Missão possível: Em busca da criatividade perdida

Pensar. Ou melhor ainda, pensar fora da caixa. Uma espécie de “missão possível” que as organizações incutem nos seus colaboradores, para que estes sejam mais empreendedores. Em busca da criatividade perdida. E se derrubássemos os nossos próprios limites e crenças? A nossa “caixa”?

 

Por Rita Oliveira Pelica, chief Energy officer ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs

 

Quantos de nós, adultos, gostaríamos pragmaticamente de ser (mais) criativos? Talvez não seja tão complicado quanto as nossas mentes adultas tendem a imaginar. Todos nós somos criativos, embora tenhamos formas diferentes de o expressar ou mostrar. Já dizia Seth Godin, «a magia da criatividade é que não tem magia nenhuma». É uma competência humana, quanto mais não seja porque lidamos todos os dias com adversidades e oportunidades: surge então a criatividade do dia-a-dia, aquela que exige heróis reais, “de carne e osso”. E o que caracteriza estes heróis?

“Procura dentro de ti” podia ser o mote perfeito para a ocasião. Indo beber inspiração a G.A. Davis (2004), as características da pessoa criativa são, para este autor, as seguintes: detalhista – com atenção focada nos pormenores, vislumbrando o que pode “escapar” a um olhar menos atento; precisa de tempo para si – o tempo é precioso e precisa de ser bem investido no próprio/ a, incluindo no seu tempo de descanso; sentido de ética – alguém que tem padrões e valores morais e que os respeita – sabe quais são os seus temas “não-negociáveis”; emocional – utiliza a gestão das emoções como uma ferramenta para criar empatia com o outro, sendo capaz de ser uma boa influência; enérgica – a sua presença, empenho e entusiamo “saltam” à vista, contagiando o ambiente à sua volta; criativa – mantendo uma mente de principiante, tendo a capacidade de se deslumbrar com as coisas novas e desconhecidas – “porquê” é a sua palavra favorita; mente aberta – aceitando que ninguém sabe tudo sobre tudo, tendo a capacidade de ver e ouvir outros pontos de vista; com sentido de humor – através da promoção de um “bom ambiente”, com as palavras certas para a ocasião, num registo mais simples ou mais sofisticado, mas sempre bem-humorado; aceita riscos – aceita que há situações em que há factores de imprevisibilidade e de desconhecimento associados – e vive com isso, não deixa de agir; artística – explorando diferentes domínios de intervenção, não sendo um “puro generalista” que não interliga conceitos de diferentes áreas de conhecimento; aceita diferentes perspectivas – é importante ter opiniões e convicções próprias, mas saber ver e ouvir além da sua perspectiva, desenvolvendo o seu pensamento crítico e divergente; original – realçando a sua forma de ser, estar e pensar, como um produto das suas experiências únicas; independente – sendo capaz de trabalhar com autonomia e responsabilidade, não sendo apenas alguém a quem se diz as coisas, mas que pensa por si próprio/a; atraída pela complexidade/ ambiguidade – num mundo cada vez menos linear, sabe lidar com a incerteza e tem a capacidade de propor novas abordagens face ao desconhecido; capacidade de fantasiar – é capaz de ter sentido de abstração e de relacionar “pontos” nunca antes ligados; por último, é alguém ciente da sua própria criatividade – ou seja, humildemente reconhece o seu nível de criatividade e é capaz de pedir ajuda, quando precisa.

Todos nós podemos ser heróis, fazendo a diferença naquilo que fazemos. Com o nosso toque pessoal! É precisamente neste quadro que ganha vida o intraempreendedor. Cruzando o espaço e o tempo, este emerge ou renasce para fazer a diferença nas organizações.

O mundo (corporativo) precisa de heróis: pessoas pensantes, mais tolerantes e mais criativas. Que questionem e que estiquem os limites, os seus e os das próprias organizações, saindo da caixa! A criatividade não está perdida, precisa apenas de ser encontrada. É uma missão possível.

 

Este artigo foi publicado na edição de Julho (n.º 139) da Human Resources.

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