João Rodrigues, Aubay: «Confiar, delegar e descentralizar são crenças e comportamentos fundamentais para que as empresas prosperem no mundo actual»

Desde o início da sua actividade que o foco da Aubay Portugal teve como bússola o bem-estar e o crescimento dos seus colaboradores. Com a pandemia, essa preocupação cresceu e a empresa implementou uma série de medidas para demonstrar que são as suas pessoas que permanecem no centro da mudança e da inovação.

 

Por Sandra M. Pinto

 

A multinacional de origem francesa Aubay está em Portugal desde Janeiro de 2007. Hoje, a empresa tem cerca de 960 colaboradores, número que a nível global cresce para mais de seis mil. Presente em sete mercados europeus – França, Portugal, Espanha, Bélgica, Itália, Luxemburgo e Reino Unido –, a Aubay «marca a diferença pela forma humana e inovadora como trata as suas pessoas». Quem o garante é João Rodrigues, director de People & Culture da empresa, que concretiza que isso mesmo é notório e evidente em todas as auscultações feitas aos stakeholders da empresa. «A forma como cuidamos e gerimos as nossas pessoas é próxima, preocupada, aberta, transparente e acolhedora, e foi exactamente isso que, numa recente acção de employee branding no Linkedin, os nossos Aubilous – forma carinhosa como tratamos os nossos colaboradores – referiram como sendo algumas das coisas que “adoram” na Aubay.»

Tratando-se de uma empresa prestadora de serviços, «as pessoas são o nosso maior e mais valioso activo, pelo que apostar, disseminar e defender a nossa cultura é investirmos directamente no nosso negócio», acredita o responsável. «A forma como tratamos e cuidamos das nossas pessoas faz-se sentir na forma como o serviço é prestado ao cliente, criando relações duradouras, assentes em pilares como o respeito, a abertura, a disponibilidade, a excelência e a qualidade de resposta.»

Outro pilar orientador da actividade da Aubay é a inovação. Assim, a base de toda a comunicação, interna e externa, é o lema “Ser Inovador é Humano”. «No início de 2019, percebemos que era sempre o nosso lado humano aquele que mais sobressaía, bem como a forma inovadora com que sempre tentamos estar no mercado», conta João Rodrigues. «A inovação revelou-se pela forma como a empresa se relaciona com os seus stakeholders, sempre prestáveis, preocupados, disponíveis e à procura de soluções simples e práticas com vista ao bem comum, o que destaca o lado humano.» Através deste lema procuram demonstrar que, «mesmo no mundo das tecnologias da informação, é o factor humano que maior diferença continua a fazer».

 

A importância da formação
Para que esta inovação seja possível, a aposta na formação é essencial, desempenhando um papel crucial na Aubay Portugal. «É uma alavanca para o desenvolvimento individual dos colaboradores e, por sua vez, uma alavanca para o negócio», defende o director de People & Culture. «Enquanto consultora especializada na gestão, implementação, desenvolvimento e manutenção de sistemas de informação, é nas pessoas que reside o know-how essencial para responder às necessidades dos clientes, constituindo a formação uma das nossas maiores bandeiras de employer branding, e um dos principais dos factores de atracção, motivação e retenção de talento.»

Para dar uma forma mais consistente e acentuar esta aposta no desenvolvimento das pessoas da organização, em 2018 é criada a Academia Aubay, tendo já sido ministradas mais de 40 mil horas de formação. Nem a pandemia veio enfraquecer este propósito, obrigando no entanto a alguma adaptação. «A pandemia obrigou-nos a transformar toda a nossa oferta formativa para o formato digital, visto que anteriormente ocorria maioritariamente em formato presencial, o que era um potenciador incrível da interacção entre colegas, pois as idas ao escritório eram uma constante e algo relevante, principalmente para os colaboradores que passam a maioria do tempo nos escritórios dos clientes na execução de projectos», reconhece João Rodrigues. Mas defende que, «apesar de se perder a interacção social, as formações online são uma excelente ferramenta para aproximar as pessoas à empresa e aos colegas».

