Lições da sétima arte para a Gestão de Pessoas. Fazer “O bem”: Uma meta ao alcance de todos nós

A mais recente longa-metragem do realizador Clint Eastwood, “Juror #2”, conta com Nicholas Hoult e Toni Collette nos principais papéis e foca-se num dilema moral.

 

Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media

 

O realizador Clint Eastwood tem abordado questões essenciais à vida de cada um. As suas personagens são “pessoas de carne e osso”, que vivem situações com as quais o público se sente interpelado. E se fosse eu?

Neste caso, tudo começa quando uma rapariga aparece morta, no fundo de um declive, à beira da estrada. É encontrada de manhã, mas tinha sido vista a discutir com o namorado num bar, muito perto desse local, na noite anterior. A discussão fora tão forte que outras pessoas até filmaram tudo no telemóvel, incluindo a saída da rapariga para a rua, seguida pelo namorado, e a troca de palavras à chuva, no meio de uma tempestade. Ela arrancara depois a pé pela estrada fora e ele de carro atrás dela. As imagens nada mais registaram, mas logo se tornou no principal suspeito. Foi preso e levado a julgamento.

O tribunal forma um júri para julgar o caso. O membro número dois é um jovem rapaz, casado e à espera do nascimento do seu filho para breve. Desde o início, procura demonstrar que o suspeito talvez não seja o culpado, algo evidente para todos. Aqui, a narrativa apresenta algumas semelhanças com um filme de 1957, “Doze homens em fúria”, de Sydney Lumet, onde um elemento de um júri vai convencendo todos a constatarem a inocência de um suspeito considerado culpado à partida.

No entanto, há uma diferença: neste filme, percebe-se rapidamente que o jurado n.º 2 é que matara a rapariga, embora sem o querer. De facto, ele também estivera no bar. Atravessava uma fase difícil na vida e, ao entrar no carro, conduzindo à chuva, não se dera conta que batera numa pessoa. Ao parar para comprovar o que acontecera, pensa que chocara contra algum animal. Seguira o seu caminho de consciência tranquila, mas agora já não está bem consigo mesmo. Não se quer incriminar, mas quer salvar o suspeito.

Entra em cena, então, outro protagonista decisivo: a advogada de acusação. É uma mulher que está em campanha para ser eleita como procuradora judicial. Aparece como defensora das mulheres, lutando por uma sociedade mais justa. Ganha a eleição e vence também este caso, pois o suspeito acaba por ser condenado a prisão perpétua. Tudo estaria bem, mas ela sente que algo não “bate certo”. Tem dúvidas e isso atormenta a sua consciência. Com efeito, durante o processo, outro jurado levantara uma pista que poderia provar a inocência do suspeito, mas ela não lhe dera importância. Agora, resolve investigar a sério. Decide falar com cada testemunha a sós, indo ao encontro de cada interveniente no caso. Traça uma estratégia e segue-a com persistência. É uma lição que vale a pena aplicarmos!

Deste modo, descobre que o jurado n.º 2 fora o culpado. Fala com ele e ouve as “justificações” com que pacificara a sua consciência. Ela hesita entre o “deixar andar” ou tentar resolver uma situação injusta. Sabe que isso iria “mexer” na vida das pessoas que consideravam tudo encerrado e com a sua própria reputação, pois iria reconhecer que errara. Mas é uma profissional competente, honesta e quer estar em paz consigo própria, sentindo-se realizada por fazer o que é correcto. Por isso, confronta de novo o rapaz e retoma o caso.

Fazer “o bem” ao seu alcance é a sua meta e é também um objectivo que vale a pena seguirmos no nosso percurso vital.

 

Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro (nº. 170) da Human Resources, nas bancas.

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