Mover para inovar: seis dicas para nos livrar do torpor da era COVID-19

Por Jonathan Littman, especialista em Inovação e empreendedorismo, autor ou co-autor de 10 livros, incluindo dois best-sellers internacionais

 

A inovação e o movimento estão intrinsecamente ligados. Aqui na Califórnia, o confinamento ficou para trás, tendo a maioria das pessoas já recebido a vacina. Mas para chegar à fase seguinte de recuperação é necessário um novo compromisso mais holístico. Está na hora de levantar e sair de casa. Largar os ecrãs, colocar a bicicleta estática no armário e levar os nossos corpos para as ruas e para os trilhos. O movimento implode as rotinas estáticas que nos têm entorpecido a mente e diminuído o nosso tónus muscular. A um nível mais profundo, esta mudança consiste em redescobrir a natureza, recalibrar os nossos cérebros e corpos, e voltar a ligar-nos aos outros.

O movimento, as ideias e a acção sempre estiveram ligados na minha vida. A minha professora do quinto ano tinha uma paixão intensa pela leitura e pelo sprint, e ela gostava de mim por eu me destacar em ambos. O reforço positivo precoce tende a criar bons hábitos, e cresci com a firme convicção de que as actividades físicas e intelectuais estão ligadas. À medida que saímos da pandemia, esta verdade nunca foi tão importante.

Eis as minhas seis dicas para nos ajudar a livrar do torpor da era COVID-19.

1. Saiam para a luz. Há alguns anos, ao escrever uma história sobre a startup de iluminação Ario, aprendi a fascinante investigação por detrás de algo que sempre senti, mas que nunca tinha compreendido verdadeiramente. Quando recebemos uma dose de 20 ou 30 minutos de luz natural matinal – especialmente no exterior para um passeio, jogging ou passeio – o nosso interruptor de energia acende. Porquê? Esta luminosidade rica em luz azul estimula melhor o cortisol do que o café, com um impulso adicional de serotonina. Na sua essência, a exposição à luz natural acelera o nosso ritmo circadiano. Os benefícios incluem a melhoria do humor e a perda de peso. (E um novo estudo mostra que a luz azul matinal diminui as células adiposas.) Tudo isto para além do aumento normal da endorfina resultante do exercício.

 

2. Encontrem o vosso estado de espírito. Muitas pessoas transformaram as suas casas e apartamentos em ginásios improvisados no ano passado, adquirindo bicicletas estáticas, máquinas de remar, pesos e afins. Agora, o exercício em casa parece… deprimente. Pensem, em vez disso, em escolher um novo desporto ou actividade, algo radicalmente diferente como “pickleball”, uma mistura de ténis de mesa, badminton e ténis que está a tornar-se incrivelmente popular. Exigindo apenas o espaço de metade de um campo de ténis, as pessoas podem jogar pickleball com o mínimo de habilidades e muito menos corrida do que no ténis. Além disso, quer se jogue individualmente ou em duplas, é uma actividade social. Preferem actividades aquáticas? Quando a COVID-19 confinou o mundo, muitos enveredaram pelo “stand-up paddling” (SUP), um desporto aquático amigável e fácil de aprender (perfeito para o distanciamento social). É claro que as pessoas estão também a recorrer a parques para fazer caminhadas, andar de bicicleta de montanha e correr nos trilhos. E para aqueles que investiram em máquinas de exercício em casa – vá lá, estamos no Verão! Será este realmente o momento para continuarem a suar no quarto ou na garagem? Encontrem algo novo que gostem de fazer no exterior e acabarão por conhecer outras pessoas, falar com elas para partilhar experiências e criar amizades.