Destacando que a oferta abrange «várias dimensões formativas que apoiam o desenvolvimento das competências técnicas, comportamentais e linguísticas dos colaboradores, acelerando dessa forma o desenvolvimento de talento», o responsável tem consciência de que «nada disto é possível sem um acompanhamento de carreira próximo por parte das lideranças». E esta teve igualmente que se «reinventar, transformando os pontos de situação mais alargados e espaçados no tempo por pontos de situação constantes, com vista não só às necessidades de desenvolvimento como também à percepção de bem-estar e motivação das nossas pessoas».

 

Teletrabalho, bem-estar e feedback
Não foi só a formação que a pandemia veio afectar. Dado o risco para a saúde, a Aubay Portugal colocou perto de 100% dos seus colaboradores em teletrabalho, de forma permanente. João Rodrigues revela que «foi feito um trabalho enorme em várias frentes, e com vários intervenientes», pois têm vários colaboradores que trabalham a maior parte do tempo nas instalações dos clientes, «o que fez com que os processos de tomada de decisão não respeitassem todos os mesmos timings, mas ainda assim o balanço foi muito positivo, havendo uma mobilização da maioria dos decisores em privilegiar a segurança das pessoas e em adaptar o trabalho às novas circunstâncias, com recurso ao teletrabalho», congratula-se.

Para a Aubay, o foco continua a ser conseguir que as suas pessoas se mantenham em segurança e a produzir. «Vemos isso também como uma responsabilidade. Socialmente, temos o dever de prestar a nossa homenagem ficando em casa e tentando dessa forma contribuir para a redução do risco de contágio, mas ainda assim mantendo a tão preciosa criação de valor económico.»

Com a intenção de contribuir para a manutenção da normalidade e demonstrar a preocupação com o bem-estar físico, social e psicológico dos seus colaboradores, em Abril de 2020 nasceu o conceito Aubay Lifestyle. «Semanalmente, disponibiliza um leque alargado de sugestões, iniciativas e informações com vista à ocupação de tempos livres», esclarece o responsável, para quem este tipo de acções «transmite uma mensagem de verdadeira preocupação com os colaboradores e com a sua qualidade de vida, demonstrando a vontade de fazer parte do seu dia-a-dia».

A Aubay também não abdicou de manter, mesmo em teletrabalho, um conjunto alargado de outras acções e benefícios, como presentes de aniversário, apoio à compra de material escolar para os filhos, as parcerias exclusivas, os serviços destinados ao bem-estar físico, social e psicológico, entre muitos outros. «Para fechar com chave de ouro o ano de 2020, decidimos atribuir a todos os colaboradores, uma verba financeira de 100 euros para fazer face a eventuais despesas relacionadas com a actividade de teletrabalho», acrescenta João Rodrigues.

Porque «agradecer e reconhecer fazem parte da cultura Aubay», o director de People & Culture afirma: «Foi graças a cada um dos nossos colaboradores que fomos capazes de sair vencedores de um ano tão desafiante, e são eles que todos os dias geram confiança nos nossos clientes para nos darem oportunidade de realizar o nosso trabalho.»

Para além do reconhecimento, também saber ouvir/ escutar é assumido como fundamental na Aubay Portugal. É essa «competência-chave» que usam como base para estar sempre em transformação. Através de iniciativas como o AubayTIsfaction, que faz parte do conceito Feedback 360º, trimestralmente a empresa ausculta as suas pessoas sobre vários temas e o seu grau de satisfação em relação aos mesmos, fazendo sempre follow-up de tudo o que é dito. «Estes surveys não são anónimos e permitem que o follow-up seja individualizado, sendo esse trabalho feito directamente pelo manager de cada colaborador», revela João Rodrigues. «Esta acção visa contribuir para uma relação de confiança, pautada pela comunicação e feedback, que acreditamos ser uma alavanca fantástica para o progresso e crescimento das pessoas e das organizações.»

