Lisboa é a 75.ª cidade mais inteligente do mundo

O Institute for Management Development (IMD), em colaboração com a Universidade de Tecnologia e Design de Singapura (SUTD), apresentou a segunda edição do Smart City Index (SCI), ranking global de cidades inteligentes que este ano é liderado por Singapura, Helsínquia e Zurique.

 

O ranking avalia 109 cidades de todo o mundo à luz de dados económicos e tecnológicos e das perceções dos cidadãos sobre o alcance e impacto das políticas que visam tornar a sua cidade inteligente. Entre Abril e Maio de 2020, centenas de pessoas responderam a um inquérito sobre o desenvolvimento estrutural e tecnológico da sua cidade em cinco áreas chave: saúde e segurança, mobilidade, atividades, oportunidades e administração.

Enquanto única cidade portuguesa comtemplada, Lisboa surge no 75.º lugar da lista, subindo uma posição em relação a 2019. Entre os indicadores analisados, o acesso à habitação a custo acessível figura no topo das preocupações dos lisboetas, sendo identificado por 77.3% dos inquiridos como uma área de intervenção prioritária.

Já 81,4% dos inquiridos consideram que é um problema encontrar casa cuja renda seja equivalente a um máximo de 30% do salário mensal.

Para além da habitação, os factores que mais pesam na avaliação da cidade e que os lisboetas identificam como áreas de intervenção prioritária são o trânsito (55.6%), a corrupção (44.8%), os transportes públicos (41.2%), a poluição do ar (41.2%), o desemprego (40.8%) e os serviços de saúde (38.3%).

Entre os aspectos mais satisfatórios estão a oferta cultural da cidade e os espaços verdes (para 81% e 66.9% dos inquiridos, respectivamente). No plano tecnológico, as possibilidades de comprar bilhetes para atividades culturais online e de aceder a anúncios de trabalho pela internet são os maiores factores de satisfação para os inquiridos (83.7% e 77.4%, respectivamente). 71.1% reconhece ter havido uma melhoria no tempo de processamento de documentos oficiais online e 71% considera que a velocidade e fiabilidade da internet corresponde às suas necessidades.

O estudo avalia também as atitudes dos lisboetas em relação ao recurso à tecnologia no dia-a-dia e mostra que 62% dos inquiridos estariam dispostos a conceder dados pessoais para melhorar os problemas de trânsito e 72.4% estariam de acordo com a utilização de tecnologias de reconhecimento facial para baixar a criminalidade, enquanto 66% afirmam que a disponibilização de informação online aumentou a confiança nas autoridades. Por outro lado, 63,9% das transações quotidianas já não são feitas em dinheiro.

 

Resultados globais e o papel da tecnologia na era COVID-19
Singapura ocupa a primeira posição do ranking, seguida por Helsínquia, Zurique, Auckland, Oslo, Copenhaga, Genebra, Taipé, Amsterdão e Nova Iorque, num ano em que muitas cidades europeias perdem terreno e em que as chamadas ‘segundas cidades’ têm uma relevância crescente. A título de exemplo, Bilbau tem melhores resultados que Madrid e Birmingham sobe 12 posições, enquanto Londres ascende apenas cinco.

«Se pensarmos nos Estados Unidos da América, na China, na Austrália ou em Taiwan, as segundas cidades tornaram-se mais importantes, em alguns casos até mais do que a capital», afirma Arturo Bris. O Professor do IMD, que encabeçou a investigação enquanto director do Centro de Competitividade Mundial do instituto de gestão suíço, recomenda a promoção da competitividade destas cidades para o desenvolvimento económico dos países.

O Smart City Index 2020 demonstra também que as cidades têm abordagens muito distintas no que toca à tecnologia, com consequências na gestão local da crise provocada pela COVID-19. «As cidades inteligentes no topo dos rankings parecem lidar melhor com os desafios inesperados desta pandemia devastadora», afirma o professor Heng Chee Chan, presidente do Lee Kuan Yew Centre for Innovative Cities da SUTD.

«Não podemos ignorar o impacto da COVID-19», diz Arturo Bris. «As cidades com melhor tecnologia gerem melhor a pandemia», afirma, explicando que ser uma smart city pode não ser em si a solução para o problema mas que a tecnologia ajuda.

Fica também claro que a crise pandémica irá muito provavelmente ampliar as desigualdades entre quem está e quem não está conectado, um aspeto que irá captar a atenção de analistas e governos tanto a nível central como local.

 

Realidades económicas na base dos resultados
As cidades analisadas neste ranking têm à partida infraestruturas muito diferentes. Por esta razão, em cidades que já são muito desenvolvidas, como Zurique e Amsterdão, a tecnologia tem um papel mais marginal, porque pouco há a melhorar.

As maiores mudanças no ranking de ano para ano acontecem em cidades menos desenvolvidas, já que há maior margem para que os cidadãos identifiquem grandes melhorias. Nestas cidades, a tecnologia pode fazer uma grande diferença e por isso a sua implementação deve ser uma prioridade.

O estudo realça que smart city é um termo relativo. «Cidades diferentes usam a tecnologia para propósitos diferentes. Por exemplo prevenir tráfego, no caso de Paris, ou melhorar a participação cívica através da oferta de Wi-Fi grátis em Ramallah», diz Arturo Bris.

E mesmo dentro de um país podem existir grandes diferenças entre cidades, devido a disparidades económicas, sociais e políticas. «Os países já não são unidades económicas», aponta Arturo Bris. Câmaras municipais e autoridades locais têm o poder para melhorar o bem-estar dos cidadãos através da implementação de tecnologia.

No contexto do Smart City Index 2020, uma cidade inteligente é um local urbano que aplica tecnologia para melhorar os benefícios e diminuir as desvantagens da urbanização para os seus cidadãos. Este é o primeiro ranking a medir a percepção dos cidadãos em termos do impacto da tecnologia na sua qualidade de vida.

Ler Mais