O digital skilling na saúde tem de ser transversal e envolver instituições, profissionais e pacientes

Tânia Reis, jornalista da Human Resources Portugal, esteve à conversa com Julio Díaz Ojeda (Critical, Primary & Social Care OL Director na Inetum) e Rui Gomes (head of Information Systems do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra), no painel “Digital Skilling for Healthcare Professionals” da edição de 2023 do Building the Future, que teve lugar nos passados 25 e 26 de Janeiro. 

 

Rui Gomes começou por fazer um breve retrato do actual nível de competências dos profissionais de saúde que, após dois anos disruptivos, «ganharam super-poderes» e competências para utilizar as ferramentas tecnológicas que têm ao seu dispor. Numa realidade em que a complexidade das instituições públicas provoca algum atraso na implementação das ferramentas disponíveis, defendeu como prioritária a requalificação dos profissionais de IT nestes organismos.

Também em Espanha a situação é semelhante. Julio Díaz concorda que os profissionais de IT têm um papel cada vez mais importante neste sector e os profissionais de saúde devem estar conscientes de que uma «maior alfabetização digital» irá permitir-lhes, além de melhor gestão do tempo, um maior foco no paciente e, consequentemente, maior eficácia nos serviços prestados.

Para chegarmos ao patamar desejado, além do skilling dos profissionais, Rui Gomes defende que também as instituições devem ser capacitadas. São necessárias estratégias claras e os objectivos dessa “digitalização” têm de estar perfeitamente alinhados com os da instituição, para que a «arquitectura seja integrada e a interoperabilidade seja alcançada a todos os níveis». Um programa de “digital skilling” é a seu ver fundamental para qualquer organização a operar no sector da saúde.

E essa capacitação deve começar no processo de onboarding para novos profissionais. Muitas vezes, estes sabem quais serão as funções e tarefas a desempenhar, porém não conhecem as ferramentas digitais que têm à disposição. Esse factor tem de ser acautelado logo a partir do primeiro dia, acrescentou Julio Díaz.

Aproveitar a expertise dos “nativos digitais” e o conhecimento dos médicos já experientes é uma simbiose que não deve ser descurada nesta digitalização.

Também as diferenças entre os sistemas disponíveis nas unidades de saúde públicas e aqueles que encontramos no sector privado, nomeadamente em Portugal, foram abordadas. Rui Gomes acredita que o facto de um hospital privado criar toda a sua estrutura de raiz é um benefício do qual o sector público não dispõe. A criação de centros hospitalares, que absorveu hospitais mais pequenos e fundiu outros, cada um com gestão e procedimentos distintos, é um processo bastante demorado. «Apenas uma transição digital com ferramentas úteis e eficazes, profissionais altamente qualificados e estratégias claras poderá transformar os serviços prestados, mais focados nos pacientes do que em procedimentos internos», realçou.

Julio Díaz alertou também para o facto de não devermos focar-nos apenas no digital skilling dos profissionais de saúde. Há uma grande parte da população, especialmente a mais envelhecida ou que vive em zonas rurais isoladas, que não deve ser esquecida neste caminho. Todos os pacientes que não tenham a necessidade ou a possibilidade de se deslocarem a unidades de saúde devem poder fazê-lo, através das ferramentas e dispositivos necessários mas também saber fazê-lo, através de capacitação digital.

À luz de ataques informáticos a organizações do sector que aconteceram nos últimos tempos, ambos concordaram que o tema da cibersegurança ganha cada vez maior relevância e, ainda que sejam processos morosos, é urgente e necessária a implementação de medidas adicionais, com ferramentas certificadas.

Para terminar, como medida prioritária para um digital skilling eficaz no sector da saúde, Rui Gomes defendeu um programa transversal à organização e que permita estar constantemente a capacitar os seus profissionais e a consciencializá-los para uma cultura diferente. Julio Díaz acrescentou o apoio ao profissional no processo de onboarding nas ferramentas digitais disponíveis nas unidades de saúde.

 

O Building the Future, evento português de transformação digital, promoveu a partilha de conhecimento sobre como a tecnologia está a redefinir o progresso humano e a forma como interagirmos com a realidade, e, em dois dias, mais de 130 oradores passaram por quatro palcos diferentes e foram vistos por 15 mil participantes a partir de 58 países.

 

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