Estudo traça o retrato da pobreza e desigualdade em Portugal, agravado com a pandemia. Conheça os números (preocupantes)

No âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, a Nova SBE, a Fundação “la Caixa” e o BPI lançam o relatório “Portugal, Balanço Social 2020 – Um retrato do país e dos efeitos da pandemia”. As principais conclusões foram apresentadas esta manhã.

Por Sandra M. Pinto

 

Da autoria de Susana Peralta, Bruno P. Carvalho e Mariana Esteves, do Nova SBE Economics for Policy Knowledge Center, o relatório dado hoje a conhecer traça um retrato socioeconómico das famílias portuguesas, fornecendo uma base de informação transversal sobre a situação social no país.

 

A pobreza nos últimos 10 anos

O relatório “Portugal, Balanço Social 2020 – Um retrato do país e dos efeitos da pandemia” revela que a taxa de pobreza e de pobreza extrema, depois de transferências sociais, eram, em 2019, de 17,2% e 8,5%, respectivamente. «A proporção de pessoas em situação de pobreza, antes de transferências sociais (pensões de invalidez e reforma, subsídio de desemprego ou abono de família), era de 43,4%», pode ler-se, «no mesmo ano, 12,5% da população encontrava-se em situação de pobreza persistente e 28,7% da população pobre vivia em agregados com menos de 45% de intensidade laboral, o que compara com uma taxa de 9,4% para a população total». «A pobreza atinge mais quem não tem um contrato de trabalho», assinala a investigadora Mariana Esteves.

No que diz respeito à privação material, ainda que menor, em 2019, «15,1% das pessoas ainda tinha problemas em lidar com despesas inesperadas ou conseguir manter a casa adequadamente aquecida». O relatório revela que as famílias pobres são as que «enfrentam maiores dificuldades no acesso ao mercado de trabalho, à educação superior e à saúde (24,1% dos pobres consideram a sua saúde como má ou muito má) e as que vivem em piores condições habitacionais (26% em privação habitacional severa) e que menos participam em atividades político/sociais (60%). Os desempregados são o grupo com maior taxa de pobreza em 2019 (42%)».

Um dos grupos da população mais vulnerável à pobreza e exclusão social, são crianças, sendo que o relatório apresenta para as crianças uma taxa de pobreza 18,5%, valor superior ao da população total (17,2%), acrescentando que  «a pobreza atinge 33,9% das famílias monoparentais, o tipo de agregado com maior taxa de pobreza».

 

Covid-19 – impacto da pandemia

O relatório “Portugal, Balanço Social 2020 – Um retrato do país e dos efeitos da pandemia” analisa a primeira vaga da pandemia (de Março a Setembro de 2020).

Pode ler-se que a «pandemia condicionou o acesso aos cuidados de saúde: só no mês de Abril foram canceladas 135,8 milhares de cirurgias e 1,22 milhões consultas». De acordo com os inquéritos realizados entre Março e Junho de 2020, «foram os mais pobres que reportavam ter um risco de infeção mais elevado», enquanto outro inquérito sugere que a pandemia «afectou particularmente a saúde mental dos mais pobres, dos menos escolarizados e dos desempregados».

Outra das grandes conclusões do relatório dizem respeito às medidas de confinamento, revelando que as mesmas acentuaram desigualdades a nível laboral.

«Sectores como os da informação, comunicação e financeiro puderam continuar em teletrabalho, recorrendo menos ao layoff, ao passo que os trabalhadores do alojamento turístico, restauração, artes e desporto, em layoff quase total, enfrentaram uma maior perda de rendimento», está descrito, assim como o facto de o número de inscritos nos centros de emprego ter começado a aumentar em Abril. «Em Setembro de 2020, havia mais 106 mil que no mesmo período de 2019», avança o relatório, adiantando que «o aumento foi mais expressivo entre os mais jovens (até aos 25 anos) e com escolaridade até ao 12.º ano, com as mulheres a configurarem a maioria dos registos». Ao mesmo tempo, observou-se um aumento de 11 mil beneficiários do rendimento social de inserção, entre Janeiro e Setembro de 2020.

 

 

 

 

Para Daniel Traça, director da Nova SBE, esta preocupação com o futuro faz parte da parceria que a Nova SBE fez com a sociedade civil, porque «é preciso mais participação dos jovens para se conseguir uma maior sustentabilidade», acrescentando que «é preciso estratégia para se conseguir a coesão da nossa sociedade, mas antes é preciso conhecer é esse o objectivo deste estudo». Para o Daniel Traça é essencial conhecer, pois «o conhecer deve gerar a acção e é isso que esperamos com este estudo. Agora cabe aos responsáveis conhecerem a situação em Portugal e depois agir para fazer deste um Portugal melhor».

José Pena do Amaral, membro da Comissão Executiva do BPI e em representação da Fundação “la Caixa”, explica que «a nossa preocupação com o sector social deu origem à realização deste relatório com o objectivo de ajudar a conhecer melhor o que é o pais na sua situação social daí a nossa intenção de querer que este seja uma relatório anual».
O responsável revela que «este é um dia muito feliz pois conseguimos hoje trazer a publico o primeiro relatório».

«Este é o resultado de um trabalho conjunto», faz questão de assinalar Susana Peralta, «este é um produto em construção sendo esta a nossa primeira proposta, no futuro queremos aperfeiçoar os resultados com base nos dados mais representativos da nossa população e posição social». 2020 foi um ano particularmente complicado com alterações na nossa economia muito profundas pelo que «completámos o relatório com uma segunda parte dedicada aos efeitos da pandemia no nosso país através de dados fornecidos por diversas entidades», revela Susana Peralta, reforçando que «esta é uma análise exploratória, mas que aponta uma direção para percebermos o impacto da pandemia na situação social no nosso país».

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