Motivar equipas: a verdade sobre dinheiro vs. relações

Quando se trata de motivar equipas, encontramos tantos conselhos e informação disponível que se torna difícil saber por onde começar. O dinheiro resulta ou não? Será o reconhecimento público a resposta, ou o quão frequentemente se é reconhecido? Recompensas intrínsecas ou extrínsecas? Cargos e estatutos? Cartões de agradecimento? Competições? Funcionário do mês? Alguém conseguirá dizer-me, afinal, como obtenho o melhor rendimento da minha equipa?

Por Jaeson Paul, Senior Strategist da CI&T

 

 

A verdade sobre a motivação

Tenho más notícias para todos nós: não existe uma “melhor solução” – ou mesmo uma solução que seja eficaz de forma consistente – para motivar pessoas. Na verdade, posso mesmo afirmar que um gestor nunca é capaz de motivar a sua equipa.

Esperem – como assim? Então a motivação de pessoas não é uma das principais competências de um bom manager?

 

A motivação é algo que sentimos, não algo que alguém faz acontecer por nós. Talvez seja por isso que há tantos conselhos sobre como motivar pessoas: nada funciona, por isso temos de continuar a encontrar novos truques, que por vezes parecem funcionar durante algum tempo. Alguns até contam com o apoio da neurociência, que invoca neurotransmissores e afins (o famoso conceito do “shot de dopamina”, por exemplo), e não só estas ideias não estão totalmente erradas, como a ciência é certamente real. Qual é, então, o problema?

Tudo reside no facto de que qualquer tentativa de tornar a motivação transitiva – algo que outra pessoa nos faz – também a torna transacional. Pense sobre isto: quer fazer com que alguém esteja menos propenso a fazer-lhe um favor? Ofereça-se para lhe pagar.

Alguns estudos demonstram que oferecer um pagamento (ou algo de valor) em troca de um favor faz com que, na verdade, seja mais fácil à outra pessoa recusar. Se eu lhe pedir uma boleia para o aeroporto e lhe oferecer 20€, vai sentir-se livre de recusar, porque está a poupar-se ao esforço e a poupar-me 20€. Em última instância, a recusa é vista como mutuamente benéfica – mesmo se, no final, eu ficar sem a boleia.

 

Os desincentivos caem na mesma armadilha. Atente nesta história que conheço: uma escola primária deparou-se com um problema – os pais das crianças não as iam buscar a horas. Para combater a tendência, a direção começou a cobrar uma taxa média de 15€ por cada chegada com atraso, que aumentava mediante o tempo de demora. Já está a imaginar o que aconteceu: os pais atrasaram-se cada vez mais. A taxa não foi vista como um desincentivo, mas antes como o pagamento por um serviço (cerca de 15€/hora é uma taxa razoavelmente aceitável para cuidar de crianças).

 

A verdade é que até um simples elogio pode resultar mal – cerca de dois terços da população dizem já ter passado por uma experiência em que receber um elogio por parte de superiores foi visto como um insulto. Muitos de nós sentem que os elogios não são genuínos ou são ditos apenas para nos levar a fazer algo. Apercebemo-nos facilmente das tentativas superficiais de motivação, porque sabemos que nesses casos “motivar-nos” não é mais do que “manipular-nos”.

 

As relações importam mais

Haverá, então, esperança? Claro que sim. Fazemos coisas pelas pessoas de quem gostamos e que gostam de nós porque nos sabe bem fazê-lo. Gostamos de proporcionar alívio, prazer e felicidade àqueles que valorizamos, porque isso melhora a nossa relação com eles e reforça a ligação que temos uns com os outros, o é muito mais poderoso do que qualquer transação. Sentimo-nos naturalmente motivados a fazer coisas pelas relações que valorizamos.

Como pode criar uma ligação destas? Com honestidade, respeito e transparência – mas não só. Uma verdadeira ligação requer um reconhecimento fundamental do valor e da humanidade da outra pessoa. Requer vulnerabilidade e o reconhecimento de que cada uma das partes dá valor e se preocupa com a outra.

As hierarquias das organizações são fictícias – existem para suportar um funcionamento eficaz das funções e responsabilidades no contexto de trabalho, mas não incluem o valor ou mérito relativo dos seres humanos envolvidos. Esta pode ser a razão mais clara pela qual tantas técnicas de motivação não resultam: enfatizam as diferenças de poder que renegam as relações humanas básicas, e dessa forma tornam a criação de valor em transações de valor – a definição de uma relação transacional. Esta noção tem de ser esquecida para que possa existir uma verdadeira ligação entre dois humanos.

 

Em última instância, o melhor conselho para liderar uma equipa motivada é este: conheça os membros da sua equipa enquanto pessoas reais, e deixe-se conhecer por eles. Isto não significa que tenha de ser o melhor amigo de toda a gente, mas as ligações mutuamente valiosas entre colegas de trabalho são satisfatórias por muitas razões. A sua equipa vai querer ficar consigo, e por isso todos serão mais fortes. Não há fórmulas, truques ou segredos 100% eficazes – apenas relações humanas com base em respeito mútuo e responsabilização, em vez de dinâmicas de poder ou transações.

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