Lições da sétima arte para a Gestão de Pessoas. Sing Sang: A liberdade de se deixar ajudar

Candidato aos Óscares deste ano, este filme com impacto baseia-se numa história verídica passada na célebre prisão de “Sing Sing” (que dá nome à longa-metragem de Greg Kwedar), para onde são enviados os condenados a penas longas, por crimes graves. Quem lá se encontra possui um passado difícil e um futuro que não se apresenta risonho.

 

Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media

 

A narrativa centra-se no projecto “Reabilitação pela Arte”, que procura abrir horizontes aos detidos e dar-lhes novas perspectivas, um sentido para a vida, tanto nos dias de cárcere como depois, já em liberdade. Neste caso, “Sing Sing” segue um grupo de prisioneiros que recriam peças de teatro, desde a escrita e a produção de cenários até à actuação perante a comunidade prisional. Esta actividade permite que cada elemento encontre situações, personagens e vivências inspiradoras e exemplares para as suas próprias experiências quotidianas.

Não se trata apenas de decorar um texto e depois recitá-lo, mas representar (tornar presente, vivo) algo que foi assimilado, compreendido e que merece ser transmitido. É tomar consciência de que não se está só, de que outros já passaram por uma experiência semelhante e deixaram pistas para que, agora, seja outro a decidir o que fazer. É um sair de si mesmo para outras realidades, abrindo portas a factos reais, verdadeiros e belos, que podem elevar a pessoa a dar o melhor de si.

O filme foca-se num detido negro (interpretado por Colman Domingo), que desde criança gosta de teatro. Na prisão, é ele próprio a escrever as peças, depois encenadas pelos outros participantes do grupo. Numa ocasião, é preciso encontrar mais um actor. Ele e outro colega da sua confiança vão falar com outros detidos potencialmente interessados. Escolhem um cuja primeira impressão deixara dúvidas, pois parece ser conflituoso. Ainda assim, arriscam. O novo actor começa a criar problemas nos ensaios, assumindo um papel de liderança na peça, contrariando o “chefe” do grupo. No entanto, o protagonista aceita essa “desfeita”, apoiando-se no seu amigo de confiança.

A cena avança… Tudo se altera quando esse amigo morre de repente, sem pré-aviso sobre a gravidade da doença, o que o leva a questionar o valor dessa amizade. Além disso, o nosso “herói” enfrenta outro choque quando sabe que a prova da sua inocência, que permitiria a sua libertação, é mais uma vez considerada inválida. Então, entra em desespero, abandona o grupo de teatro, deixa a peça e todo o projecto fica num impasse.

A questão só se resolve quando o colega recém-admitido fala a sós com ele. Não obstante a frontalidade anterior, não fora fácil superar a situação. A franqueza e a proximidade provaram que genuinamente se interessavam um pelo outro e queriam o melhor. Os desabafos sinceros levaram-nos a compreender o que realmente “estava em jogo” na vida de cada um. Nessas conversas sobressaem as fraquezas e também os bons conselhos, que só resultam quando o “novo” colega recorre ao “teatro”, “puxando o outro para cima”, inspirando-o com argumentos a partir de algo que muito diz ao amigo.

Então, ele deixa-se ajudar, e esta é a grande lição para todos! Retomam-se os trabalhos e a peça é apresentada com êxito. Sobretudo, o que conta é o rumo que vão dando à sua vida, um dia após outro. Por fim, alcançam a liberdade.

A amizade forjada num período tão difícil irá dar-lhes uma boa saída para o futuro. Não tinham apenas representado papéis, mas vivido as suas vidas com escolhas que foram esculpindo um melhor carácter para os novos desafios a enfrentar.

 

Este artigo foi publicado na edição de Março (nº. 171) da Human Resources, nas bancas.

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