Inteligência artificial é instrumento importantíssimo se regulado, defende presidente da PCS
A presidente da direcção da Plataforma para o Crescimento Sustentável (PCS) afirmou à Lusa que a inteligência artificial (IA) é «um instrumento importantíssimo» que pode contribuir muito para melhorar a vida desde que «devidamente regulado».
O II Encontro Sustentável da PCS aconteceu na segunda-feira com a conferência DemocracI.A., que se realiza em Serralves, no Porto, tendo como tema a inteligência artificial, com especial destaque nas áreas ética, social e política.
«A IA é um instrumento importantíssimo que, devidamente regulado, em muito pode contribuir para melhorar a nossa vida», afirma Ivone Rocha, presidente da direcção do movimento cívico de cidadãos criado em 2011 sob a forma de associação e que se assume «como um instrumento de reflexão e intervenção cívica, na área das políticas públicas, com vista a contribuir para a construção de um novo modelo de desenvolvimento – económico, social e ambientalmente sustentável».
As potencialidades da IA «são imensas e disruptivas, com um papel determinante na gestão de recursos, prevenção e mitigação climática», diz, quando questionada sobre o papel da inteligência artificial na sustentabilidade.
Melhor gestão do território, de recursos, como a água, onde se inclui a agricultura de precisão, entre outras áreas, são alguns dos benefícios elencados pela responsável.
«Segundo um estudo publicado pela PWC, sobre o impacto da IA na criação de emprego e no crescimento da económica, vem referido que representa um potencial de aumentar em 15,7 triliões de dólares à economia global», acrescenta, apontando que «os exemplos já existem, a IA está a ser usada pela própria ONU», como será abordado na conferência.
«Tudo isto só é, porém, possível, se soubermos regular e comportar as suas necessidades energéticas, a mudança terá sempre que ser humana», sublinha.
Agora, «precisamos de repensar a ciência, a sociedade e a economia, precisamos de novas políticas públicas e novas formas de regulação» e «a IA só é possível com o envolvimento de todos e com a incorporação destes temas estruturantes no discurso político», defende Ivone Rocha.
A conferência, que tem «mais de 200 inscritos, com intervenções científicas, sociais, económicas e políticas de elevado nível», conta com as participações de Virginia Dignum, Mário Figueiredo, Afonso Seixas Nunes, Jorge Moreira da Silva, António Vitorino, Miguel Poiares Maduro e Pedro Magalhães.
Como deve ser a IA controlada, pode a IA mais avançada ser controlada, como pode a IA ajudar a construir um mundo, social, económica e ambientalmente mais sustentável ou melhorar o funcionamento do Estado e contribuir para o aprofundar da democracia são alguns dos temas em debate na conferência.
«Nenhuma tecnologia é neutra de impactos e, ao longo da história, desde a invenção da escrita, até aos dias de hoje, passando pela revolução industrial, a nossa forma organizacional adaptou-se» e «estas adaptações comportam custos que, olhando para a história do século XX, em alguns casos, comportaram devastadoras interrupções da própria democracia», recorda a responsável.
O risco de uma «incontrolável manipulação de informação é uma ameaça real», alerta, pelo que é «absolutamente essencial repensar e fortalecer as instituições regulatórias, dotando-as de capacidade e independência».
Agora, «se não tivermos instituições democratas que controlem e atestem a transparência e imparcialidade dos modelos de IA, estaremos a reduzir os atos regulatórios a meros textos de boas intenções», considera.
«Temos que saber estabelecer regras e princípios globais, suficientemente flexíveis de forma a incorporar a mutação tecnológica, mas implacáveis no seu controlo, no combate à informação enganosa, de forma a garantir a monitorização do desenvolvimento dos modelos de IA, num quadro de intervenção global», defende Ivone Rocha.