«Num mundo em mudança, o que é pedido a cada profissional também mudará», diz João Günther Amaral, administrador da Sonae

Sabendo que estamos a viver uma situação sem precedentes e que é preciso garantir os níveis de energia, resiliência e determinação, a Sonae acredita dispor de um acelerador para ajudar todas as empresas do grupo a ultrapassar circunstâncias desafiantes: o sentido de propósito.

Por Ana Leonor Martins

 

João Günther Amaral, administrador e Chief Development Officer (CDO) da Sonae, garante: «Todos participamos. Todos ajudamos. E a coragem e o empenho de todas as equipas num momento como este é mesmo impressionante e comovente.» Com mais de 50 mil colaboradores e um portefólio muito diversificado de negócios, que passa pelas áreas do retalho, serviços financeiros, tecnologia, centros comerciais e telecomunicações, a resposta teve obviamente de ser distinta e adaptada a cada realidade, mas foi rápida. E para isso também contribuiu o facto de há cerca de um ano ter sido implementada na Sonae uma política de trabalho flexível. As novas formas de trabalho eram já uma área prioritária no que à gestão de talento diz respeito, tal como o engagement dos colaboradores, a diversidade e inclusão, e o desenvolvimento pessoal contínuo e reskilling.

 

Como é que a actual situação de excepção tem sido vivida – e gerida – na Sonae, o maior empregador privado do País?
A Sonae tem estado a acompanhar em permanência a actual situação de pandemia que vivemos, seguindo as recomendações das autoridades competentes e adoptando sempre as melhores práticas, com o intuito de garantir a segurança, saúde e bem-estar dos colaboradores, clientes e comunidade.

Estamos a viver uma situação sem precedentes, em que, de um dia para o outro, todos fomos obrigados a fazer mudanças nas nossas vidas pessoais e profissionais. Naturalmente, dada a diversidade de negócios que temos no grupo, a realidade que se vive em cada um deles é bastante distinta e cada uma das empresas está a implementar as medidas de gestão adequadas ao seu contexto.

Ainda assim, há dois eixos transversais a todos os negócios. Por um lado, todos estão focados em assegurar o acesso aos serviços e produtos essenciais, sejam eles alimentares ou comunicações, em canais físicos ou digitais. E claro que esta preocupação não se coloca apenas na relação com os clientes, mas abrange toda a comunidade, pois existem grupos específicos na população em situações muito fragilizadas que merecem a nossa atenção especial.

Por outro lado, temos a consciência de que não podemos apenas reagir às questões que se nos colocam de imediato, sendo necessário antecipar cenários futuros e preparar as nossas pessoas e as nossas empresas para um novo normal que se avizinha.

 

Como referiu, o universo Sonae tem um portefólio muito diversificado de negócios, tendo actividade nas áreas do retalho, serviços financeiros, tecnologia, centros comerciais e telecomunicações, o que implica que não tenham podido gerir a crise de uma só forma. Quais as diferenças mais significativas?
Todas as empresas estão a ser fortemente impactadas na sua actividade, e as nossas não são excepção. Enquanto umas se viram mesmo obrigadas a suspender, totalmente ou em parte, a sua actividade – como as lojas de moda e desporto, restaurantes, cafetarias –, outras estão a viver dias muito diferentes do habitual: com novas sazonalidades, alterações no comportamento de compra dos clientes, novas regras e condicionalismos nas lojas físicas, cadeias de abastecimento impactadas, comércio electrónico sob imensa pressão, milhares de colaboradores em teletrabalho, etc.

Cada uma das nossas empresas gere as suas próprias especificidades, tendo sempre a possibilidade de recorrer às sinergias de grupo em processos de natureza transversal. Nessas situações, formámos equipas de trabalho transversais, partilhámos informação, estudámos e preparámos cenários futuros em conjunto.

Uma das vantagens de sermos um grupo tão diverso e exposto a diferentes realidades é, desde logo, a riqueza de conhecimento, pontos de vista e entreajuda, fundamentais em momentos como o que estamos a viver.

 

De forma genérica, quais diria que têm sido os principais desafios na gestão desta crise?
A imprevisibilidade desta pandemia veio trazer enormes desafios, literalmente de um dia para o outro. Assim que vislumbrámos os primeiros sinais da pandemia na China, foi reunido o Comité de Crise, que começou a desenhar possíveis cenários para a chegada do SARS-COV-2 aos países em que operamos.

Estamos perante um evento novo, que implica que tenhamos capacidade de leitura de contexto, de estudo e, sobretudo, rapidez na tomada de decisões. Paralelamente, temos de garantir os níveis de energia, a resiliência e a determinação para continuarmos a agir com confiança. Dito isto, também é certo que temos um acelerador que nos ajuda a ultrapassar circunstâncias desafiantes: o nosso sentido de propósito. Todos participamos. Todos ajudamos. E a coragem e o empenho de todas as equipas num momento como este é mesmo impressionante e comovente.

 

Concretizando nos diferentes tipos de negócio, o que destacaria?
Do ponto de vista imediato, a nossa preocupação foi, e continua a ser, a protecção de todos. Temos de fazer tudo o que está ao nosso alcance para garantir ambientes seguros, para que possamos continuar a cumprir a nossa missão.

De forma transversal, a salvaguarda da saúde dos colaboradores levou à implementação rápida do trabalho remoto para todas as funções em que tal é possível, e à adopção de equipamento e regras de segurança para todas as restantes funções.

