João Magalhães, CEO Code For All: De escola de programação a empresa de talento tecnológico, em que «a tecnologia é de todos para todos»
Oito anos depois, a startup tecnológica de impacto social Academia de Código passa a ser Code For All_. A escola nacional de programação reforça assim o seu posicionamento na área da formação e requalificação de profissionais tech, com o propósito de reconversão ou especialização das carreiras de acordo com as necessidades do mercado. A Human Resources Portugal conversou, em exclusivo, com o CEO João Magalhães.
Por Tânia Reis
Além da nova designação e imagem, a empresa actualizou a sua oferta formativa às necessidades do mercado tecnológico. Aos cursos de especialização para profissionais de tecnologia, juntam-se agora cursos de iniciação para profissionais de qualquer área e também para empresas que precisam de dotar os seus colaboradores de novas competências. O novo campus em Lisboa e a modalidade assíncrona e online são outras das novidades.
Que balanço faz de oito anos de Academia de Código?
Desde a criação da Academia de Código, enquanto startup tecnológica de impacto social, em 2015, que temos mantido o nosso compromisso com o propósito de mudar vidas através de uma oferta educativa personalizada e focada na programação, que é uma área crescente do mercado tecnológico.
Envolvendo o próprio legado que a Code for All_ também já tem enquanto grupo, foram mais de 2000 pessoas que puderam mudar de vida, desde entrarem nos nossos bootcamps e cursos para requalificar as suas carreiras, voltar a dar valor às suas capacidades e encontrar novos projectos de futuro. Este impacto foi conseguido tanto nacionalmente, ao levarmos os nossos cursos além de Lisboa e Porto, a sítios como o Fundão, Aveiro, Açores e até mesmo internacionalmente, aos Países Baixos e Cabo Verde. Este é um caminho que nos orgulha e que queremos continuar a fazer, sendo que é a nossa essência de educar para causar mudanças na sociedade.
Porquê esta nova marca e identidade?
Nestes oito anos crescemos de várias maneiras, fomos acompanhando as necessidades do mercado tecnológico e fazendo uma adequação às mesmas através da expansão da nossa oferta formativa. Para além de trabalharmos com os alunos dos nossos bootcamps e cursos, passámos também para esta lógica de trabalhar com empresas que precisam de ter acesso a talento ou a dotar os seus colaboradores de novas competências.
Esta nova dimensão exigiu repensarmos o nosso posicionamento de comunicação para algo mais abrangente e mais alinhado com a nossa actividade, pelo que assumimos esta nova frente enquanto Code for All_, uma empresa que fomenta talento tecnológico, e que acredita que a tecnologia é de todos para todos.
Que missão têm definida?
A nossa missão continua a ser causar impacto social através da formação e reconversão de carreiras na área da tecnologia. A maior diferença é que agora queremos construir este impacto de uma forma mais abrangente, com mais formatos educativos, trabalhando com profissionais de qualquer área e também com empresas, cujas actividades vejam benefícios no talento tecnológico que formamos. Queremos chegar a mais pessoas, empresas e comunidades.
Qual o significado por trás do novo nome?
Code for All_ apela à forma como disponibilizamos o conhecimento do mundo da programação numa lógica universal, ou seja, para todos os profissionais interessados em ter competências tecnológicas, independentemente do seu background. A Academia de Código sempre foi uma escola de programação para todos, que se empenhou para desconstruir dogmas e preconceitos sobre as carreiras tecnológicas, portanto este novo nome revela um maior alinhamento com estes valores e a necessidade que sentimos de estes serem para todos, sem barreiras.
Quais as novidades desta escola de programação?
Para além de termos uma nova imagem e nome, temos também um novo campus em Lisboa que deverá acomodar até 360 alunos por ano.
Estamos também a expandir a nossa oferta formativa que não só contempla cursos de formação intensiva, mas também cursos para iniciantes e mais soluções de especialização para profissionais já inseridos no mercado tecnológico. A disponibilização destes cursos, também na modalidade assíncrona e online, é outra vertente em que também vamos apostar nesta nova fase.
A oferta formativa também mudou. Porquê e em que sentido?
A mudança da nossa oferta formativa parte do nosso contacto activo com as diferentes direcções em que o sector tecnológico se movimenta. Por conseguirmos detectar aquilo que está em falta nesta área, conseguimos pensar e conceber várias soluções formativas. Desde bootcamps focados no resklling e upskilling de profissionais para a área da programação, até a cursos complementares em tendências crescentes no mercado, como a cibersegurança, que podem ajudar especialistas a aprofundar as capacidades que já têm, e, inclusive, cursos para iniciantes no mundo tecnológico de vários segmentos etários, de crianças a adultos.
Que objectivos definiram para os próximos anos?
