Mulheres ganham menos 22,4% do que os homens em Portugal

Portugal é um dos países europeus onde o diferencial salarial de género é mais elevado, indica uma análise de economistas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), divulgada pelo Expresso. E conclui que em Portugal este diferencial é, em grande medida, consequência da penalização salarial relacionada com ter filhos, já que muitas mulheres trabalham em ocupações e empresas que pagam salários mais baixos mas que proporcionam maior possibilidade de conciliação com a vida familiar.​

De acordo com a publicação, partindo do Inquérito à Estrutura dos Ganhos, do Eurostat (que para Portugal utiliza os dados dos Quadros de Pessoal, excluindo as empresas de mais pequena dimensão), relativos a 2014, os autores Cyrille Schwellnus e Gabriele Ciminelli concluem que para a mesma faixa etária, nível de qualificações e antiguidade na empresa as mulheres ganham, em média, menos 22,4% por hora. A média entre os países analisados é um diferencial de 15,3%, e pior do que Portugal só a Estónia, com 28%.

Os resultados deste estudo indicam que «as diferenças salariais entre homens e mulheres aumentam nitidamente em torno das idades de pico para as mulheres terem filhos», ou seja, entre os 20 e os 29 e os 30 e os 39 anos. «Este padrão sugere que as mulheres enfrentam uma penalização salarial importante por terem filhos», indica o documento, explicitando que «a penalização por ter filhos — a que chama de “tetos de vidro” — explica 75% do diferencial na Europa do Norte e Ocidental e cerca de 70% na Europa do Sul.» Em Portugal, chega aos 98,9%.

Segundo a publicação, os autores distinguem dois vetores para sentir esta penalização. O primeiro é o que chamam de «compensação de diferenciais salariais». Na prática, significa que, voluntária ou involuntariamente, muitas mulheres aceitam empregos com salários mais baixos mas que proporcio­nam maior possibilidade de concilia­ção com a vida familiar.​ O segundo é a “diminuição da acumulação de capital humano” devido às mães interromperem as suas carreiras e/ou transitarem para empregos a tempo parcial após o nascimento do primeiro filho.

«O que observamos em Portugal é um baixo diferencial salarial de género entre os mais jovens, que depois aumenta muito nas idades em que as mulheres têm, em regra, filhos, mas depois não sobe muito mais após os 40 anos», aponta Cyrille Schwellnus em declarações ao Expresso. Notando que «não vemos uma passagem de grande número de mulheres para emprego a tempo parcial após terem filhos, como acontece no Norte da Europa», o economista frisa que «é o vetor da compensação de diferenciais salariais que explica muita da diferença nos ganhos» entre homens e mulheres em Portugal (83,1%, segundo este estudo). E realça: «As mulheres estão sobrerrepresentadas em ocupações com salários mais baixos e em empresas que pagam salários mais baixos.» Uma diferença que é horizontal — em termos de sectores de actividade — e também vertical — em termos hierárquicos.