Margarida Cardoso, Tabaqueira/ Philip Morris International: Todas as crises têm lados positivos, a crise de talento não é excepção

Margarida Cardoso, People & Culture, head Europe da Tabaqueira/ Philip Morris International, defende que «todas as crises trazem oportunidades. E a crise de talento não é excepção. Embora trazendo grandes dificuldades para as organizações, traz uma enorme oportunidade, que não deve ser desperdiçada, de as empresas manterem um foco na sua organização e nos elementos que necessitam de assegurar para dar continuidade ao seu negócio».

 

«Os anos 20 têm trazido inúmeros desafios mundiais (de saúde, económicos, geopolíticos), com consequência directa nas pessoas, nas empresas e nas relações do mundo de trabalho. De facto, as novas formas de trabalhar, os novos modelos de liderança, e o foco na experiência dos colaboradores tomaram lugares prioritários na agenda dos gestores, embora o debate já há muito estivesse nas suas secretárias.

Neste inquérito, 49% das respostas apontam para a crença de que agora são os trabalhadores quem têm o poder negocial vis-à-vis as empresas, seja por escassez de pessoas ou por escassez de competências. Talvez por isso, as respostas indiquem também um alinhamento entre as necessidades dos trabalhadores e as áreas de foco reportadas pelas empresas, que procuram minimizar o impacto negativo da inflação e custo de vida, mas fazem também um investimento nos temas relacionados com a flexibilidade e modelos de trabalho, e com o conteúdo das funções, oportunidades de desenvolvimento e de carreira.

Mas a discussão sobre forças de poder poderá não ser a mais proveitosa neste momento, e todas as crises trazem oportunidades. A crise pandémica trouxe uma viragem para dentro e um consequente maior empoderamento das pessoas nas suas reflexões e decisões individuais. Aproximou trabalhadores, lideranças e membros de gestão, pondo as pessoas (consumidores, clientes e trabalhadores) efectivamente no centro de todas as empresas. E a crise de talento não é excepção.

Embora trazendo grandes dificuldades para as organizações, traz uma enorme oportunidade, que não deve ser desperdiçada, de as empresas manterem um foco na sua organização e nos elementos que necessitam de assegurar para dar continuidade ao seu negócio, numa perspectiva de longo prazo: o desenvolvimento das competências das suas pessoas, a contínua capacidade de atracção e fidelização de talento, a adopção e gestão de diferentes modelos de trabalho, sem esquecer o desenvolvimento efectivo das lideranças.

É efectivamente tempo de olharem para dentro e perceberem como vão assegurar as competências de futuro, e talvez o mais crítico fosse começar exactamente por estas competências de liderança. Com efeito, é curioso o facto de 77% das respostas considerarem que os seus trabalhadores têm as competências necessárias para enfrentar os desafios que se avizinham e, por outro lado, referirem que a baixa produtividade em Portugal se deve a má gestão de tempo dos profissionais (“cultura de trabalho”), processos e métodos ineficientes, e chefias e liderança não adequados. Embora estatisticamente não relacionadas, intuitivamente é difícil não pensar na relação entre estas duas questões. Será que temos mesmo os modelos de organização e liderança necessários?

 

Este testemunho foi publicado na edição de Fevereiro (nº.146) da Human Resources, no âmbito da XLV edição do seu Barómetro.

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