Queremos, sobretudo, continuar a expandir-nos a nível da nossa oferta formativa para conseguirmos requalificar e especializar cada vez mais pessoas para o mercado tecnológico. Neste sentido, estamos a desenvolver cursos de iniciação para que os indivíduos possam ter uma primeira experiência com a tecnologia em diferentes vertentes. Queremos também disponibilizar mais cursos de especialização a profissionais que já estão na indústria, mas que pretendem continuar a aprender para progredir na sua carreira, valorizando as suas capacidades de acordo com as tendências que vão surgindo.
Adicionalmente, temos também a ambição de conseguir chegar a mais pessoas a um nível internacional e expandir a nossa missão de impacto social também nesta esfera fora de Portugal, contribuindo para o enriquecimento do talento tecnológico existente numa escala global.
Muitos gestores dizem que Portugal tem muito talento, no entanto também se ouve muito falar de escassez de profissionais. Como analisa a situação?
Para abordar esta questão, primeiro, temos de fazer uma separação entre o que é apenas talento e o que é talento tecnológico. Nós acreditamos que em Portugal há muito talento e a nossa aposta na requalificação existe neste sentido, de transformar o talento das pessoas em talento tecnológico, fornecendo tanto as hard skills, como as soft skills que necessitam para progredir nesta área de actividade.
A escassez de talento encontra-se na falta de pessoas que tenham, de facto, estas competências para assumir funções dentro do mercado tecnológico. Esta lacuna entre a oferta reduzida neste sector em específico e a crescente procura por parte das empresas tem sido comprovada, por exemplo, pela nossa taxa de empregabilidade de 96% que demonstra como o talento tecnológico acaba por ser valorizado no mundo do trabalho. Esta procura também tem sido acentuada com as empresas que têm vindo para Portugal abrir centros tecnológicos e que procuram talento cá. Há ainda muitas empresas com actividades diferentes que precisam de profissionais com formação tecnológica em programação para enfrentarem os desafios do seu dia-a-dia.
A importância das hard skills é inquestionável. E no que diz respeito às soft skills, damos-lhes a devida atenção? Quais considera mais importantes trabalhar e desenvolver?
Enquanto escola, e também empresa, que aposta na educação com o objectivo da empregabilidade, sempre tivemos a preocupação de trabalhar as hard skills e as soft skills com os nossos alunos, simultaneamente. Temos essa filosofia, pois sabemos que isto é o que o mercado de trabalho acaba por exigir — profissionais que sejam bons a nível técnico, mas também que disponham de um conjunto de soft skills necessárias para saber navegar nas empresas.
De forma mais concreta, procuramos dotar os nossos alunos de ferramentas para terem resiliência na resolução de problemas complexos, sem ceder à frustração que por vezes pode surgir no quotidiano profissional, sobretudo numa área desafiante como a programação. Trabalhamos, igualmente, ao nível de fortalecer a própria confiança que as pessoas têm em si e no que executam, motivando-as a perceber que também elas têm a capacidade de encontrar soluções para problemáticas que outros profissionais mais experienciados na área tecnológica já conseguem resolver mais naturalmente.
Outro aspecto que também procuramos fomentar é a empatia, por considerarmos que este é um valor fundamental, não só no mundo do trabalho, para lidar com colegas, clientes e parceiros no dia-a-dia, conjugando diferentes responsabilidades, como na vida em sociedade. Finalmente, promovemos também o desenvolvimento das competências de comunicação dos nossos alunos, que são essenciais no mundo da tecnologia, sendo que tantas vezes o trabalho nesta área resulta de conseguir interpretar e criar o que os outros comunicam connosco.
O sector tech inclui as consideradas profissões com futuro e elevada empregabilidade. As empresas precisam de profissionais qualificados, mas também se nota uma maior aposta dos trabalhadores nesta área. Como antevê este cenário no futuro mais próximo?
A nossa aposta de desenvolvimento vai também neste sentido. Observamos que cada vez mais as pessoas e empresas têm um grande interesse na requalificação para esta área.
Do ponto de vista das empresas, por exemplo, é mais vantajoso proporcionarem oportunidades de reskilling ou upskilling ao talento que já possuem, para que os seus profissionais possam aplicar as suas novas competências nas necessidades organizacionais de transformação digital. Numa perspectiva financeira esta será a solução ideal, e depois é também de considerar a componente humana de dar a oportunidade aos seus profissionais que já estão inseridos no meio organizacional, de continuarem a progredir e a construir a sua carreira com diferentes experiências.
Na perspectiva individual, as pessoas cada vez mais apostam na área tecnológica também através das empresas. Neste momento, estamos a desenvolver um piloto com uma empresa de grande dimensão nacional de requalificação de parte da sua força de trabalho, e também estamos a desenvolver ferramentas que permitem às organizações identificar que profissionais dentro dos seus quadros beneficiariam com esta revalorização de capacidades, para permanecerem dentro dos meios onde já estão com carreiras mais promissoras.
Adicionalmente, detectamos uma aposta nesta vertente até por parte das entidades governamentais, por exemplo, recentemente com a iniciativa do IEFP e do cheque para formação digital. Todos estes intervenientes convergem na actualização das capacidades das pessoas para a tecnologia, entendendo que os empregos do futuro assim o vão exigir.