«Transformar vidas através da música»
Joana Carneiro, directora musical da Orquestra Sinfónica de Berkeley, falou com a revista Human Resources Portugal, na Iª Conferência em Março de 2011, e explicou o que significa transformar a vida de outras pessoas através da música.
HR: É a primeira maestrina portuguesa. É uma profissão recente?
Joana Carneiro: Com muita ternura, têm-me atribuído o facto de ser a primeira maestrina portuguesa, mas penso não ser verdade, outras existiram antes de mim, desde há décadas. É, de facto uma profissão relativamente recente, a figura do Maestro como profissão independente de outras ligadas à música, tem cerca de 200 anos.
HR: Aos 8 anos disse que queria dirigir uma orquestra. Aos 18 dirigiu pela primeira vez. Aos 33 anos foi galardoada com o prestigiado prémio Helen M. Thompson, atribuído pela Liga de Orquestras Americanas. Hoje é a directora musical da Orquestra Sinfónica de Berkeley. A que se deve o seu sucesso?
Joana Carneiro: Tenho tido muita sorte, no sentido de me terem sido dadas grandes oportunidades para desenvolver a minha alma artística. Começou com os meus Pais, que sempre privilegiaram a educação pelas artes, especificamente através da música, assim como vivermos essa arte em Família; as extraordinárias escolas de música que temos em Portugal e onde estudei; os bons professores que tive em Portugal, EUA e Londres; as bolsas de estudo; as orquestras portuguesas, nomeadamente a Orquestra Gulbenkian que tanto tem investido em mim; e outras oportunidades incríveis que com dificuldade poderei descrever em tão pouco tempo. E, evidentemente, uma alegria enorme da minha parte a fazer o que faço.
HR: Ser maestrina implica um trabalho cirúrgico de liderança e gestão de talentos, e de construção de equipa com a intenção de produzir a melhor obra de arte musical. Pode contar-nos a sua experiência, a este nível?
Joana Carneiro: Creio que a liderança em música surge, em primeiro lugar, de um conhecimento profundo da música, do conteúdo; mas certamente a forma é fundamental, nomeadamente como se comunica (verbal e não verbalmente) a intenção musical e nas decisões que se tomam para o bem comum de um grupo grande e heterogéneo de pessoas. No que diz respeito a aspectos não musicais, trata-se de bom senso e de um sentido muito sério de responsabilidade e respeito pela instituição para a qual trabalhamos.
HR: Como define a sua equipa? E como a desenvolve?
Joana Carneiro: Muito criativa, mas com uma ordem profunda. É assim, uma orquestra.
HR: Há a preocupação de juntar pessoas de vários credos. A música é também um instrumento de intervenção e construção social?
Joana Carneiro: Certamente, basta analisar o exemplo da Orquestra que Daniel Barenboim e Edward Said criaram, a West-Eastern Divan Orchestra, um apelo à paz (indirectamente pelo ecumenismo) e pela construção de um bem comum, independentemente do nosso credo ou passado.
HR: O que é “chegar ao topo” no seu meio?
Joana Carneiro: É transformar a vida das outras pessoas através da música.
HR: Disse que o facto de ser mulher nunca a atrapalhou a vingar na área, já com a questão da idade foi diferente.
Joana Carneiro: Atrapalhou-me. Os Maestros aprendem à frente de um grupo grande de músicos e sobretudo no início existe uma disparidade enorme entre a capacidade técnica e afectiva de ambos.
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