Mais de 80% dos portugueses ganha menos do que esperava

De acordo com o estudo «Vidas Aquém», feito pelo The Consumer Intelligence Lab (C-Lab), quatro em cada 10 portugueses (41%) sentem-se aquém do que sonhavam para as suas vidas, por três razões principais: salário inferior ao expe, têm um emprego instável e dependem de ajuda financeira dos familiares,

 

A sensação de estar longe das condições de vida que esperavam alcançar é partilhada por 40% dos portugueses entre os 25 e os 34 anos, mas também por quase metade da geração acima (47%).

«Considera-se ‘aquém’ a pessoa que investiu na sua formação sem ter alcançado, ou tendo perdido, as condições de vida a que se propôs, segundo várias determinantes de lugar social: profissão ou trabalho, rendimento, conforto material, projecto familiar, emancipação dos filhos e autonomia financeira», explica o estudo, feito com base num inquérito feito online a 997 indivíduos com idade igual ou superior a 25 anos.

A maioria (82%) admite que os rendimentos são o principal motivo de frustração. Segue-se a profissão (62%) e a dependência financeira de terceiros(54%). É no mercado de trabalho que este estudo encontra um dos maiores travões de mobilidade social para quem investiu num curso superior. «Os estudos longos, que nas últimas décadas eram um passe garantido para um lugar social superior, expresso em trabalho qualificado e rendimento equivalente, deixaram de o ser», pode ler-se na investigação. Faz também notar que «as qualificações já não são bastantes para garantir emprego e rendimento estável, conduzindo a lugares que estão longe das suas expectativas profissionais e económicas — contratos a termo, rotatividade, baixos salários ou trabalhos distantes da sua área de formação».

A habitação constitui outro grande entrave à mobilidade social. Cerca de dois terços (65%) até gostariam de comprar casa, mas dizem ser difícil fazê-lo. Quase 30% dos jovens temem não conseguir sequer pagar a renda da casa onde vivem e um em cada cinco a viver com os pais receia nunca vir a ter habitação própria.

O ponto de partida desta investigação, explica a coordenadora Clara Cardoso, foi perceber o que aconteceu aos jovens que, no pico da crise, em 2014, o C-Lab designou como «Geração Aquém». «Eram jovens nos seus trintas, altamente qualificados, sem encontrar saída no mercado de trabalho e a adiar os projectos de família. (…) Inicialmente, achámos que a geração que viria a seguir a esta teria um outro paradigma de felicidade, já não ancorado na propriedade, mas numa afirmação pelo imaterial e o conhecimento. Mas as mudanças não acontecem de forma tão abrupta e percebemos, afinal, que tanto eles como os seus pais continuavam com as mesmas expectativas. É como se não conhecessem nenhum outro elevador social».

Só que, «entre os mais novos, sobe o capital educacional mas desce o capital económico». Pelo meio, quem hoje tem entre 50 e 70 anos e que investiu num curso superior para os filhos, «tentando empurrá-los para longe do seu lugar de partida», viu-os evoluir, mas não como esperava. Três em quatro portugueses desta geração dizem-se frustrados com a emancipação dos filhos, porque fica aquém do futuro que tinham projectado.

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