O futuro do sucesso organizacional pertence a quem abranda

Por Filipa Jesus, responsável de Recursos Humanos da Opensoft

 

No sector tecnológico, onde a rapidez é muitas vezes confundida com eficiência, é necessário repensar o significado de produtividade. Durante muito tempo, o paradigma foi explícito: mais horas de trabalho, mais tarefas realizadas. Actualmente, essa ligação tem vindo a ser questionada. Afinal, o que significa ser produtivo num contexto em que o burnout se tornou uma realidade silenciosa – e cada vez mais presente?

Hoje, sabemos com a experiência que trabalhar mais não é sinónimo de trabalhar melhor. Num ambiente onde os prazos são ambiciosos, a pressão é contínua, a exigência é elevada, a linha entre o desempenho e o esgotamento tornou-se, em muitos casos, indetectável. Cada vez mais, a comunidade de profissionais de Saúde e de Recursos Humanos reconhece que estar ocupado não é sinónimo de ser eficiente. Na última década, temos vindo a assistir a uma mudança de paradigma, segundo a qual o descanso passou a ser reconhecido como uma necessidade e deixou de ser visto como um luxo.

Os Recursos Humanos têm um papel fundamental na criação de políticas de bem-estar nas organizações, que valorizem a saúde mental e o equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional. Mais do que saber parar, é também crucial agir com empatia e criar modelos que preparem as equipas para a identificação precoce de sinais de alerta. A flexibilidade no trabalho, assim como a criação de canais de comunicação onde os colaboradores se sintam realmente ouvidos, são ferramentas essenciais. Este tipo de práticas deve ser instaurado e cultivado diariamente, ao ponto de passarem a caracterizar a cultura da empresa, e de forma a poupar os colaboradores ao sofrimento silencioso do desgaste mental.

A energia dos colaboradores passa a ser um recurso a gerir com inteligência, assim como o tempo. Trabalhar melhor, mas não necessariamente mais, torna-se o novo objectivo. Falar sobre pausas, necessidade de descanso e instabilidade emocional deixa de ser um tabu e passa a fazer parte do nosso dia-a-dia. Felizmente, existe cada vez mais abertura para falar sobre saúde mental de forma natural. A promoção dessa abertura pode ser decisiva.

Ao promover ambientes mais empáticos, estruturados, flexíveis e conscientes, as empresas não passam apenas a proteger a saúde dos seus colaboradores, mas também reforçam o seu compromisso com um futuro corporativo mais equilibrado, produtivo e com menos casos de cansaço crónico, prejudiciais para profissionais e respectivas famílias.

Esta mudança de mentalidade marca uma nova era na forma como entendemos o trabalho e o sucesso organizacional. É com grande sentido de missão que os profissionais de Recursos Humanos devem assumir o seu papel enquanto catalisadores de culturas corporativas em que a gestão do tempo é feita de forma saudável e responsável. Saber quando parar e dar prioridade ao descanso deve passar a ser um sinónimo inequívoco de sucesso estrutural dentro das organizações.

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