Lisa Silva licenciou-se em Química mas agora trabalha em TI, mudança radical que «não trocaria por nada»

Licenciada em Química, com um mestrado em Gestão e Conservação da Natureza e uma pós graduação em Detecção Remota. Lisa Silva iniciou o seu percurso na área das Ciências, mas o bichinho da programação falou mais alto e, hoje, é Software developer na Critical Software. A Human Resources Portugal conversou com ela sobre o seu percurso e mudança de carreira.

Por Tânia Reis

 

Quando concorreu ao ensino superior, o factor empregabilidade pesou na escolha por Ciências. Lisa Silva ainda leccionou Química na Universidade dos Açores, mas descobriu que a análise e tratamento de dados era o que a fazia feliz. Participou no programa de requalificação SWitCH da Porto Tech Hub, onde aprendeu e evoluiu como nunca. Hoje, tem noção de que o desafio da mudança de vida radical deu frutos, que não trocaria por nada.

 

É licenciada em Química. O que a levou a enveredar pelo caminho das Ciências?

Na altura, com 18 anos, não sabia bem o que o que queria e, hoje, faria a análise de outro modo ao concorrer ao ensino superior. Estive indecisa entre humanidades e ciências, psicologia e química e o factor da baixa empregabilidade teve um papel muito importante nessa decisão na altura.

 

Actualmente desempenha funções na área da programação. Conte sucintamente o seu percurso até à data.

O primeiro contacto que tive com programação foi ainda em química, na altura com o Fortran, mas acabei por me especializar em química física. No entanto, apesar de gostar de química, não gostava de estar dentro de um laboratório e percebi que era mais feliz no computador a tratar os dados e relatórios do que a fazer as experiências em si.

Decidi mudar de área e vi uma pós-graduação em Detecção Remota no Departamento de Matemática da FCUP, onde poderia tratar os dados de satélite via matlab. Aprendi a programar em C e aí decidi enveredar por essa área e cheguei a entrar em doutoramento, que não terminei.

Apesar de estar a fazer um trabalho que gostava, tive dois filhos, mudei de cidade e de momento não estava a trabalhar. Foi nesta altura que ouvi falar no Switch, um programa de requalificação da Porto Tech Hub e fiquei imediatamente interessada, porque me permitiria dar as bases para fazer aquilo que gostava, com um estágio no fim. Tive várias dúvidas, como a de voltar a estudar, desta vez já com 37 anos e novos encargos, mas o tempo ia passar de qualquer das formas e era a altura certa para arriscar. Era a primeira edição do programa, por isso não sabia o que esperar, mas tinha muita vontade de aprender coisas novas.

 

Por que decidiu mudar de percurso? O factor empregabilidade e perspectivas de futuro pesaram?

Sim, ter dois filhos e estar sem trabalho são factores muito importantes para a vida de qualquer pessoa e, apesar de ter medo que não corresse bem, sabia que a área tecnológica estava a evoluir muito e rapidamente. Como já tinha o interesse na programação e sabia que o tipo de trabalho me agradava, pensei que tinha oportunidade de ser boa nesta área numa grande empresa como a Critical Software.

 

Que desafios enfrentou nessa transição? E como os superou?

Tive vários desafios nesta transição, muitas dúvidas e incertezas quanto ao futuro, porque se não corresse da forma que eu queria podia ter consequências na minha vida pessoal e profissional. Aqui o que contou mais foi o facto de ter um bom sistema de apoio e conseguir ter um estudo muito autónomo, o que me ajudou a ultrapassar a maior parte das situações e adversidades.

 

Quais as competências humanas que considera, hoje, mais importantes e necessárias para um profissional da área da programação?

Ser team player, ter boa capacidade de raciocínio lógico e ser perseverante, pois nem tudo tem uma solução imediata e é necessário saber reavaliar o nosso próprio método de abordagem às questões.

Esta é uma área em mudança constante, logo requer uma permanente disponibilidade para a aprendizagem contínua e curiosidade infinita.

 

A escassez de talento geral afecta especialmente o sector das TI, nomeadamente no que diz respeito à falta de mulheres. Concorda com esta afirmação? Porquê?

Há falta de profissionais porque o sector está a crescer a uma grande velocidade. Esta área era predominantemente masculina, mas as áreas não têm género e no meu dia-a-dia quando vou trabalhar não me lembro das desigualdades ao nível do género porque, felizmente, não as sinto na minha situação actual na Critical Software. Sou engenheira de software e faço o meu trabalho com os meus colegas, sem sentir, felizmente, diferenças nesse âmbito.

Na Critical Software, a inclusão e diversidade são muito importantes, por isso há um esforço na empresa para que haja cada vez mais um equilíbrio. Há de facto menos mulheres, mas isso está a mudar – à sua velocidade e numa boa direcção.

 

Se pudesse dar um conselho a jovens raparigas que estão a considerar uma carreira STEM, o que lhes diria?

Diria que STEM não tem género, portanto se é o que querem não desistam. Podem aparecer obstáculos ou ideias preconcebidas acerca das vossas capacidades, mas em software o trabalho fala por si. Hoje, há empresas como a Critical Software que apostam não só em mulheres que trabalham em tecnologia, como pessoas que querem mudar de vida e têm interesse em apostar na área da programação, por isso a altura de arriscar e estudar é agora.

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