Nuno Troni, Randstad: Novos ou velhos?

Os inícios de ano são sempre propensos a alguma reflexão sobre quais serão as principais tendências a curto e médio prazo.

 

Por Nuno Troni, director da Randstad Professionals

 

Não sendo propriamente novas, destaco as seguintes tendências:

Escassez de talento
Não é uma novidade, mas é um problema crescente e a vários níveis, tanto para funções operacionais como para quadros médios e superiores. Para além da tradicional escassez, assistimos a variáveis novas, como o fenómeno conhecido como “great resignation” e a disputa global por talento tipicamente local. Os colaboradores estão com cada vez maior poder na relação com as empresas, pelo que estas devem prioritizar cada vez mais a capacidade de atracção de talento e, acima de tudo, a capacidade de retenção, trabalhando as áreas de employer branding, desenvolvimento e well-being.

 

Modelo de trabalho
Híbrido, presencial, ou remoto. Já temos alguma experiência sobre os modelos, mas ainda não temos grandes dados ou conclusões sobre os benefícios de cada um, seja performance, engagement, impacto na cultura, ou retenção. Além de estarmos ainda em fase de experimentação, temo-lo feito por reacção ou imposição e não tanto por opção ou, naquilo que seria o cenário ideal, sem pandemia e sem restrições, e a testarmos aquilo que acreditamos ser verdadeiramente o melhor modelo para servir colaborador e empresa.

 

Saúde mental e bem-estar
É verdade que os temas nunca foram tão discutidos como desde o início da pandemia, mas vieram para ficar. O equilíbrio entre vida profissional e pessoal e o ambiente de trabalho são preocupações mais presentes para os colaboradores, assim como o propósito e o bem-estar individual e colectivo. A forma como as organizações vão gerir estes temas vai ser decisivo.

 

4 dias de trabalho
É uma questão que tem vindo a ganhar espaço em Portugal, até por comparação com outros países, mas que levanta a grande questão de como poderá ser implementado tendo em conta duas condicionantes do nosso país, baixa produtividade e baixos salários.

 

Flexibilidade da relação laboral
Temos um dos modelos mais rígidos da União Europeia, que aposta na falta de flexibilidade na gestão de workforce. Com o mercado de trabalho a mudar rapidamente, com a vontade de cada vez mais pessoas pretenderem outros modelos que não o tradicional por conta de outrem, e com a globalização da luta pelo talento, o modelo que temos não serve e está ultrapassado, pelo que resta saber se teremos as condições políticas e legislativas para a mudança ou se continuaremos reféns de uma visão retrógada do mercado de trabalho.

 

Skills
Cada vez mais as contratações serão baseadas em competências e não em experiência. Mais do que saber fazer algo, é poder aprender a fazer algo. Upskilling e reskilling estão longe de serem novidades, mas são cada vez mais absolutamente prioritárias, tanto para o lado das pessoas como para o lado das empresas. R

 

Diversidade, equidade e inclusão
Está cada vez mais na agenda e é um ponto a que prestamos crescente atenção quando olhamos para um empregador. Para além dos factores de género ou identidade sexual, creio que o critério da idade será cada vez mais relevante, nomeadamente na gestão dos profissionais seniores. Um tema que não se restringe ao recrutamento, mas também à experiência de trabalho, e que vai cada vez mais impactar na atractividade para trabalhar das próprias marcas.

 

Gestão de workforce
Vamos deparar-nos com um fenómero interessante que é a coexistência de várias gerações a trabalhar em conjunto, enquanto testamos novos modelos de trabalho e num mercado cada vez mais competitivo e global. A capacidade dos líderes e das equipas de Recursos Humanos vão ser cada vez mais testadas e todos vão ter de ter competências de Gestão de Pessoas.

Novo ano com alguns desafios antigos – e isso, por si só, não tem mal, porque são temas complexos –, mas o que não podemos deixar acontecer é que estes fiquem de lado e não sejam o foco das empresas, a bem das suas pessoas, mas também do sucesso do seu negócio.

 

 

Este artigo foi publicado na edição de Janeiro (nº.133) da Human Resources, nas bancas.

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