Gostava de ter férias ilimitadas? Nos Estados Unidos é uma realidade, mas a maioria goza apenas 11 a 12 dias. Por que será?

Nos EUA, as empresas com abordagens mais flexíveis são mais atractivas para potenciais candidatos e chegam a poupar dinheiro em papelada e burocracia. 

 

Segundo um artigo da Bloomberg, uma em cada dez empresas norte-americanas adoptou o modelo de disponibilizar férias ilimitadas. Para os colaboradores é um sonho tornado realidade e para a empresa são pelo menos quatro as vantagens.

 

Recrutamento e retenção

Uma política de férias ilimitadas torna o empregador mais atraente para os colaboradores, actuais e potenciais. «Isso significa que a empresa se preocupa com o bem-estar e mostra que confia nos colaboradores», diz Michelle Hay, directora global de Pessoas da Sedgwick. Principalmente em empresas que tenham a fama de sobrecarregar os seus colaboradores, permite-lhes tirarem dias de descanso quando precisam.

Além de ser valorizado nos inquéritos aos colaboradores, é um benefício que a maioria das empresas pode disponibilizar e bastante apelativo para os recrutadores, pois evita negociações sobre períodos de férias.

 

Poupança de custos

Se num contrato normal um colaborador nos Estados Unidos acumula 20 dias férias por ano e deixar a empresa depois de desfrutar apenas cinco, a empresa tem de pagar ao funcionário os dias restantes. Multiplicando isso por milhões de colaboradores e, a qualquer momento, as empresas vêem-se com grandes quantidades de dólares e dias de férias por pagar. Nos Estados Unidos, planos de férias ilimitadas evitam esses pagamentos. «Isso reduz as despesas. As empresas não precisam pagar as férias que não foram gozadas», diz Michelle Hay.

 

Menos problemas administrativos

O controlo do tempo de férias acumulado requer uma manutenção de registos constantemente actualizada por parte dos Recursos Humanos e do departamento de Contabilidade. «Geralmente, no caso dos executivos um assistente envia as informações para alguém dos Recursos Humanos e depois para alguém da Contabilidade», revela Erika Duncan, cofundadora da People on Point, uma consultora de Recursos Humanos. Embora muitas empresas americanas tenham este processo automatizado, os colaboradores ainda precisam de registar os seus dias e, é claro, surgem imensas dúvidas, como «posso tirar dias de férias que ainda não acumulei?» ou « tenho reuniões online às 9h e às 13h, conta como dia de férias?». Tudo isto consome tempo e recursos. «Representam horas de trabalho perdidas e um aumento de cargas de trabalho», diz Erika Duncan.

 

Liberdade executiva

Férias ilimitadas são particularmente comuns nas hierarquias superiores – normalmente líderes cujos cargos exigem que respondam a chamadas e e-mails mesmo nos dias de folga, o que beneficia a empresa.

«Dar 20 dias de folga, significam 20 dias inteiros em que as pessoas não estão disponíveis.», declara Erika Duncan. Férias ilimitadas também estão geralmente alinhadas com outras políticas para executivos, incluindo não controlar os horários de expediente. «Se não controlamos quando entram ao trabalho, por que razão vamos controlar quando saem?»

 

Todos estes benefícios podem toldar a visão de uma empresa para os desafios das férias ilimitadas. A política não funciona, por exemplo, com colaboradores pagos à hora, e pode gerar desigualdades e inconsistência, porque está sempre dependente da aprovação dos líderes.

Além disso, uma política de férias ilimitadas não resolve o eventual burnout dos colaboradores que não tiram dias de descanso suficientes. Neste sistema, um colaborador que esteja ausente pode não conseguir desligar, porque está preocupado que um colega que está no escritório possa receber ganhar pontos numa promoção.

De acordo com uma pesquisa recente da consultora Namely, os colaboradores americanos com férias ilimitadas gozam aproximadamente 11 a 12 dias, e atribui esses números baixos a «incertezas criadas pela pandemia global, indicadores económicos e agitação política». Para combater as desvantagens no equilíbrio entre vida profissional e pessoal, alguns empregadores que oferecem férias ilimitadas estabeleceram um requisito mínimo de duas semanas de férias por ano, de acordo com a Namely. Independentemente da política adoptada, diz Michelle Hay, «os empregadores preocupados com o bem-estar e com a retenção dos seus colaboradores incentivam o gozo de folgas remuneradas, pois dá-lhes a oportunidade de descansar e fazer um reset».

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