Hoje é o Dia Mundial da Voz. Saiba como usá-la para maior credibilidade na liderança

Imagine que é um recrutador e está perante três candidatos com potencial e experiências semelhantes. Ao ouvi-los falar, logo nos primeiros segundos, já captou informações implícitas sobre a idade, o género, a nacionalidade, o local de nascimento, o estatuto social, a saúde geral e o grau de competência.  Inconscientemente, já tem uma ideia formada sobre qual deles é o mais apto a ocupar o lugar. Ainda não sabe é explicar.

Por Inês Moura – Coach Vocal e autora do Livro “O Poder Secreto da Voz” e do Podcast “Your Voice Matters”

 

A cada instante, o seu cérebro capta uma fotografia sobre: devo ou não confiar naquela pessoa? Pode ameaçar o meu bem-estar? Acredito nela? É competente? E, parte desses fatores, deve-se à voz.

Factores como o ritmo, volume, tom e dicção têm um enorme impacto em como a pessoa é percepcionada pelos outros a nível inconsciente. Quer queiramos, quer não, a voz tem um papel decisivo na impressão que se gera de outra pessoa.

Uma voz mais grave, bem colocada e pausada está associada a competência e confiança. Isso explica que mulheres, cujas vozes não correspondiam a este padrão enfrentaram um desafio quando começaram a trabalhar em campos tipicamente dominados por homens, como negócios e política.

Muitas das críticas às vozes das mulheres têm a ver com a forma como as pessoas conceituam a liderança. Os homens, afinal, dominaram o discurso público desde que o gravamos. Durante quase dois milénios as mulheres não tiveram presença no campo da oratória.

A nossa cultura herdou o conceito greco-romano de discurso público onde uma voz grave indicava coragem e uma voz aguda representava juventude, inexperiência e até fraqueza.

Nos locais de trabalho as mulheres ainda são mais propensas a serem interrompidas e criticadas por expressarem emoção, pelo que as opiniões são descartadas e as realizações são negligenciadas.

Falar demasiado forte ou fraco, ter uma voz estridente ou irritante, voz rouca ou trémula são os principais problemas apontados por mulheres em cargos de liderança, e que mais lhes retiram credibilidade. Também o hábito vocal de subir o tom de voz subir no final de uma frase parecendo uma pergunta pode dar a impressão de dúvida e insegurança.

Não é difícil imaginar o quanto a voz pode ser importante para passar a mensagem certa. Basta que esteja mais trémula ou o discurso seja hesitante para deixar aqueles que têm um menor foco de atenção à deriva nos primeiros minutos de conversa. Mas saber controlar estas características é possível e importante.

Principalmente com o teletrabalho, sucessivos telefonemas e videoconferências, muitas pessoas aperceberam-se do impacto do seu tom de voz. Uma simples chamada pode transmitir uma mensagem de maior imaturidade, nervosismo ou simplesmente, pela sua monotonia, fazer com que a audiência desligue da sua mensagem.

Tanto os homens como as mulheres devem utilizar todo o potencial da sua voz natural e, através do treino, melhorar os aspetos que prejudicam a eficácia da mensagem.

Conseguir falar de forma a captar e manter a atenção do público, transmitir mais confiança e credibilidade na comunicação, melhorar a clareza da dicção, são aspetos que todos podemos dominar para vencer os estereótipos e, acima de tudo, fazermo-nos ouvir.

 

 

 

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