Igualdade de género: mais do que números, acções

Assinalamos, em Março, o Mês da Mulher e multiplicam-se, invariavelmente, os debates sobre o tema da desigualdade de género. Ao mesmo tempo que assistimos a um rol de acções e iniciativas – mais ou menos nobres, mais ou menos impactantes – para celebrar a Mulher, não podemos esquecer que, ainda no mês passado, mais de 1500 empresas nacionais foram notificadas pela ACT por registarem diferenças salariais entre homens e mulheres.

Por André Ribeiro Pires, chief Operating officer da Multipessoal

A dimensão do emprego é uma daquelas em que o desfasamento entre géneros continua a ser mais notório. Embora já tenhamos percorrido um importante caminho, há questões culturais subjacentes que continuam a sobrepor-se e a condicionar fortemente a evolução para um cenário mais equitativo.

A associação natural de determinadas funções a homens ou a mulheres é um dos reflexos desta realidade. No sector das limpezas, por exemplo, continua a verificar-se que existem muito poucos candidatos do sexo masculino; por outro lado, para funções que requeiram maior esforço físico, as candidatas do sexo feminino continuam, em muitos casos, a partir em desvantagem.

Outra manifestação desta base de desigualdade cultural, que é incontornável e possivelmente uma das mais preocupantes, é o facto de muitas organizações ainda questionarem a capacidade das mulheres desempenharem as suas funções com o mesmo nível de sucesso, conjugando o seu papel profissional com o papel de mãe, por exemplo. Ao mesmo tempo que se mantém a crença de que as mulheres são naturalmente a força motriz na vida familiar e doméstica, não são criadas ou retrabalhadas estruturas para que possa haver um equilíbrio nas expectativas que sobre elas recaem.

Ora, como dizia, a base do problema é cultural, mas, quando me refiro a cultura, além da dimensão social, não posso deixar de me focar na dimensão organizacional. Acredito que as empresas podem ter um papel determinante na transição para uma sociedade mais justa e equitativa. Mais do que trabalhar para cumprirem quotas impostas pela Lei Laboral, as empresas devem ver este caminho rumo à igualdade de géneros como um desafio e uma missão.

Uma abordagem mais proactiva deve ser vista não só como uma responsabilidade, mas também como uma oportunidade. As novas gerações começam a desconstruir as noções de papel de género e a olhar para este tema de outra forma. Os jovens profissionais que vão entrando no mercado de trabalho são mais assertivos e exigentes nos seus valores e recusam-se a fechar os olhos à injustiça e à desigualdade. Estes jovens esperam mais e melhor por parte das organizações e das lideranças.

Olhar para a desigualdade de género no emprego sob a lente de cumprir os requisitos mínimos é, por isso, contraproducente e até mesmo perigoso. As empresas têm a capacidade de gerar mudança e encontram-se, mais do que nunca, no contexto certo para fazê-lo. Assumindo que ainda existe um longo caminho a percorrer, estou optimista de que o presente em que vivemos vai moldar de forma positiva e definitiva o futuro, desde que todos estejamos alinhados nesta missão.

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