A criação do modelo de acompanhamento de carreira, o Ciclo de Feedback & Coffee, é mais uma evidência da importância que a empresa atribui ao feedback formal e informal. O responsável explica: «Está ainda numa fase embrionária – piloto – no terreno, sendo que o “go live” oficial ocorrerá em Abril de 2021. Em traços gerais, o Feedback & Coffee engloba o ciclo de gestão de desempenho e modelo de progressão de carreira da organização. Ao representar a cultura da Aubay, está centrado nas pessoas, fomentando a proximidade e o feedback constante, o reconhecimento e meritocracia, e o acesso a oportunidades de desenvolvimento e crescimento individual.»

Continua: «Na prática, é composto por vários momentos de interacção entre o colaborador e o seu manager, tem um carácter anual e segue uma periodicidade regular, com reuniões de feedback de três em três meses e pontos de situação frequentes, para que o colaborador saiba a todo o momento o que é esperado de si, onde se encontra, como é visto pela liderança e o que precisa de fazer para se desenvolver individualmente e progredir na sua carreira.» Este modelo visa cruzar um conjunto de competências-chave com categorias profissionais e benefícios associados às mesmas, «bem como outros conceitos de Gestão de Pessoas que consideramos cruciais para atrair, mapear, desenvolver, motivar e reter talento na Aubay», partilha o responsável.

 

O futuro pós-pandemia
Sobre o actual momento que o mundo atravessa, e o futuro, João Rodrigues acredita que «o período pandémico trouxe vários desafios pessoais e profissionais, mas também muitos ensinamentos, permitindo eliminar ou minimizar alguns estigmas. Desde logo o teletrabalho, que, acredito, fará parte do futuro de forma bem mais permanente que até então, pois veio estimular a necessidade de aumentar os níveis de confiança nos outros, a percepção de interdependência entre pessoas e áreas, a mais-valia do ambiente físico de trabalho, mas também do respeito pelo tempo que devemos destinar à nossa vida pessoal. Confiar, delegar e descentralizar são crenças e comportamentos fundamentais para que as empresas prosperem no mundo actual e, principalmente, junto das novas gerações», afirma.

O director de People & Culture não tem dúvidas de que esta pandemia deixará marcas na sociedade, sendo cada vez mais valorizado o factor “tempo” e a necessidade de se aproveitar a vida em plenitude, «o tempo que temos para nós, para a nossa vida pessoal e para nos dedicarmos a quem e ao que mais gostamos».

Em relação ao mercado de trabalho, e nomeadamente em determinadas áreas onde a oferta é maior que a procura, como é o caso das Tecnologias de Informação, o responsável reitera que «o tempo será cada vez mais uma moeda de troca, havendo pessoas a trocar mais tempo livre por menos dinheiro, ou a negociar mais dias de férias, horários flexíveis, trabalhar apenas quatro dias por semana, entre outros, sendo que, apesar de parecer longínquo, esta “caixa de pandora” está mais perto do que nunca de ser aberta e nunca mais se fechar».

Por outro lado, João Rodrigues defende também que ter uma marca de empregador forte é crucial para quem pretende atrair, motivar e reter pessoas. «Vivemos cada vez mais expostos, e a forma como tratamos e cuidamos das nossas pessoas é visível a todo o mercado, pelo que comunicar com verdade é crucial para que as estratégias de gestão de pessoas possam ser exequíveis e eficazes.»

Outro dos ensinamentos, «talvez um dos maiores, que a pandemia nos trouxe é que as empresas devem conseguir mediar entre estratégias de longo prazo e tácticas operacionais de curto-médio prazo, que lhes permitam ser totalmente flexíveis e, com isso, fazer face aos desafios inesperados que possam surgir». João Rodrigues conclui que «nunca como agora, ter uma liderança forte, uma equipa confiável, uma cultura enraizada, sustentabilidade de negócio, ética e solidez financeira foram tão cruciais para a subsistência das empresas. Mas, mais uma vez, foram, são e serão as pessoas o centro de toda e qualquer mudança.»

 

Este artigo foi publicado na edição de Março (nº.123) da Human Resources, nas bancas.

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