“O bom profissional não chora!”. Até entender a diversidade emocional

Vai começar a ler este texto e pensar: é mais uma reflexão de uma [recente mãe + profissional], que consegue fazer tudo mesmo no mais alto nível de cansaço, de stress pessoal e profissional, que mostra a força da mulher e bla bla bla…

Por Diana Silva, consultora Funcional na Create IT

Bom, não será bem assim, já que não consegui ainda encontrar essa super-mulher dentro de mim, mas faço tudo isso na mesma.

E sim, este texto vai falar sobre como a experiência de ser mãe me levou a perceber detalhes da vida profissional que fazem uma grande diferença na minha vida e na de tantas outras pessoas que partilham comigo o ambiente de trabalho, mesmo remoto.

Historicamente, as empresas tinham como um “bom profissional” aquele que conseguia separar a vida pessoal da profissional e que estava sempre “bem-disposto,” sem mostrar sentimentos como tristeza, frustração, fadiga, etc… Todos tínhamos que ser os “sempre felizes” e motivadores para sermos na realidade um bom reflexo da empresa.

Ao longo dos anos até aprendi a utilizar o meu melhor sorriso “fake” para ser a denominada “boa profissional”. Sempre de bom humor, pró-activa e por vezes ir à casa-de-banho a meio do dia chorar, libertar a raiva e a desilusão, maquilhar novamente e voltar sorridente para terminar o dia.

E o que ser mãe mudou nessa realidade?

Nada. Porque decidi que essa realidade precisava de ser mudada muito antes disso para que agora eu pudesse ser uma boa mãe.

Quando decidi mudar e escolhi estar na Create IT, percebi a realidade que gostaria de ter. Poder mostrar-me como o ser humano que sou e não como a boneca sempre divertida.

Eu queria estar onde tivesse o direito de chorar quando fosse preciso ou ficar entusiasmada quando algo da minha vida pessoal desse certo.

E qual o benefício disso?

Respeitar a mim mesma e ser mais criativa, espontânea, competente e realizada como profissional e como pessoa.

Hoje consigo perceber ainda mais a diferença e o efeito positivo de poder expressar os meus sentimentos no ambiente empresarial quando um colega, pouco antes de uma reunião ou naqueles minutos em que esperamos que todos se juntem, me pergunta sobre como eu estou e como está a minha filha e realmente está interessado na resposta. Alivia-me contar que tive uma noite mal dormida cheia de preocupação porque a minha filha estava doente ou que ela está muito bem e já aprendeu algo novo. Dá-me uma nova energia poder partilhar o que sinto e sentir em troca que sou acolhida. O meu trabalho torna-se mais produtivo e mais leve.

Uma das minhas preocupações ao regressar ao trabalho após a licença de maternidade era justamente estar cansada demais para ser produtiva. E realmente sinto-me muito cansada, mas vim mais produtiva do que antes porque me senti ainda mais acolhida.

Onde quero chegar com essa história?

Na diversidade emocional. Falou-se durante muito tempo sobre a “Inteligência Emocional”, em aprender a lidar com os sentimentos no âmbito profissional para não nos deixarmos sucumbir aos gatilhos emocionais do dia-a-dia e expor a nossa raiva, frustração, inconformação, tristeza e outras tantas emoções (mesmo as positivas) que podem “atrapalhar” o ambiente de trabalho.

A diversidade emocional é praticamente o oposto: é ser capaz de mostrar os sentimentos no quotidiano profissional e poder ser acolhido.

Em vez de conter a lava do vulcão interior é conseguir deixá-la fluir, não como uma “agressão” às pessoas, mas como um pedido de ajuda ou simplesmente como uma partilha de algo positivo que vai tornar o seu dia e o das outras pessoas ainda melhor. A alegria é mesmo contagiante!

Decerto, quando falamos deste tipo de mudanças, os líderes desempenham um papel-chave. Ter em mente não só motivar e trazer a satisfação para a equipa, mas acolhê-la como indivíduos que estão “autorizados” a mostrarem e partilharem os seus sentimentos, não sendo criticados, mas sim apoiados.

Quando podemos lidar com as emoções no ambiente de trabalho conseguimos abrir espaço no nosso “eu” para sermos mais produtivos e criativos, diferente do que se pensava há 50 anos atrás em que tínhamos que ser duas pessoas: uma profissional e outra particular, e em que os universos andavam em paralelo e nunca se deveriam cruzar.

Mais mito do que verdade é ter duas vidas paralelas quando somos um único ser humano. Respeitar essa individualidade torna-nos mais fortes e não o contrário. A dita “fragilidade emocional” não é um fator incapacitante quando se consegue ter em mente que é “ok” não estarmos num dia bom.

Dar essa abertura às pessoas é uma evolução natural que as (melhores) empresas devem trilhar. Faz parte do bem-estar da equipa e da integração verdadeira como membros da comunidade profissional. Deixarmos de ser um “Ser Profissional” e simplesmente sermos um “Ser Humano” é trazermos de volta o respeito pela nossa individualidade e liberdade.

 

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