Maria Duarte Bello: «Para os novos desafios, são precisos novos líderes»

Nesta época de agitação de crenças e de questionamento de modelos que davam segurança às nossas convicções, quem sabe se convirá às organizações deixar de pensar unicamente no económico e começar a pensar mais seriamente no social, ou seja, nas suas pessoas.

 

Por Maria Duarte Bello, CEO da MDB – Coaching e Gestão de Imagem

 

O contexto em que se desenvolvem as organizações não tem precedentes. Este tempo caracteriza-se pela escassez de trabalhadores altamente qualificados e pela mudança de valores nos novos profissionais – desejam ter experiências intensas, não respeitam as más lideranças, querem mais e melhores aprendizagens, trabalham para viver em vez de viver para trabalhar e são agora quem selecciona a empresa e não o contrário. O sentido de pertença deixou de ter “sentido” e tudo isto faz com que sejamos obrigados a redefinir muitas funções, mas especialmente a forma como dirigimos e gerimos as nossas pessoas.

Assim sendo, a necessidade de desenvolver líderes nunca foi tão valiosa, porque além das razões anteriormente assinaladas, vivemos numa sociedade de abundância segmentada em que há muito de tudo, mas em que existe uma grande falta de talento directivo, que seja capaz de combinar os desafios de uma incontestada globalização ou de mudanças geopolíticas e sociais, como por exemplo, o envelhecimento da população, a emigração ou o papel da mulher líder. Acrescento o avanço das novas tecnologias e a mais que provável necessária cultura empreendedora, que assente sobre a inovação e a retenção do único elemento competitivo dificilmente replicável: as pessoas.

Os modelos de liderança do passado servem de pouco no contexto empresarial actual. Os processos de internacionalização e concentração são visíveis num número crescente de fusões e aquisições, que, combinado com o terrorismo e a insegurança, fazem supor que apareçam maiores complexidades e desafios para os líderes preparados para um contexto que não existe mais.

Evidentemente, a liderança é algo importante que deve ser perseguido pelas organizações, porque parte do seu futuro estará nas mãos deste grupo inspirador e gestor de empresas. De todas as formas, sabemos que as pessoas querem líderes fortes, capazes de unificar uma força de trabalho global, debaixo de uma única visão.

Quer dizer, os líderes devem ser menos controladores, mais astutos emocionalmente, estar culturalmente sincronizados e, talvez mais importante, dispostos a partilhar autoridade e a tomada de decisões. A capacidade de criar equipas de líderes colaboradores vai ser crucial para os resultados. Estes líderes de equipas deverão ser tão diversos como é a força de trabalho da empresa.

Os líderes encontram-se numa encruzilhada formada pela globalização, fenómenos geopolíticos, mudança de valores e padrões, e a crescente pressão para obter resultados cada vez maiores e em menor tempo, num contexto caracterizado pela incerteza e insegurança.

Na minha opinião, resulta claro que os novos líderes se compõem da mistura exacta de talento e liderança, combinando uma perspectiva global, habilidade para a motivação, flexibilidade e uma integridade pessoal intocável. E também serão aqueles que rompem barreiras e paradigmas sem medo.

O êxito de um líder pode muito bem depender da sua partilha de poder, pois as novas lideranças deverão deixar de ter um papel unipessoal, que há um tempo seria impensável. Os futuros líderes deverão criar um ambiente em que outros, que subscrevem uma visão e fim comuns, possam tomar decisões mais eficazes através de uma colaboração especial, em vez de esforços unilaterais que promovem os egos. É ainda algo para o qual grande parte dos líderes não está preparado.

Se há um conceito chave na inovação é a descoberta, e esta é fruto do esforço e da visão das pessoas, permitindo deste modo mobilizar as organizações.

 

Este artigo foi publicado na edição de Agosto (nº 116) da Human Resources.

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