O futuro das PME em Portugal: da ambição à acção
Por Paulo Lima, cofundador e co-CEO da Matoaka
As pequenas e médias empresas (PME) desempenham um papel crucial na economia portuguesa, representando 99,9% do tecido empresarial e 76,2% do emprego, segundo o INE. Contudo, a Nova SBE apresentou recentemente um estudo que expôs uma realidade preocupante – estas apresentam uma ambição limitada de crescimento e competição a nível internacional. Áreas como a política salarial, a avaliação de desempenho e a transformação digital revelam falhas que as prejudicam particularmente.
Embora à superfície possa parecer que as PME são responsáveis por este cenário, uma análise mais aprofundada identificará um conjunto de desafios significativos que as impedem de prosperar e que estão relacionados com factores externos.
A falta de boas práticas de gestão, por exemplo, deverá ser entendida também como uma consequência do contexto económico e estrutural actual que muitas vezes não oferece as condições necessárias para que estas organizações “sonhem mais alto”.
Em paralelo, estas empresas padecem de falta de apoio em áreas estratégicas e de conhecimento especializado, e têm acesso limitado a financiamentos mais robustos que potenciem um crescimento sustentável e uma expansão internacional. Enquanto em diversos países europeus há uma maior disponibilidade de financiamento, seja através de fundos de investimento, programas de inovação ou incentivos governamentais, em Portugal esses programas são menos expressivos e frequentemente burocráticos.
Um exemplo claro dessas dificuldades surge na retenção de talento e inovação que estão intrinsecamente ligadas com a implementação de boas práticas de gestão, das quais a política salarial e a avaliação de desempenho são componentes essenciais. Estes dois factores podem comprometer a capacidade das PME de atrair e reter profissionais qualificados quando o talento é o motor essencial para o desenvolvimento de novas ideias e soluções. Além disso, a falta de investimento em transformação digital coloca as PME portuguesas em desvantagem competitiva em relação às empresas europeias, que operam em mercados com maior acesso a financiamento para a inovação.
Neste sentido, é essencial que os gestores de PME invistam na sua formação constante a par da atracção de talento ou apoio especializado em gestão adequado à sua dimensão, pois muitas carecem de recursos e conhecimentos para implementar boas práticas. Estes profissionais especializados podem ajudar na criação de estratégias, melhoria de processos e adopção de tecnologias, aumentado a competitividade das organizações.
O futuro desta dimensão de empresas em Portugal não depende apenas da sua ambição ou capacidade de gestão, mas também das condições estruturais e políticas que as rodeiam. Reflectir sobre o papel que estas têm na economia portuguesa é também pensar no nosso compromisso na criação de um ecossistema que ofereça às PME as ferramentas e condições necessárias que lhes possibilitem prosperar e atingir o seu potencial máximo.