Microagressões são frequentes no seu local de trabalho? Confira aqui se as reconhece e saiba o que fazer

«Que giro, tens sotaque. És de onde?», «És gay? Não pareces nada!» Para quem o diz, estes comentários parecem inócuos, e podem até ser elogios ou curiosidade genuína, mas para quem os ouve são três exemplos de “microagressões” no trabalho. A Glassdoor deixa dicas de como trabalhar este tema nas organizações.

 

Ainda que o modelo remoto possa diminuir conversas desconfortáveis entre colaboradores – e muitos preferem-no assim – comentários indesejados podem surgir à mesma em videochamadas, chats ou emails. O primeiro passo para aprender a lidar com microagressões no local de trabalho é entender o que são.

Para as pessoas que fazem estes comentários inconscientemente/involuntariamente, formação em empatia e estratégias orientadoras podem ser úteis. Os destinatários podem querer manter um registo desses reparos, para o caso de decidirem falar com os Recursos Humanos ou pedir à chefia que intervenha. E os aliados podem aprender a corrigir delicadamente os responsáveis pelas microagressões.

 

O que são microagressões no local de trabalho?

Uma microagressão é uma declaração ou atitude hostil ou ofensiva perante alguma característica da identidade do receptor, normalmente um comentário, pergunta ou suposição insensíveis. Expressa subtilmente, e muitas vezes inconscientemente e sem intenção, preconceito em relação a um membro de um grupo marginalizado. As microagressões podem estar relacionadas com naturalidade, género, preferências sexuais, estado civil, condições socioeconómicas, saúde mental ou qualquer outro aspecto da identidade de uma pessoa.

Microagressões no local de trabalho podem incluir comentários como:

  • Uau! Tens tanto vocabulário!
  • És gay? Então tens de conhecer _____.
  • Na tua terra é assim que se diz?
  • Já tens __ anos? Não pareces nada!
  • Não comes _______ porquê? Estás de dieta?

Independentemente da intenção do emissor, as microagressões têm um efeito prolongado no receptor. Este, em vez de se focar em ter um melhor desempenho, tem de parar, pausar, processar e considerar se reagir ao que ouviu.

 

Microagressões em modo remoto

Videochamadas abrem as portas ao mundo privado dos colaboradores, seja a casa, a família e até mesmo a uma postura e aparência mais relaxada do que quando no escritório.

Trabalhar a partir de casa acabou com alguns dos sinais de um ambiente de trabalho tóxico, como contacto físico indesejado ou olhares desconfortáveis, mas os colaboradores que se sentem mais relaxados em casa são mais propensos a fazer comentários que devem evitar. Mentalmente, sentem que podem falar livremente, mas, na prática, estão a fazer comentários que terão um efeito dominó nas equipas.

 

Como evitar microagressões

É normal ter curiosidade sobre a vida e o passado das pessoas com quem trabalhamos, porém isso não implica um interrogatório de polícia. Por isso, antes de fazer uma pergunta ou comentário, verifique mentalmente se as suas palavras são específicas para aquela pessoa ou está a fazer suposições sobre a pessoa ou um grupo na qual a “colocou”? O comentário é necessário?

Quando se trata de fazer perguntas pessoais a colegas, fique dentro dos limites que a outra pessoa estabeleceu para a sua vida. Por exemplo, se um colega revela que veio para Portugal há três anos e se sente constrangido com o seu português, pode ser apropriado dizer «O seu português é óptimo». Caso contrário, guarde o comentário para si mesmo.

Reduzir as microagressões começa com o reconhecimento dos seus próprios preconceitos. Se alguém o corrigir, não responda à microagressão com uma atitude defensiva do género «Agora já não se pode dizer nada?», e considere antes adoptar uma atitude mais positiva como «Obrigado por me dares nota desse facto».

Mesmo que ninguém o corrija, quando perceber que disse algo inapropriado é melhor pedir desculpas, a maioria das pessoas aceitará o seu pedido de desculpas e seguirá em frente.

 

Responder às microagressões no trabalho

«As microagressões podem ser difíceis precisamente por causa da parte ‘micro’», revela Krista White, escritora e consultora de DEI. «As pessoas não fazem de propósito e consideram muito fácil dizer: “não era isso que eu queria dizer”.»

No mundo ideal, Krista White afirma que, dentro da empresa, os aliados que testemunham microagressões corrigiriam o colega delicadamente, com algo tão simples como «não gostei nada do teu comentário».

Se não se sentir à vontade para falar com a pessoa que fez o comentário, considere confirmar ao colega que sofreu a microagressão que o comportamento testemunhado foi inapropriado, é uma forma de ele se sentir apoiado.

Porém, a maioria das pessoas não sabe como lidar com situações delicadas como essas no dia-a-dia, o que significa que as pessoas marginalizadas têm de se defender sozinhas.

«Das primeiras vezes que precisar de corrigir alguém ou estabelecer um limite, adopte a abordagem mais diplomata possível, assumindo a boa-fé», aconselha White. Mas, independentemente dessa suposição de boa-fé, é importante ir registando as microagressões. «Recomendo vivamente documentar as coisas: guardar os e-mails, as mensagens escritas. Anotar comentários verbais e enviá-los por e-mail para si mesmo, para ficar com um registo, caso precise de falar com os Recursos Humanos.»

Resolver problemas de comunicação, tais como lidar com microagressões em equipas remotas, dá trabalho, mas é possível. Primeiro, aproveite os recursos da empresa, como vídeos, cursos, formação e livros que podem melhorar as suas competências de comunicação. Em segundo lugar, reveja as suas declarações para evitar parecer autoritário, crítico ou condescendente. Em terceiro, reserve um tempo para esclarecer as suas declarações para evitar más interpretações. Por último, admita quando estiver errado.

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