Igualdade de género nas TIC – uma estrada sem fim?

Maio é o Mês Europeu da Diversidade. A este propósito, eram variadíssimas as perspectivas de que poderia partir para este artigo, mas escolhi debruçar-me sobre um tema que me é próximo, sem prejuízo de tantos outros de igual importância e relevo: a representação das mulheres no sector das TIC.

Por Daniela Ventura, Talent Acquisition Specialist, Decode

Dados da Eurostat indicam que, em 2018, as mulheres representavam apenas 17% dos estudantes das TIC – sendo que, em Portugal, a média era bastante inferior, com apenas 12% -, e que em matéria de empregabilidade, em 2021, as mulheres representavam apenas 19,1% dos profissionais do sector. Já um relatório realizado pela Portuguese Women in Tech mostra-nos que 10% das mulheres do sector são as únicas representantes do género na sua equipa, e que 78% ouviu, pelo menos uma vez, alguma “piada” ou observação sexista no seu local de trabalho.

Mas como se explica esta sub-representação? Por terem que estudar/trabalhar num ambiente que foi, historicamente, e ainda é, predominantemente masculino? Pelos videojogos e equipamentos electrónicos continuarem, erradamente, a estar maioritariamente associados a este género? Pela necessidade de actualização tecnológica incompatível com uma vida familiar em que a mulher ainda é a responsável pela maior parte das tarefas domésticas? Ou, ainda, pelo estigma de que todas as pessoas com uma formação em tecnologias de informação têm que ser programadores de software? Talvez por todas estas razões?

Para além de tudo isto, aos dias de hoje, ainda nos deparamos com empresas que acham que, por terem na sua estrutura um processo de recrutamento & seleção e uma política de desenvolvimento de carreira assentes na meritocracia, não têm que se debruçar sobre esta temática. Ignoram que a pertinência do tema não se deve exclusivamente à necessidade de haver oportunidades iguais no recrutamento & seleção das empresas, mas também – até porque as duas andam de mãos dadas – à necessidade prévia de combater o estigma de que esta é uma área de estudo/profissional na qual apenas os elementos do género masculino são competentes.

Felizmente, começam a existir cada vez mais projetos e iniciativas no nosso país que vêm tentar contrariar esta tendência, como o Projeto Engenheiras Por Um Dia, a já citada Portuguese Women in Tech, a Associação Portuguesa Para A Diversidade E Inclusão, entre outras. Os objectivos passam por:

I) Quebrar mentalidades e dar a conhecer às jovens a possibilidade das TIC para que, mais tarde, possam fazer uma escolha consciente do seu percurso académico e profissional;

II) Formação em liderança e empreendedorismo, para as que já nele trabalham;

III) Difundir entre as empresas do setor um ambiente laboral mais saudável.

Mas também nós, enquanto profissionais e/ou empresas do sector, temos a responsabilidade cooperar e agir como promotores de igualdade e equidade. Mostrar às gerações mais novas que se trata de uma possibilidade de saída profissional a par com outras áreas de estudo; fazer sentir, às que tiveram a audácia de contrariar as probabilidades e enveredar pela área, que serão integradas, respeitadas pelos pares, e lhes será dada a possibilidade de progressão de carreira; e, acima de tudo, construir um futuro para a sociedade e para o sector das TIC em que não precisemos mais de continuar a debater este tema.

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