Este sector tem falta de 80 mil trabalhadores em Portugal

O sector da construção civil precisa de, pelo menos, 80 mil trabalhadores qualificados, alerta Albano Ribeiro, presidente do Sindicato da Construção de Portugal. Carpinteiros, electricistas, encarregados de obra e ferrageiros são alguns dos exemplos de especializações em falta no país, revela o Dinheiro Vivo.

 

«Se todas as obras que estão previstas, como o metro do Porto, os hospitais, o aeroporto do Montijo, arrancassem não teríamos trabalhadores para responder. Só para a construção da infraestrutura aeroportuária do Montijo vão ser precisos 10 mil», sublinha Albano Ribeiro.

De acordo com a publicação, do lado dos patrões, a convicção é a mesma. «No início da pandemia, apontava-se para a necessidade de 70 mil trabalhadores para dar resposta aos investimentos que estavam previstos», lembra Reis Campos, presidente da AICCOPN-Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas.

Recentemente, num inquérito à situação do sector, 65% dos empresários fez notar à associação que «a escassez de mão de obra especializada foi o principal constrangimento à actividade». O líder associativo lembra que o Plano de Recuperação e Resiliência, que espera seja «uma realidade ainda este ano», aponta para «um total de 12,9 mil milhões de euros em subvenções, sendo que se estima que cerca de 34% corresponderão a investimentos em construção». Nesse sentido, e perante o volume de investimento previsto, «há uma efectiva necessidade de reforço ao nível da mão de obra qualificada», frisa Reis Campos e, nesse contexto, «a formação profissional é uma questão decisiva».

O Dinheiro Vivo revela que para Albano Ribeiro, a solução para debelar a escassez de profissionais está no regresso dos trabalhadores que emigraram nos últimos anos. Nas suas contas, há cerca de 300 mil portugueses a trabalhar na construção civil em países como o Reino Unido, França, Alemanha e Luxemburgo. O dirigente sindical defende que a escassez de mão de obra qualificada poderia ser resolvida se os salários em Portugal fossem mais ajustados à realidade da União Europeia.

Como refere, actualmente, esses profissionais vão à segunda-feira para o Reino Unido ou França, via Ryanair, e regressam à sexta, mas auferem salários de 2400 euros e superiores. A situação «revertia-se se ganhassem um mínimo de 900 euros» em Portugal, defende. Aliás, este é o valor na mesa negocial com os patrões, para os operários qualificados de primeira. Já para os de segunda, é reivindicada uma remuneração de 850 euros.

Segundo a publicação, a AICCOPN confirma que, relativamente a 2021, foi iniciado o processo de negociação da revisão do Contrato Colectivo de Trabalho com os sindicatos e, por isso, «não é possível adiantar qualquer indicação». Contudo, lembra que o último inquérito aos salários por profissões na construção, do Ministério do Trabalho, de julho de 2020, revela que a taxa de salário mensal dos trabalhadores atingiu a média de 1010 euros, mais 3,7% face ao período homólogo. Albano Ribeiro tem dúvidas sobre os números: «Há milhares de trabalhadores que ganham o salário mínimo, nas nossas estimativas são cerca de 40%.»

Para minimizar o problema da falta de mão de obra, a associação patronal defende como prioritário «o realinhamento da formação profissional com as necessidades do mercado e o apoio ao investimento na capacitação das empresas». Segundo Reis Campos, nos últimos anos, os centros de formação do sector «não cumpriram a missão». Por isso, é urgente que o governo promova o realinhamento dos centros e assegure a formação para responder quer ao desemprego quer às necessidades do sector. Mas lembra também que «o planeamento e o cumprimento de uma calendarização rigorosa do investimento são questões essenciais» para que as empresas saibam com o que podem contar.

A par de formação na qualificação técnica da construção, a AICCOPN preconiza a promoção de cursos de especialização tecnológica, direcionados para matérias como o reforço da resiliência e da sustentabilidade das infraestruturas, a adaptação dos edifícios a exigências como o touch-free, a segurança e a qualidade do ar, a construção 4.0, a mobilidade urbana, as smart grids, a conetividade das infraestruturas públicas, a eficiência energética e o combate às alterações climáticas, que «vão ser determinantes neste novo ciclo de investimento público e privado».

Por sua vez, Albano Ribeiro alerta que muitas obras estão a ser feitas com trabalhadores sem qualificação, muitos vindos do sector agrícola, e por imigrantes sem formação na área. Reforça que há muito não há formação profissional no sector.

A construção e o imobiliário têm conseguido resistir à crise pandémica. Segundo a AICCOPN, o sector registou, em 2020, 272 insolvências, menos 7,2% face às 293 verificadas em 2019. Entre o final de 2019 e novembro de 2020, o número de desempregados do sector registados no Instituto de Emprego e Formação Profissional aumentou 7,7%, o que compara com o aumento de 41,4% a nível nacional. Por essa data, os desempregados inscritos nos centros de emprego eram 34 250, representando 8,6% do desemprego nacional e um mínimo desde o início da série que remonta a 2003.

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