
Neste país, um em cada quatro candidatos mentiu no seu currículo (e muitos dizem que isso os ajudou na carreira)
Mentir no processo de candidatura a um emprego é mais comum do que se pensa. Segundo um survey do Resume Builder, de Janeiro de 2025, a dois mil norte-americanos, as mentiras vão desde o exagero de competências à deturpação de experiências anteriores e, em alguns casos, ao fabrico de detalhes pessoais.
Entre as principais conclusões destacam-se os 44% dos norte-americanos que admitiram ter mentido no processo de recrutamento, sendo que 24% o fizeram no currículo, 19% numa entrevista e 6% na carta de apresentação. Os homens e os Millennials revelaram maior propensão para as inverdades, nomeadamente nos cv e nas entrevistas.
Entre os candidatos a emprego, 24% mentiram no currículo, sendo este o “veículo” mais comum para a desonestidade. As mentiras mais frequentes incluem:
- Anos de experiência (38%)
- Competências e capacidades (34%)
- Duração dos cargos ocupados (32%)
Os Millennials são a geração mais propensa a mentir nos seus currículos, com 29% a referirem fazê-lo. Por outro lado, 20% da Geração Z dizem que mentiram, 27% da Geração X e 13% dos Baby Boomers.
Além disso, os homens são mais propensos a mentir nos seus currículos do que as mulheres (30% vs. 20%).
Mentir em entrevistas também é comum, com 19% dos candidatos a emprego a admitirem desonestidade nesse momento. As mentiras mais comuns incluem:
- Competências e capacidades (41%)
- Responsabilidades em empregos anteriores (32%)
- Anos de experiência (31%)
Mais uma vez, os Millennials são os mais propensos a mentir nesta fase do processo de contratação (24%), e os Baby Boomers os menos propensos (8%). Mais homens (23%) do que mulheres (16%) também mentiram na fase da entrevista.
Menos candidatos a emprego (6%) mentiram nas suas cartas de apresentação, mas quando o fizeram, na maioria das vezes deturparam:
- Competências e capacidades (45%)
- Responsabilidades em empregos anteriores (38%)
- Anos de experiência (37%)
«Mentir durante o processo de contratação pode criar problemas de confiança a longo prazo e prejudicar a reputação profissional. Uma vez descoberta uma mentira, não é facilmente esquecida, e a confiança é difícil de reconstruir», afirma Stacie Haller, Chief Career advisor da Resume Builder.
«Os processos de contratação modernos levam muitas vezes alguns candidatos a apresentarem-se de forma enganadora. Este comportamento é agravado pelas mudanças sociais, onde a desonestidade é cada vez mais normalizada. Para alguns, tornou-se uma necessidade para competir no mercado de trabalho actual.»
E acrescenta que «as organizações de Recursos Humanos precisam de rever as suas práticas de contratação para eliminar frustrações comuns, como anos de experiência que não correspondem ao sucesso ou não de alguém na posição. Melhorias no lado da contratação podem reduzir a necessidade percebida dos candidatos de mentir durante o processo».
Para além das qualificações relacionadas com o trabalho, alguns candidatos falsificaram informações pessoais:
- 9% mentiram sobre a sua deficiência
- 7% deturparam a sua etnia
- 6% representaram falsamente o seu estatuto de veterano
A Geração Z foi um pouco mais propensa a mentir sobre a sua deficiência do que outras gerações, com 13% a afirmar que já o fizeram.
«Mentir sobre etnia, deficiência ou estatuto de veterano decorre, muitas vezes, do desejo de mitigar as barreiras ao emprego. Isto reflecte um problema sistémico mais profundo nas práticas de contratação. Quando os candidatos sentem que a honestidade sobre as suas identidades os colocará em desvantagem, isso evidencia uma cultura no local de trabalho que ainda tolera preconceitos.»
«É uma situação preocupante que exige mudanças, mas as tendências actuais sugerem que estamos a caminhar na direcção errada. Para promover um mercado de trabalho verdadeiramente equitativo, as organizações devem abordar e eliminar os preconceitos que levam os indivíduos a sentir que devem representar-se a si próprios de forma enganadora», afirma Haller.
Quatro em cada 10 conseguiram emprego por causa de mentiras
Mentir no processo de contratação leva muitas vezes a ofertas de emprego. Entre os que admitiram mentir, 36% conseguiram um emprego e 28% disseram que conseguiram o seu emprego actual por essa via. Apesar da prevalência da desonestidade, apenas 12% enfrentaram alguma repercussão pelas suas acções.
Alguns candidatos sofreram consequências directas pelas suas mentiras: 4% tiveram uma oferta de emprego rescindida, enquanto 2% foram despedidos após iniciarem o cargo. Outros receberam medidas disciplinares, tendo 5% sido repreendidos, mas autorizados a permanecer nas suas funções. Em casos raros, 1% teve dificuldades na posição porque não estava qualificado devido às suas credenciais falsas.
Para muitos candidatos a emprego, a desonestidade tem-se revelado benéfica para o avanço das suas carreiras. De facto, 64% acreditam que mentir os ajudou a ter sucesso profissionalmente e 25% dizem que isso lhes permitiu garantir um salário mais elevado do que teriam de outra forma.
«Mentiras sobre responsabilidades anteriores ou anos de experiência podem permanecer despercebidas se a devida diligência não for completa durante o processo de contratação. Em alguns casos, estes detalhes podem tornar-se irrelevantes quando o indivíduo está no cargo, especialmente se a função se concentrar mais nas competências demonstradas do que na experiência passada.»
«À medida que as organizações priorizam cada vez mais as capacidades e competências, prevejo mais testes e avaliações práticas a serem integrados no processo de contratação. Estas medidas ajudarão a reduzir o incentivo e a oportunidade de desonestidade, concentrando-se no que realmente importa para o sucesso na posição”, declara Haller.
Olhando para o futuro, 27% dos inquiridos estão a candidatar-se a empregos e 32% planeiam fazê-lo em 2025. Entre eles, 11% esperam mentir nas suas candidaturas ou entrevistas.
«A desonestidade prejudica a reputação do trabalhador, mesmo que as consequências não sejam imediatamente aparentes. Se um candidato não cumprir todos os requisitos para uma posição específica, a honestidade continua a ser sempre a melhor abordagem. Devem destacar os seus verdadeiros pontos fortes, as competências que trazem e por que razão são especialmente adequados para ter sucesso na função. Ao apresentarem as suas qualificações com sinceridade, demonstram integridade e profissionalismo — qualidades muitas vezes tão importantes como as competências técnicas», conclui Haller.