Lições da sétima arte para a Gestão de Pessoas. Blackberry: As pessoas (sempre) acima dos números

“BlackBerry”, filme de 2023, de Matt Johnson e com Jay Baruchel e Glenn Howerton nos principais papéis, é baseado na história da empresa criadora da marca de telemóveis e revelador de como a “gestão dos Recursos Humanos” de um negócio, nos seus múltiplos aspectos, é essencial para o êxito de qualquer projecto.

 

Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media

 

Tudo começa em 1996, quando dois jovens criativos na área da tecnologia, Douglas Fregin e Mike Lazaridis, desenvolvem um “telefone portátil” com teclas tácteis e conseguem que um ambicioso investidor, Jim Balsillie, aposte na empresa deles, que, por sua vez, estava com falta de liquidez e sem financiamento. Jim fica como CEO e, no seu papel de “chefe”, atrai mais investimento para que os dois criativos contratem colaboradores e desenvolvam os seus protótipos.

Criam um espaço de trabalho descontraído, onde as ideias se desenvolvem num ambiente de total confiança e boa disposição. Quando o BlackBerry é apresentado a outros parceiros das telecomunicações, origina sinergias que tornam a comercialização deste telemóvel num sucesso de vendas. O próprio presidente americano Barack Obama usa um Black- Berry, mas, de repente, tudo se precipita numa queda abismal.

São muitos os factores desta falência, e o filme é bastante claro ao revelar cada aspecto. No entanto, as relações humanas são o ponto-chave. A dada altura, Jim, o CEO, contrata um empresário para “gerir” os colaboradores, aumentando a pressão nos criativos e engenheiros, para que “produzissem mais e mais depressa”, destruindo o ambiente de confiança e entreajuda.

Além disso, numa reunião onde se discutem novas estratégias, é rude e ofensivo para com Douglas, um dos fundadores da empresa, fazendo com que este se demita e venda por um bom preço as acções que detinha. Mike aceita continuar com o CEO, mas daí para diante nada será o mesmo, até porque surge um novo concorrente.

De facto, em 2007, Steve Jobs apresenta o portátil iPhone da Apple, com “touchscreen”, sem teclas, e Jim não antecipa que o público irá preferir essa funcionalidade, revelando uma fatal falta de visão de mercado. Aliás, ao ver Steve Jobs a falar em público, até goza com ele, sem compreender que, tanto na forma de falar, como no conteúdo do produto, o criador do iPhone mostrou-se inovador e (positivamente) arrasador.

A situação piora com a crescente falta de motivação e de empenho em estar atento ao mercado. Com efeito, Jim tentar entrar nos “negócios desportivos”, desleixando a dedicação à área das telecomunicações. Assim, ao querer resolver à pressa um problema concreto, aceita subcontratar uma empresa chinesa para fabricar umas peças que virão com um pormenor defeituoso. As vendas começam a cair a pique, as dívidas crescem, e o CEO não hesita em conseguir financiamentos menos transparentes do ponto de vista legal. Só quer é solucionar o imediato.

A empresa fica insustentável: também o ambiente laboral entre os colaboradores vai-se tornando opressor, asfixiante e incapaz de estimular novas ideias. O declínio precipita-se por fim, quando as entidades judiciais e financeiras detectam as ilegalidades cometidas. Jim escapa da prisão, mas a empresa não terá salvação.

O filme é de um realismo sobre a “natureza humana” das empresas que merece ser analisado com calma. A questão não são “os números”, mas “as pessoas”!

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Setembro (nº. 177) da Human Resources.

Disponível nas bancas e online, na versão em papel e na versão digital.

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