Mais de 40% dos portugueses sente-se “desajustado” no mercado de trabalho. Saiba porquê
Cerca de 14% dos trabalhadores em Portugal considera ter classificações académicas excessivas para o trabalho que desenvolve, revela a OCDE, que acrescenta que 41% se sente “desajustado” por não trabalhar na área para a qual estudou.
Pela primeira vez, Portugal participou no “Inquérito às Competências dos Adultos”, que mostra que 41% da população entre os 16 e os 65 anos se sente “desajustada” porque trabalha numa área diferente daquela para a qual mais estudou.
Também são muitos os que dizem ter excesso de qualificações para o trabalho que exercem (14%), segundo o estudo que inquiriu 3160 adultos que representam os cerca de 6,6 milhões de adultos residentes no país.
Os trabalhadores com excesso de qualificações para o cargo acabam por auferir salários 17% mais baixos do que os seus pares com um nível de escolaridade semelhante a trabalhar em empregos ajustados, refere o inquérito realizado entre 2022 e 2023 em 31 países.
Mas também existe o inverso: Cerca de 14% dos trabalhadores admitiu ter poucas classificações académicas para o trabalho que desenvolvem em Portugal, apontando como principais problemas a falta de conhecimentos nas áreas da informática ou software (35%), seguidas de competências organizacionais ou de gestão de projectos (32%).
Em Portugal, existem grandes diferenças de empregabilidade entre pessoas com o mesmo nível de escolaridade, alertam os investigadores, que descobriram que quem tem mais facilidade com questões matemáticas tem, em média, salários 9% mais elevados.
Conhecer as competências da população no que toca a literacia mas também se consegue fazer cálculos matemáticos necessários para o dia-a-dia ou resolver problemas é o principal foco do “Inquérito às Competências dos Adultos”.
Numa escala de zero a 500, Portugal obteve uma média de 235 pontos na literacia, 238 pontos na numeracia e 233 pontos na resolução adaptativa de problemas, ficando sempre muito abaixo da média da OCDE e nos últimos lugares do ranking que compara os 31 países participantes.
Os portugueses revelaram-se apenas melhores do que os chilenos em literacia e numeracia. Já na resolução adaptativa de problemas mostraram ter mais aptidões do que os chilenos, os polacos, os lituanos e os italianos, segundo o estudo.
Os investigadores sublinham que estas três habilidades são fundamentais para conseguir um emprego, melhores salários e manter uma aprendizagem continua.
Num universo que analisa adultos dos 16 aos 65 anos, notam-se diferenças entre os mais novos e os mais velhos, com as pessoas entre os 55 e os 65 anos a demonstrar mais dificuldades nos três domínios quando comparados com os jovens adultos.
Sem grandes surpresas, o estudo mostra que pessoas com mais escolaridade têm melhores desempenhos nas três competências, mas aponta para grandes disparidades de conhecimento entre países: «Na literacia, os adultos com ensino superior em Portugal, por exemplo, obtiveram resultados inferiores aos dos adultos com ensino secundário na Finlândia», lê-se no estudo.
Em Portugal, os homens mostraram ser mais proficientes na numeracia e na resolução adaptativa de problemas, não havendo grandes diferenças de género em literacia.
As pessoas com mais competências mostraram-se mais confiantes e mais disponíveis para ajudar o próximo, assim como manifestaram ter níveis mais altos de saúde e satisfação com a vida.
Por outro lado, «muitos adultos com baixas competências sentem-se desligados dos processos políticos e não têm competências para lidar com informações digitais complexas, o que constitui uma preocupação crescente para as democracias», alerta o relatório divulgado.