No que respeita às operações propriamente ditas, o objectivo foi manter os níveis de serviço ao cliente, o que implicou alterações profundas nas operações de loja, no aprovisionamento e nas operações online. Ninguém estava preparado para uma mudança radical do comportamento do consumidor, e as cadeias precisam de algum tempo para se ajustarem a esta nova realidade.

Nas operações que viram a necessidade de suspender o funcionamento das suas lojas, foram feitas transformações nos negócios de forma a continuarmos a chegar aos clientes por outras vias, nomeadamente a via digital.

 

Acredita que, nesta fase, o pensamento esteja na retoma da “normalidade” (a possível). O que é para a Sonae prioritário assegurar? E como o pretendem fazer?
A retoma à normalidade será um processo gradual. É fundamental relançar a economia, para o bem de todos, mas temos de o fazer com um enorme sentido de responsabilidade. Com o levantamento do Estado de Emergência, teremos um aumento relevante do risco de contágio. Temos de saber proteger-nos da melhor forma.

Concretamente, e pensando nos nossos colaboradores, a regra base é a do distanciamento social e, sempre que possível, a manutenção do trabalho remoto, pois esta é a forma mais segura de nos protegermos. Mas também não podemos morrer da cura. Somos seres sociais que necessitam de sair de casa, estar com os colegas de trabalho, sentir o ambiente de trabalho, aprendendo a conviver dentro das novas restrições que a actual situação nos coloca. Faseadamente, faremos o regresso ao escritório, e para tal está a ser feito o reajuste dos espaços. Teremos novas regras de conduta, equipamentos de protecção, etc.

A mesma segurança foi estudada e está agora a ser preparada para os nossos clientes, em lojas ou centros comerciais. As pessoas têm de se sentir seguras nestes espaços – e é com esse foco que estamos a trabalhar.

A retoma da economia também vai depender da nossa capacidade de adaptação a esta nova realidade. Teremos de reinventar alguns dos nossos negócios, ser inovadores e antecipar as necessidades futuras dos clientes.

 

Actualmente, a crise que vivemos ainda é, sobretudo, de saúde pública. Avizinha-se uma crise económica. Sendo a Sonae o maior empregador privado do nosso país, como estão a encarar este tema, pensando em termos mais macro?
Na Sonae vivemos de acordo com um conjunto de valores que nos preparam para ultrapassar momentos difíceis com ambição, criatividade e determinação. Sempre dissemos que as pessoas estão no centro do nosso sucesso. E estão mesmo. Trata-se de garantir que temos as competências, as atitudes e os comportamentos para fazer face aos mais diversos e, neste caso, adversos contextos. Temos a certeza absoluta de que os nossos valores e o nosso sentido de propósito nos favorecem para sair deste momento ain- da mais fortes, mais determinados, mais inovadores e melhor sucedidos.

 

Mas será que estamos preparados, empresa e profissionais, para o que se segue?
Hoje estamos todos, enquanto sociedade, perante um momento difícil, mas vamos ultrapassá-lo. Todos os negócios vão ser afectados, mas cá estaremos para os recuperar. E, acima de tudo, na Sonae, sabemos que podemos contar uns com os outros, em todos os momentos. É esse o nosso espírito.

No futuro, vamos estar a operar num mundo diferente: mais digital, mais preocupado com a saúde, com a educação e mais atento ao planeta. Mas nenhum destes temas é novo para a Sonae. Desde cedo começámos os processos da digi- talização que nos permitem hoje responder às necessidades dos clientes por essa via. A saúde foi, há muitos anos, considerada por nós uma das áreas de desen- volvimento estratégico, dando origem à Wells, e mais recentemente à Dr. Wells. A preocupação com a educação esteve sempre presente e é materializada nos pro- gramas de formação internos, bem como no apoio à comunidade que fazemos especificamente junto da população mais jovem. Por fim, a sustentabilidade é considerada tão relevante que está presente nos nossos indicadores de desempenho.

 

Para que riscos teremos sobretudo que estar atentos?
Neste momento concreto temos de estar muito atentos aos riscos provocados pelo vírus que actualmente nos está a atacar. Temos de garantir que seguimos todas as recomendações, evitando novas vagas de confinamento social e os impactos de enormes dimensões que um retrocesso teria.

Mas, de facto, os riscos não ficam por aqui. Temos de estar especialmente atentos às desigualdades e necessidades que infelizmente existem e que tendem a agudizar-se nestas alturas. Este é o momento de unirmos esforços com todos os que tentam mitigar estes riscos. Bens alimentares, electrodomésticos, espaços físicos, telecomunicações, serviços e conhecimento dos nossos colaboradores, são apenas alguns dos exemplos do que temos vindo a distribuir por dezenas de entidades onde se incluem hospitais, autarquias e instituições de solidariedade. Estamos a colaborar de forma concertada e contínua com o governo português, operacionalizando as actividades de sourcing, logística, transporte e distribuição de equipamentos médicos.

E não nos podemos esquecer do risco económico em que se encontram algumas das empresas do nosso tecido empresarial. Por isso mesmo, foram várias as situações em que alterámos as condições contratuais, nomeadamente antecipando pagamentos de forma a aumentarmos a sua liquidez imediata.

 

 

Leia a entrevista na versão completa (que fala da aposta que a Sonae já vinha a fazer em termos de flexibilidade laboral , e também sobre a sua marca de empregador e estratégia para a Gestão de Pessoas) na edição de Maio (nº. 113) da Human Resources, nas bancas.

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