O futuro do ensino e do mundo do trabalho

Arlindo Oliveira, presidente do Instituto Superior Técnico não tem grandes dúvidas de que muitos empregos desaparecerão, sendo substituídos por robots. E de que a educação superior, nomeadamente a de índole tecnológica, é o melhor seguro contra o risco de ficar obsoleto.

 

Por Ana Leonor Martins | Fotos Cristina Carvalho

 

Para além de presidente do Instituto Superior Técnico (IST), Arlindo Oliveira é autor do livro “The Digital Mind”, que deixa antever que os avanços tecnológicos podem mudar radicalmente a sociedade, e até o próprio conceito de humanidade. Em entrevista à Human Resources, explica-nos como, e de que forma pode o IST preparar os jovens para uma “revolução” que pode destruir até 50% dos empregos. Defende que todas as formações, mesmo as tradicionalmente mais afastadas da tecnologia, devem ter uma forte componente tecnológica e alerta para o “perigo” que a fuga de talentos de Portugal representa para a actividade económica no País. Pois se hoje, Lisboa e Portugal, são locais atractivos para as multinacionais, se estas empresas verificarem que os nossos recursos humanos não têm a formação adequada, ou não são em número suficiente, ver-se-ão obrigadas a sair do País.

 

Defendeu recentemente que é essencial pensar numa nova e profunda alteração do sistema de ensino superior que temos. O que é mais urgente mudar? Que ideias estratégicas acha que faltam ao ensino superior em Portugal?

Em minha opinião, existem duas alterações importantes a fazer. A primeira tem a ver com a crescente necessidade de todas as formações terem uma forte componente tecnológica, em geral, e em tecnologias de informação e comunicação, em particular. Mesmo as formações que tradicionalmente têm pouca ou nenhuma componente tecnológica, como as Artes, Letras, Direito ou Desporto, precisam cada vez mais de prestar atenção às componentes tecnológicas, porque a tecnologia afecta cada vez mais profundamente a sociedade. A segunda alteração tem a ver com a necessidade de alterar o modelo puramente expositivo, que se mantém essencialmente inalterado há séculos, para um modelo mais interactivo, que use melhor os vastos recursos pedagógicos à disposição dos alunos de hoje e as diferentes características dos jovens do século XXI, que são mais flexíveis mas também mais exigentes no que respeita à qualidade dos materiais pedagógicos.

Para além de presidente do IST, é cientista e investigador especialista em Inteligência Artificial (IA). No seu livro “The Digital Mind” deixa antever que os avanços tecnológicos podem mudar radicalmente a sociedade, e até o próprio conceito de humanidade. De que forma?

Em cada década que passa, assistimos a alterações tecnológicas em maior número e com maior impacto na sociedade. Por exemplo, o primeiro iPhone, que lançou o smartphone como um acessório popular, tem apenas 10 anos. Nas próximas décadas iremos seguramente assistir a revoluções tecnológicas com impacto cada vez maior. Costumo dizer que, daqui a 30 anos, não usaremos telemóveis, mas outra coisa qualquer que ainda não sabemos o que é. O livro tenta extrapolar os avanços das últimas décadas e dos últimos séculos para o futuro mais ou menos distante, e prever as influências que estes avanços terão na forma como vivemos e trabalhamos.

Como está a IA a mudar o mundo do trabalho? Numa entrevista recente afirmou que a revolução tecnológica pode destruir até 50% dos empregos…

Na revolução industrial, o trabalho físico foi progressivamente substituído pela força das máquinas. Na revolução que agora se inicia, muito do trabalho intelectual será progressivamente substituído por computadores, e por robots, que desempenharão muitas das funções que agora são desempenhadas por pessoas. Não há grande dúvida de que muitos empregos desaparecerão, sendo substituídos por programas e/ou robots. A pergunta é se virão a ser criados novos e melhores empregos, que substituirão esses empregos que desaparecerão, à semelhança do que aconteceu na revolução industrial. Não tenho uma resposta definitiva para esta pergunta, mas estou em crer que não acontecerá exactamente o mesmo que aconteceu antes, e que o número total de empregos poderá vir a reduzir-se significativamente. Outra questão tem a ver com a concentração dos rendimentos nos empregos que não podem ser desempenhados por computadores, conduzindo a uma maior assimetria na distribuição dos rendimentos do que a agora existente, que já é bastante severa.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Outubro da Human Resources Portugal.

 

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