Mafalda Garcês, Dashlane: A utopia da felicidade constante no trabalho

Tal como o trabalho afecta a felicidade e a satisfação geral com a vida, também outros aspectos do dia-a-dia, externos ao trabalho, afectam a felicidade laboral.

 

Por Mafalda Garcês, Country leader & People director da Dashlane

 

Parece evidente, mas só recentemente se começou a aceitar de facto que a nossa natureza humana nos impede de compartimentar hermeticamente cada área das nossas vidas, pelo que naturalmente estas se afectam e alimentam entre si.

É fundamental que as empresas percebam esta relação entre vida profissional e pessoal e facultem o apoio e as ferramentas necessárias para que os colaboradores se sintam cuidados; para que sintam confiança, valorização e respeito. Na verdade, estes deveriam ser dados adquiridos, por serem tão basilares. Se não houver confiança e respeito – o que conduz à desvalorização –, como podemos esperar ter um colaborador motivado e que contribui para o sucesso da empresa?

Penso que já ninguém tem dúvidas de que o bem-estar dos colaboradores tem mesmo implicações directas na sua produtividade, rapidez e eficiência. A curto prazo, até se podem extrair bons resultados de alguém que não está feliz, mas os problemas vão surgir eventualmente, a médio e a longo prazo.

Não é de todo realista esperar que toda a gente esteja sempre feliz. Contudo, as empresas devem saber apoiar as pessoas, ajustar expectativas e ser razoáveis. Quando estes elementos estão em equilíbrio, temos não só uma melhor produtividade e qualidade, mas também uma maior lealdade. Não nos podemos esquecer de que a experiência do trabalhador conta muito: no fim de contas, mesmo quando este deixa de colaborar connosco, continua a ser embaixador da nossa marca.

A relação de trabalho é bilateral e, tendencialmente, quanto mais ambas as partes dão, mais recebem em retorno. É por isso que, no meu ponto de vista, os líderes deviam sentir-se directamente responsáveis por equipas que não estão motivadas e que, portanto, não correspondem aos objectivos. Quando uma equipa falha, a sua chefia falha também – nem que seja porque não sinalizou situações individuais que precisam de ser trabalhadas por forma a alcançar os objectivos pretendidos. Ainda assim, é importante estabelecer limites saudáveis, para que se evitem situações de empatia tóxica.

Por vezes, aqueles que têm o papel de liderança dentro de uma empresa desvalorizam a importância e a complexidade da sua função em garantir este bem-estar geral. Contudo, da mesma forma que não podemos esperar a felicidade constante dos colaboradores, não é justo exigir perfeição aos líderes. Estes também são trabalhadores e, se sentirem que não há quem cuide deles, podem ter mais dificuldade em sentir que lhes cumpre o papel de cuidar das suas equipas.

Noutros casos, pode também não haver a competência certa para lidar com situações mais complicadas, pelo que é de extrema relevância investir na preparação de chefias, para que compreendam o seu papel e estejam preparadas para criar equipas felizes e produtivas.

Não existe felicidade imutável no trabalho e haverá sempre momentos em que factores externos, fora do controlo das empresas, podem impedir que os seus colaboradores sejam felizes. Mas cabe-nos a nós, como líderes, garantir que as pessoas têm tudo o que é necessário para ultrapassar estas fases e para construir relações laborais ainda mais fortes e duradouras.

 

Este artigo foi publicado na edição de Setembro (nº.141)  da Human Resources, nas bancas.

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