João Santos: «Optimizar a comunicação das autarquias é contribuir para salvar mais vidas»
«A pandemia evidenciou o processo de digitalização interna e externa das autarquias e está a contribuir para a criação de infraestruturas de comunicação altamente proactivas e céleres, que vão servir para outros flagelos que já assolam ou podem atingir Portugal», afirma João Santos, director de Operações e especialista em comunicação política e public affairs do YoungNetwork Group, entidade responsável pela realização do primeiro estudo sobre o impacto da COVID-19 nas autarquias portuguesas.
Por Sandra M. Pinto
Analisar a forma como comunicaram, como se adaptaram à nova realidade no dia-a-dia e de que forma perspectivam o futuro pós-pandemia, foi o foco do estudo cujos resultados foram revelados esta semana. «O estudo COVID-19: The Day After Survey Autarquias explorou também a implementação do modelo de teletrabalho em resposta à necessidade de isolamento, revelando uma forte adesão, de 74%, e que os municípios se sentem preparados para esta mudança – 78,9%», destacou João Santos, em entrevista à Human Resources.
O que se destaca na acção das autarquias durante o período de confinamento, de acordo com o vosso estudo?
Cerca de 60% das autarquias considerou ter passado a comunicar mais em Estado de Emergência, o que evidencia o papel preponderante que tiveram e estão a ter na salvaguarda da vida dos munícipes.
Por outro lado, e, um excelente exemplo da sua adaptabilidade ao confinamento generalizado, passaram a usar muito mais os canais digitais (92,2%), sendo as interacções com os cidadãos muito assentes no email (84%) e no facebook (64%). Todavia e, acreditamos nós, entre a população sénior e mais ruralizada e, assim, com menos acesso à Internet, houve também uma interacção elevada por telefone (76%).
De referir ainda que 95% das autarquias indicou estar a preparar medidas para suprimir as novas dificuldades causadas pelo surto, a implementar num momento pós COVID-19, sendo que 66% admite, naturalmente, por toda a incerteza actual, estarem ainda longe de concluídas.
Como se adaptaram as autarquias à nova realidade?
Colocámos essa questão directamente às autarquias e 71% afirmou ter-se adaptado bem.
Numa perspectiva global do estudo, consideramos que se adaptaram de forma exemplar, de tal forma que acreditamos que essa adaptação esteja a contribuir positivamente para a imagem que Portugal tem revelado na gestão da pandemia. Não só porque passaram a comunicar mais com os seus munícipes, mas também por uma adesão elevada ao teletrabalho (74%) e à transição rápida de acções críticas, como as reuniões de câmara para formatos digitais, com 79% a afirmar que foi bem aceite esta nova metodologia.
Já tinham estas práticas de alguma forma implementadas ou houve uma aceleração da digitalização?
Ao contrário do que o cidadão comum tem tendência a achar de uma administração pública (AP), vista como envelhecida e tecnologicamente datada, 74% das autarquias revelou já ter estado em teletrabalho, sendo que uma percentagem mais alta – 78,9% – considerou estar preparada para o fazer. A Administração Pública não ficou nada atrás do sector privado.
Mais do que dizer que é uma aceleração da digitalização, é comprovar que o processo de digitalização já vinha sendo feito nos últimos anos na AP, o que permitiu efectivar rapidamente o teletrabalho e a maior utilização de ferramentas digitais no dia-a-dia. Um exemplo concreto, 65,7% dos municípios já tinha soluções para a realização de reuniões de câmara e assembleias municipais em formato digital, mas ainda não usava, e outros 20% já tinham e já usavam.
E houve quebras na produtividade?
De todas as autarquias respondentes, 62,2% considerou estar a atingir resultados iguais e 15,6% até melhores que antes da COVID-19, portanto o teletrabalho revelou resultar positivamente na maioria.
Qual o impacto da pandemia nas suas estratégias e orçamentos? Tiveram de fazer alterações e ajustamentos?
O nosso país, pelas tradições que tem, com muitas festas e romarias, e pela importância do Turismo, tem muitas actividades de exterior com ajuntamentos e a COVID-19 alterou significativamente essa realidade. 72,2% das autarquias confirmou mesmo que cancelou os seus eventos, sem data prevista.
Como seria expectável, 88% das autarquias considerou que a pandemia afectou as suas rubricas orçamentais, sendo que 75% dessas confirmaram haver uma transferência directa desse investimento para campanhas ou medidas de apoios a diversos sectores.
O que mudou na comunicação com os munícipes? É ela agora mais directa?
Por inerência das características da pandemia, que obrigou ao isolamento e à redução de contacto presencial, a comunicação dos munícipes com as câmaras municipais assentou sobretudo nos canais digitais e no telefone.
Como funciona agora a comunicação entre instituições públicas? Essa proximidade é importante?
As próprias instituições públicas migraram os seus diálogos entre si para os canais digitais. 55% das autarquias indicou que existe muita comunicação quer por plataformas digitais quer por via telefónica.
O diálogo permanente e a proximidade entre Governo Central, autoridades de saúde pública e as Autarquias é crítica e essencial para salvar vidas humanas a cada segundo que combatemos a pandemia. Neste momento, pode existir uma nova informação a cada hora ou minuto.
Como olham as autarquias para o futuro?
Pelo papel fundamental que já executam no dia-a-dia dos munícipes, mas agora ainda mais exacerbado pela pandemia, quase todas as autarquias (95%) está proactivamente a pensar em soluções para os problemas existentes no pós-COVID 19. 29% afirma até que já as tem prontas para serem implementadas.
É nosso entender que esta pandemia evidenciou o processo de digitalização interna e externa das autarquias e está a contribuir para a criação de infraestruturas de comunicação altamente proactivas e céleres, que vão servir para outros flagelos que já assolam (ex.: incêndios) ou podem atingir Portugal. Optimizar a comunicação das autarquias é contribuir para salvar mais vidas.