Lições de liderança, “ensinadas” pelo tango

O que os líderes podem aprender com bailarinos habituados a desempenhar papéis de líder e de follower.

 

Por Maria Tavares Leal, Leadership Consulting manager da Boyden Portugal 

 

Citando um ditado comum: “São necessários dois para dançar tango”, também é preciso apenas um follower para que surja um líder.

O que os observadores vêem como algo que representa profunda conexão, reciprocidade e elegância requer muitas horas de prática dos bailarinos, e é baseado num conjunto de acordos bem estabelecidos que ajudam líderes e followers a desempenhar os seus papéis.

1. Distância
É o follower que define a distância pela qual pretende ser conduzido(a). Respeitar a distância pode ser particularmente desafiador para o líder, especialmente com diversos seguidores, porque cada um deles terá necessidades específicas no que diz respeito à distância com que se sente confortável. A liderança situacional está muito alinhada com esse aspecto.

Lição: Não imponha a sua maneira de liderar, mais ou menos perto. Invista tempo e dedicação a perceber de que os seus colaboradores precisam. Assim, ganhará a sua confiança.

 

2. Antecipar
Antecipar os próprios movimentos e, simultaneamente, os do follower é difícil, mas torna-se natural quando praticado regularmente. Para o seguidor, ser capaz de ouvir activamente o líder e deixar-se levar suavemente também é algo que leva tempo e confiança em si e no outro.

Lição: “Colocar-se no lugar da outra pessoa” é essencial para poder antecipar. Além disso, não faça suposições sobre o comportamento dos outros, as suposições bloqueiam a sua capacidade de empatizar.

 

3. Convidar, não empurrar
Nenhum follower quer ser empurrado pela pista de dança fora. Os sinais que o líder dá ao follower são convites para certos movimentos, mas o follower está sempre em posição de rejeitar e não corroborar com determinadas maneiras de dançar.

Lição: A maneira como pede é tão importante quanto o conteúdo, mesmo com um alto nível de confiança.

 

4. Paciência e desafio
Há um ponto de equilíbrio que suporta o fluir de movimentos que varia de par para par, e pode ser necessário muita prática para descobri-lo, mas, uma vez descoberto, tudo se torna mais fácil, mesmo movimentos ou sequências desconhecidas.

Lição: Coloque o foco na relação que pretende criar enquanto líder, mais do que na solução para um determinado problema. Esta atitude será sempre um bom guia para o estilo de liderança a ser adoptado.

 

5. Interpretar a música
Frequentemente, os bailarinos ficam entusiasmados com um novo movimen- to, uma nova sequência, mas esquecem a razão pela qual estão a dançar, o aspecto que dá origem a qualquer dança – a música.

Lição: O porquê é importante, estar fortemente conectado com o que nos rodeia também. E não se esqueça que as inovações podem ser úteis, não porque são inovações, mas porque estão alinhadas com o contexto e com as necessidades.

 

6. Dar feedback sobre sentimentos
Quando os bailarinos dão feedback honesto um ao outro, focado no que foi mais e menos agradável, bem como no que poderia ser diferente para tornar a dança ainda mais enriquecedora para ambos, a expressão artística vai para além do domínio técnico e atinge o sublime na natureza humana.

Lição: Quer os mostremos ou não, os sentimentos moldam a forma como somos, assim como a forma como nos comportamos, e são válidos pelo que são e não pelas suas causas, por isso abrace-os e considere-os.

Finalmente, tanto no tango como nas organizações, quando nos focamos no que estamos a criar em conjunto, e não tanto em nós mesmos, nem nos outros, atingimos algo maior do que nós…

A prática leva à perfeição. Shall we dance?

 

Este artigo foi publicado na edição de Abril da Human Resources. 

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