 

3. Treino intervalado para diversão. Os benefícios fisiológicos de dividir o exercício em explosões com descansos intermitentes estão bem comprovados. Qualquer atleta a sério dirá que um treino ao mesmo ritmo levará à mediocridade, enquanto o treino intervalado aumenta o desempenho. O que eu chamo de “Fun Interval Training” (FIT) acrescenta mais impulso. Com o abrandamento da pandemia, uma ou duas vezes por semana desafio-me a ver quantos desportos, modalidades ou simplesmente actividades divertidas diferentes consigo fazer num dia. Oito é o meu recorde até agora – SUP, caminhadas, remo ao ar livre, natação, pedalada e as animadas actividades de bocce, “shuffleboard” e pickleball. A variedade é óptima para o nosso corpo e ainda melhor para a alma.

 

4. Cair também faz parte do movimento (e da inovação). Tal como o fracasso é um pré-requisito para a aprendizagem e o crescimento, precisamos de nos obrigar a ir mais longe se queremos melhorar. Abraçar o movimento no mundo real implica risco. Os músculos rasgam e os ossos magoam-se ou partem-se. Se andarem bastante de bicicleta, acabarão por cair. Corram por trilhos e poderão bater com o nariz no chão. Encontrei esta dura realidade recentemente enquanto andava de patins, quando bati num buraco escondido no pavimento e caí abruptamente no asfalto, ferindo o cotovelo e chocalhando o meu sistema. Os empreendedores caem e falham também. Isso faz parte do jogo. Mas levantamo-nos, limpamo-nos e continuamos. Acredito que faz parte integrante do processo orgânico de aprender com o movimento e os esforços atléticos. Assumir riscos é uma escolha individual, e terão de correr riscos suficientes para crescer, mas não tantos que acabem por ficar à margem.

 

5. A natureza é o derradeiro estímulo. Estudos mostram que a sinfonia de sons, visões e sensações de andar no exterior vitaliza os nossos cérebros. As crianças têm melhor desempenho se andarem pela natureza antes de um teste, e a nossa memória de curto prazo melhora 20% após uma caminhada. Para além destes ganhos inconscientes, há um benefício holístico adicional quando o levamos a um nível superior. Quer seja num trilho ou na água, as aves e a vida selvagem, o vento, as superfícies irregulares, os obstáculos repentinos e a vida interventiva, sempre em mudança, mantêm-nos em alerta. Podem simular um certo grau disto num jogo de vídeo convincente, ou mesmo na bicicleta estática, mas não há nenhum substituto para a beleza aleatória e o efeito de melhoria de desempenho da natureza.

 

6. Levantem-se da cadeira. Não esqueçamos a maior parte do nosso dia – as horas que trabalhamos. Para muitos de nós, os intermináveis períodos de tempo durante a pandemia foram passados principalmente numa sala, numa cadeira, muitas vezes sem sequer uma vista para o exterior. Isso não é normal nem saudável. Os investigadores demonstraram que estarmos sentados sem movimento regular diminui o nosso metabolismo, interferindo com a regulação do açúcar no sangue e da pressão arterial, impedindo mesmo a nossa capacidade de metabolizar a gordura. Estar sentado demasiado tempo enfraquece os nossos músculos e ossos. Já devia saber isto. Há uns anos, analisei uma empresa que criou um grande produto para contrariar este problema, mas por vezes é preciso uma pandemia para nos empurrar a tentar algo novo. Pouco tempo depois de ter sido vacinado, nesta Primavera, regressei avidamente a um SHACK15 recentemente reaberto, o meu clube de empresários em São Francisco. Acontece que o espaço tem mesas longas e altas, na altura perfeita para estar em pé em cima de uma tábua de equílibrio. De repente, dei por mim a deslizar de um lado para o outro, a surfar, em pé e a esticar-me durante três a quatro horas por dia. O meu humor melhorou e estou mais produtivo. Saem todos a ganhar.

 

Onde quer que se encontrem – num trilho, a andar de bicicleta, a deslizar pela água – espero que se encontrem de pé neste belo mundo que se está a abrir. Aprender a pensar, a trabalhar e a mover-se de uma só vez. Para onde é que este novo movimento nos levará?

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