na NOVA SBE e coordenador da plataforma ReSkill Hub, coloca o foco da solução nas universidades, assumindo que, para tal acontecer, será necessário «revisitar um pouco os nossos currículos, focando os programas curriculares menos em conteúdo e mais em capacidades técnicas», e ao mesmo tempo «ter as portas abertas para os profissionais visitarem estas instituições. Sem isso, não saberemos quais serão as competências do futuro».
De um modo geral, todos os participantes concordaram que o futuro da Educação terá de passar por uma conjugação entre a evolução do que de melhor se faz actualmente e a revolução dos modelos e práticas obsoletos.
O Innovators Forum deste ano encerrou com um discurso de Paulo Azevedo, presidente do Conselho de Administração da Sonae, que salientou as melhorias significativas que Portugal alcançou nos últimos 50 anos, não deixando de sublinhar que a inclusão continua a ser um dos principais problemas: «Hoje, dependendo do sítio onde se nasce e dos meios que se tem, não se pode chegar às melhores escolas, às melhores universidades. Sem isso, parte-se para a vida com desigualdade.»
Para tal ser possível, refere, será imperativo construir uma visão de futuro para a Educação, em particular, «vai ser preciso investimento, se queremos evoluir, se queremos transformar a nossa Educação». Além do investimento, Paulo Azevedo refere ainda como prioridade a visão de futuro, as parcerias, o reconhecimento e motivação dos alunos, as competências de futuro, e finalmente a inclusão e diversidade.