Mulheres atingem menos cargos de topo na medicina cardiovascular em Portugal, diz este estudo

Dados estatísticos disponíveis em Portugal revelam que em cerca de 20 anos (2000/2019) ocorreu um aumento de 194% de jovens do sexo feminino matriculadas nas faculdades de medicina e de 111% de jovens do sexo masculino, sempre com predomínio do sexo feminino, pelo menos desde 1991.

Estes dados fazem parte do estudo “Ainda persiste um gap de género na investigação cardiológica nacional? Uma revisão de dados da Revista Portuguesa de Cardiologia”, de Ana Teresa Timóteo, do Serviço de Cardiologia do Hospital Santa Marta (Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central) e da NOVA Medical School, Lisboa.

No que diz respeito à investigação científica, de acordo com o estudo, as diferenças de género são menos significativas em Portugal comparativamente com dados Europeus, com cerca de 50% das primeiras autorias dos artigos originais publicados na Revista Portuguesa de Cardiologia por mulheres. Contudo, relativamente à posição sénior das autorias, os dados são muito mais desfavoráveis comparativamente com as outras revistas, traduzindo o conhecido efeito de Glass Ceiling, com números reduzidos de mulheres em cargos de topo na medicina cardiovascular em Portugal.

Para Ana Teresa Timóteo, também Secretária-Geral da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a solução passará por uma mudança de política organizacional, mas também de uma modificação da perceção do papel da mulher na área da medicina.

Este fenómeno é suportado por estereótipos conscientes ou inconscientes de incompatibilidade entre vida pessoal/familiar e profissional, falta de políticas organizacionais de apoio ao balanço entre o esforço profissional e pessoal, falta de mentores ou role models para as mulheres com interesse em progressão na carreira e uma escassez de conexões que facilitem esse acesso a mulheres. Com efeito, podem-se apontar fatores socioeconómicos, culturais, religiosos, ambientais, entre outros, que condicionaram durante décadas, o acesso das mulheres a muitas áreas profissionais e a cargos de responsabilidade, mas esta situação tem sido progressivamente alterada nos últimos anos, nos países desenvolvidos.

Uma análise prévia internacional de dados dos últimos 20 anos encontrou apenas 16,5% e 9,1% de mulheres como primeira autora e autora sénior, respetivamente. Em 2016, último ano analisado, encontraram 21% como primeiras autoras e 12% como sénior, valores estes substancialmente inferiores quando comparados com jornais de elevado fator de impacto em outras áreas da medicina. Durante o período de análise, confirmou-se a tendência crescente nas autorias femininas, com incremento de 9,5% e 6,6%.

 

Ler Mais