Realidades diferentes, a mesma crença: o futuro é o modelo de trabalho híbrido (mas não para todos)
Na farmacêutica Jaba Recordati os colaboradores já estão todos em regime presencial, na Celfocus, até se admite um modelo quase 100% remoto, na Sonae MC, para a maioria dos seus profissionais não existe possibilidade de teletrabalho, e na Randstad o regresso está a ser gradual. Mas, na mesa redonda sobre «Os desafios e oportunidades dos novos modelos de trabalho in-out híbrido», todos concordaram que o modelo de trabalho híbrido será o futuro, reconhecendo no entanto que nem tudo correu bem durante o confinamento.
Por Margarida Lopes
Com realidades distintas, Ana Porfírio, directora de Recursos Humanos da Jaba Recordati, Catarina Azevedo, head of People da Celfocus, Cláudia Romão, People Lead da Sonae MC, e Nuno Troni, director da Randstad Professionals, partilharam a realidade das suas empresas e as suas perspectivas sobre o que será o futuro, os principais desafios e oportunidades, num debate moderado por .
Para dar início ao debate, Pedro Raposo, director de Recursos Humanos do Banco de Portugal, que assegurou a moderação, quis saber quantos colaboradores ficaram em teletrabalho durante o confinamento. Quer na Jaba Recordati, quer na Celfocus, todos os colaboradores ficaram em teletrabalho, sendo que na Randstad ficaram 99%. Realidade diferente existiu na Sonae MC, onde, por razões óbvias, só 35% estiveram a trabalhar a partir de casa.
Mas, e agora? Ana Porfírio partilhou que os colaboradores da farmacêutica já estão num regime 100% presencial, porque nem tudo correu bem durante o confinamento. «Fomos para casa porque foi uma imposição de saúde pública e demos o melhor para assegurar os mínimos e que o impacto no negócio se sentisse da menor forma possível. No entanto, não era o modelo ideal e daí o retorno. Importa dizer que este retorno foi muito fomentada pelas nossas pessoas. Quando foi possível, regressámos a 50% ao escritório e, desde Setembro, estamos a 100%», partilhou.
Também na Sonae MC nem tudo foi fácil, apesar de a empresa já ter implementado um modelo de teletrabalho uma vez por semana. Cláudia Romão revelou que alguns colaboradores mantiveram ou melhoraram a produtividade mas outros diminuíram. «Os novos colaboradores tiveram dificuldade em adaptar-se porque não estavam a viver a cultura da organização.» Actualmente, os colaboradores passíveis de trabalhar remotamente estão três dias em casa e dois no escritório, mas este ainda não será o modelo final, revelou.
Na Randstad também se sentiu que «nem tudo correu bem durante o confinamento. O ano de 2020, principalmente no primeiro semestre foi duríssimo», admitiu. A empresa vai agora implementar o modelo híbrido e, de acordo com Nuno Troni, está «a olhar na perspectiva das pessoas e das equipas», sem esquecer que «há a perspectiva da empresa». O responsável faz notar que «hoje é possível trabalhar menos em termos de volume de horas e produzir mais. Não faz sentido falar dos modelos híbridos sem conseguir ligar aquilo que estamos a produzir. Ainda não temos dados de como o modelo híbrido vai funcionar e como vai ser a produtividade e o engagement das equipas.»
Já na Celfocus, que trabalha sobretudo com clientes e projectos internacionais, «a adaptação aos procedimentos de trabalho remotos estava na cultura da empresa», garantiu Catarina Azevedo. «Desse ponto de vista, a Celfocus teve a vida facilitada. Depois houve dois momentos. Em Setembro de 2020 as pessoas não quiseram voltar ao escritório porque a gestão do dia a dia era mais fácil, mas agora começaram a querem voltar. Adoptámos o modelo híbrido e já não vamos voltar ao modelo 100% presencial. O desafio está em gerir estes dois mundos, as pessoas que estão presencialmente ou e em híbrido.»
Olhando para o futuro, e sobre que caminho seguir para chegar ao modelo final, Ana Porfírio destacou que, nestes dois anos, a Jaba Recordati teve a oportunidade de desenvolver novos processos de comunicação interna e que houve um investimento quer do ponto de vista de tecnologia, quer do upskilling das pessoas. Percebemos que temos de uma heterogeneidade no gosto de ser abordados pelos nossos clientes. Há uns que preferem o contacto físico e outros os meios digitais. Vamos integrar o que aprendemos na pandemia. Já havia flexibilidade de horários, na nossa perspectiva é a integração.»
Na Sonae MC há vários modelos dentro do modelo final e o modelo futuro vai passar por adaptação. «Perguntámos aos colaboradores o que é que preferiam e não temos muitas respostas extremadas. A maioria das pessoas prefere o modelo híbrido de dois ou três dias em casa ou no escritório», revelou Cláudia Romão. «Ao mesmo tempo fizemos um estudo com a McKinsey, não só para dar uma resposta à pandemia mas para preparar o futuro e das três mil pessoas que estão no escritório uma parte também está no terreno e aproveitámos para identificar funções que podem trabalhar 100% remotamente.»
Catarina Azevedo deixou claro que a empresa já tinha flexibilidade e que, na Celfocus, não se perde talento por causa do modelo de trabalho. Isto para dizer que se alum profissional quiser trabalhar 100% remoto, e se for um talento de que a empresa precisa, não vão dizer que não. Mas salientou que a Celfocus vai ter sobretudo um modelo de trabalho híbrido. «Considerando os interesses da organização, dos clientes, a empresa perguntou às pessoas se querem estar totalmente remotas, presenciais ou misto e a maioria das pessoas está confortável com o modelo híbrido. Mas é claro que isto é um desafio pois terá de haver uma reorganização das equipas», ressalvou.
Por outro lado, Nuno Troni constatou que «há candidatos que estão a trabalhar para empresas que não estão baseadas em Portugal e dobram salários». E alertou «o problema do modelo híbrido é que é o que oferece mais desafios. É preciso perceber o que vamos fazer ao escritório, é difícil gerir a equidade do modelo híbrido». E acredita que os modelos do futuro vão ser cada vez mais híbridos mas flexíveis.
Questionados sobre se daqui a 10 anos o caminho será mais híbrido, a resposta foi consensual: Ana Porfírio afirmou «estará mais híbrido, mas não para todas as funções»; Cláudia Romão também acredita que estará mais híbrido e remoto, tal como Catarina Azevedo, que salientou que «esta geração tem essa expectativa, querem liberdade de trabalho e de horário». Nuno Troni acredita que o que vai mudar vai ser a relação que se tem com as empresas. «Haverá muito mais uma lógica de projecto para várias empresas e não de trabalho fixo.»