Evolução ou alienação? A saúde mental como investimento

Por Vanda Vieira, Psicóloga Especialista em Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações; em Psicologia da Educação; em Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira

Evoluímos para um modelo comunicacional híbrido, seja em família, seja no trabalho. Em família, cruzam-se momentos de confraternização, agora reduzidos a um núcleo muito fechado, com os encontros online síncronos e as nossas “explorações” privadas. No trabalho, o mundo laboral mistura-se muito facilmente, e de forma avassaladora, com o nosso ambiente pessoal, até aqui reservado e de acesso somente aos “nossos”.

Estes modelos trazem consigo vantagens e desvantagens. As nossas evasões individuais, em momentos de pandemia, são uma compensação face à muito prolongada necessidade e rigor de confinamento. Os encontros online com familiares e amigos são um bálsamo, e sem eles, estaríamos ainda mais frágeis emocionalmente. No trabalho, é complexo o equilíbrio entre o “conectar” e o “desconectar”; entre a mais-valia de chegarmos sempre a horas e a grande desvantagem de estarmos privados das nossas pausas para café, tertúlias e afins!

Neste cenário de prolongamento do teletrabalho é importante as organizações refletirem sobre os riscos profissionais tendo em conta as dicotomias em cima referidas. E não nos estamos a referir à típica, mas muito importante, prevenção de incêndios, formas de atuação em caso de sismos ou acidentes, primeiros socorros e planos de emergência. É importante também prevenir situações alienação, de esgotamento. As pessoas estão carentes de interacção, é ainda mais difícil conciliar família e trabalho. As pessoas veem as suas casas, os seus locais de refúgio e recolhimento, transformarem-se em espaços de labuta diária, partilhados com os/as maridos/mulheres, em função das agendas exigentes, horários intensos, reuniões a toda a hora.

É fundamental as organizações investirem na saúde mental dos seus colaboradores. Em muitas organizações existem políticas de cuidado com a saúde física, a ginástica laboral, o encaminhamento para fisioterapeutas, a organização de caminhadas, por exemplo. Também deverão ser fomentadas políticas de auto-cuidado para as pessoas, porque hoje em dia não basta ter um ambiente saudável, relações laborais de confiança mútua, é essencial incentivar ações preventivas de promoção do bem-estar.

Atualmente cada vez mais empresas são avaliadas segundo o Índice de Desempenho Environmental, Social, and Governance (ESG). São estes três fatores centrais na medição da sustentabilidade e do impacto social de um investimento em determinada empresa/negócio. Os critérios que suportam as decisões de um melhor desempenho financeiro das empresas; os critérios ESG usados pelos investidores na avaliação das empresas nas quais desejam investir. Estes critérios suportam ainda as decisões dos investidores face a evitar empresas/negócios que possam representar um risco financeiro maior devido às suas práticas ambientais, sociais, económicas.

Na medição do vértice social já existe a preocupação com saúde dos empregados. Uma empresa que apresente um bom resultado a nível da saúde mental dos seus colaboradores, apresenta uma avaliação positivamente diferenciadora, face aos seus concorrentes, tornando-a mais atrativa e competitiva. A maximização do impacto positivo de um investimento desta natureza só é possível com enquadramento legislativo e regulatório, e a fiscalização da ACT.

Se existem créditos para as empresas com boas práticas de prevenção e mitigação das alterações climáticas, deveriam existir créditos e uma boa avaliação para as empresas que investem na saúde mental dos seus colaboradores, clientes e fornecedores.

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