Não existe grande arte sem paixão: 3 lições de liderança do filme “Top Gun: Maverick”

Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia

 

Por vezes, as lições de vida, e para a vida, chegam-nos em fatias. E todas elas devemos aplicar à gestão de pessoas.

O nosso percurso profissional, e os das pessoas que gerimos, está muito dependente das aprendizagens que fazemos ao longo da vida, da rede de interações em que nos envolvemos, das oportunidades que surgem e sabemos aproveitar, também de condições que não podemos manobrar, mas temos a responsabilidade de acomodar, e, sobretudo, da capacidade que temos de (re)aprender com o que vamos vivendo e com as “novas lições”.

Há umas décadas, o filme “Top Gun” haveria de me trazer algumas das mais importantes lições para a minha vida pessoal e profissional. Aprendi que as relações não são (sempre) para a vida por mais que o desejemos, que a determinação e foco enfrentam revezes, que o objetivo pode ser alcançado de várias formas e em tempos diferentes dos que projetamos, e que é possível a mudança através do caracter, liderança e perseverança. Apesar de tanto, o mais importante que aprendi é que valores, princípios e a nossa forma de estar devem ser o driver mais importante, e mesmo que sejam questionados – por nós e por outros, devem orientar-nos em cada decisão e em cada ato.

Recentemente, com a sequela “Top Gun: Maverick”, e porque, ainda que com mais de duas décadas de percurso profissional é imperativo que todos os dias equacionamos “o que andamos por cá a fazer”, novas lições se podem tirar para a vida em geral, e em particular para a gestão de pessoas.

A primeira dessas lições tem a ver com o tempo – o tempo que as organizações nos querem, que nós as queremos, o tempo que por lá vivemos, os tempos de cada um e a qualidade de vida que temos nesse tempo. É possível ver no filme como podem passar 30 anos sem perder o foco, a determinação e a energia, sobretudo se consolidados com o “saber fazer”. O personagem principal mostra-o revelando a mesma atitude do primeiro filme, a mesma postura de entrega e dedicação (num primeiro momento, num papel de trainee e agora num papel sénior de liderança, onde o role model tem um papel crucial), apresentando um engagement indiscutível e extraordinária a forma como consegue envolver os outros na missão que os junta. Também é possível ver que o tempo é finito, e que tantas vezes as dificuldades dos deadlines são facilmente ultrapassáveis com (des)empenho, foco e os resultados possíveis (não se trata do good enough, mas tantas vezes na pressão dos prazos e dos resultados esquecemo-nos que o “feito é melhor que perfeito”. Mas nessa finitude, o crucial é o que se vive e a intensidade com que se vive (ao que chamamos, na gestão de pessoas, experiência do colaborador).

Uma outra extraordinária lição da sequela, está no âmbito da liderança. Do papel de Val Kilmer, que nos mostra que, até “à última”, bem fazer e fazer o que tem de ser feito, ao papel do líder improvável que é a antítese da “promoção ao limiar da incompetência”, o filme está repleto de poderosas lições de liderança. Uma das mais interessantes, e que curiosamente é a repetição do que já havia sido explorado no primeiro filme, é que o seguidismo não é caminho e a liderança não se reproduz em estilo, ação ou resultados. Numa frase plena de sentido quando se fala de gestão de pessoas “o que interessa não é a máquina, mas o piloto”, o mais essencial, pois na realidade há líderes que o são em qualquer circunstância, ou se se preferir, organização. Anotar ainda a confiança e o “clima favorável” como condições importantes para o bom funcionamento das equipas e o cumprimento da missão do coletivo, bem como a humanização do papel do líder, pois ele tem dúvidas, hesitações e vida pessoal.

Uma terceira e importantíssima lição trazida pelos dois filmes, mas sobretudo pelo de 2022, relaciona-se com as temáticas, hoje muito apreciadas no mundo da gestão de pessoas, da diversidade e inclusão. Repare-se na escolha do “improvável” e dos papeis que lhes são atribuídos, nos “nomes de guerra”, plenos de significado e leituras, e que não são escolhidos – resultam das vivências de cada um, ou mesmo na forma como as pessoas se complementam, por muito diferentes que sejam. Ainda nesta dimensão, importante registar como ninguém é perfeito, que só não erra quem não faz, e que as pessoas mudam, transformam-se e que por vezes vemos as coisas de forma enviesada pelo que sentimos e percecionamos.

Falámos neste texto de filmes, do “Top Gun” e sua sequela “Maverick”, mas se não foi de gestão de pessoas que aqui se tratou, de que foi?

Ler Mais