“O nosso País tem potencial”

Quem o diz é Luís Silvério, CEO do Grupo Quinta da Marinha, que nos conta como uma ideia secular se conjuga com a modernidade.

Por Pedro Costa Coelho

Localizado na Quinta da Marinha, Cascais, The Oitavos é o hotel do Grupo Quinta da Marinha. Com o objectivo de ser uma referencia inovadora no sector da hotelaria de luxo, o projecto envolve um investimento de 40 milhões de euros. Ambicionou-se redefinir o conceito de luxo através da fixação de novos standards de excelência quanto à arquitectura e funcionalidade de todo o conjunto hoteleiro e à  informalidade sem a qual, na óptica do promotor, o luxo é inexistente.

Segundo Luís Silvério, CEO do Grupo, ”Esta é uma área de negócio prevista desde sempre na configuracão do Grupo. The Oitavos vem, sobretudo, complementar a oferta da Quinta da Marinha enquanto estancia internacional de Turismo”. A integração da actividade hoteleira de luxo no universo operado pela Quinta da Marinha SGPS, S.A. permite “a afirmação da empresa, nacional e internacionalmente, como uma referência de qualidade ímpar na área residencial e de destino turístico”, acrescenta o gestor.

HR: O Grupo Quinta da Marinha tem vindo a demonstrar uma visão inovadora, ao longo de décadas, culminando recentemente com a abertura do Hotel The Oitavos. Como é que essa cultura de inovação tem ajudado o Grupo a estar na linha da frente?

Luís Silvério: A história da Quinta da Marinha revela uma larga e ousada visão de futuro, desde o seu fundador, Carlos Montez Champalimaud, que anteviu o elevado potencial turístico e urbanístico daquela Marinha, à data território inóspito, arenoso e quase desértico.

O Master Plan de desenvolvimento da Quinta previu desde sempre o desenvolvimento da actividade hoteleira. Existem claras sinergias com as restantes áreas de negócio, como o campo de golfe Oitavos Dunes, o Quinta da Marinha Centro Hípico, as actividade de restauração e os futuros Aldeamentos Turísticos, pelo que o The Oitavos vem completar e valorizar a oferta da Quinta da Marinha, consolidando-a como destino turístico de qualidade excepcional.

Este projecto vem reforçar a missão do Grupo de transformar a Quinta da Marinha numa estância de Turismo que integre zonas residenciais e de lazer, reconhecida nacional e internacionalmente.

Além disso, tendo em conta o elevadíssimo potencial do país, entendemos que a única forma de potenciar o turismo em Portugal passa pelo desenvolvimento de projectos diferenciadores ao nível do produto, serviço e enquadramento paisagístico.

HR: Num momento de crise económica e financeira, o Grupo Quinta da Marinha criou 170 postos de trabalho directos, com a inauguração do The Oitavos. Na sua opinião, o que é preciso, em Portugal, para existirem mais projectos que dignifiquem os empresários portugueses e sejam benéficos para a economia portuguesa?

Luís Silvério: O projecto nasceu muito antes da actual crise económica, mas embora o contexto parecesse mais desfavorável, nunca foi equacionada a possibilidade de adiar o projecto.

Trata-se de um projecto claramente diferente da concorrência, quer pelo hotel em si quer pela cultura de serviço, além de que este é um produto que se destina a um segmento alto e de qualidade que, por definição, é aquele que menos se retrai em tempos de crise.

Pelo número de postos de trabalho criados e investimento inerente, o Hotel The Oitavos teve um contributo importante para a dinamização económica da região e do país, o que nos confere um sentimento de gratificação redobrado.

A crise económica provocou uma retracção global no investimento que cria em si um ciclo vicioso economia – investimento – consumo, que prejudica a capacidade do país de se recuperar. O mercado mudou nos últimos dois anos e com isso emergem novos desafios, mas também novas oportunidades. O investimento tem que ser mais cauteloso e sobretudo muito acertivo, mas não deve deixar de ser este o motor da recuperação e dinamismo da economia nacional.

HR: Qual é o objectivo de crescimento para os próximos cinco anos? Até que ponto a situação económica e financeira global pode afectar o crescimento?

Luís Silvério: O projecto de consolidação do hotel é actualmente uma das principais prioridades do Grupo, pelo que o crescimento a curto prazo será canalizado para o amadurecimento deste projecto.

O contexto económico não é o mais favorável, mas acreditamos no projecto e no seu potencial, pelo que as nossas perspectivas de crescimento mantêm-se. De sublinhar dois factores positivos: por um lado, um dos targets principais do The Oitavos é, sem dúvida, o público estrangeiro, atraído pelo golfe e pela envolvente natural privilegiada da região; por outro lado, o turismo dentro do país será naturalmente potenciado este ano, atraindo “turistas” nacionais.

HR: Como vê o papel do Estado para incentivar o crescimento económico e o bem-estar social?

Luís Silvério: O país atravessa um período difícil que apenas poderá ser ultrapassado através da conjugação de esforços e do contributo de todos, desde o Estado, às empresas, aos consumidores. Todos devemos entender o nosso papel no processo de reconstrução económica e contribuir activamente para o progresso do país.

HR: Algumas vezes, temos acesso a novas teorias de gestão. No seu entender, a gestão empresarial está sempre em mutação? Quais são os pilares essenciais de uma boa gestão?

Luís Silvério: Naturalmente, o actual aceleramento dos processos de comunicação e dos fluxos de trabalho exigem uma rápida adaptação das teorias e métodos de gestão. À medida que assistimos à evolução da forma de actuar, a gestão impulsiona as formas de a pensar e a mutação das estratégias. Outro factor importante é naturalmente a alteração dos ciclos económicos. O período que vivemos actualmente exige uma natural mudança nas estratégias de gestão para se enfrentarem os novos desafios e,ao mesmo tempo, descobrirem-se nestes novas oportunidades.

Uma gestão eficaz está sempre alicerçada nas pessoas, sobretudo no que diz respeito ao mercado dos serviços, no qual operamos, em que a gestão do capital humano constitui uma prioridade estratégica da gestão. As pessoas são efectivamente o interface das empresas junto dos seus públicos e a criação da imagem da empresa começa na imagem de cada um dos seus colaboradores. Nesse sentido, o The Oitavos tem seguido uma linha de actuação muito rígida ao nível dos recursos humanos, valorizando a formação, a partilha de valores e a satisfação de todos os colaboradores.

HR: Portugal vive numa crise económica e os líderes acusam os liderados e os liderados acusam os líderes… No seu entender, o que podem e devem fazer os trabalhadores e o que podem e devem fazer os gestores para ultrapassar a situação em que vivemos? Existe uma verdadeira crise de valores, a acrescentar às crises económicas e financeiras?

Luís Silvério: Em situações de crise, devem ser analisadas as causas e não os causadores, mas sobretudo devem ser analisadas e apresentadas soluções. Insistir no problema contribui apenas para o perpetuar. É necessário conjugar esforços para redefinir estratégicas, potenciar vantagens competitivas e, sobretudo, actuar com maior eficácia.

As crises económicas têm a vantagem de permitir a evolução darwiniana dos negócios. Apenas os fortes e os que se sabem adaptar sobrevivem. É importante que as empresas e os empresários, mas também os colaboradores percebam que não é suficiente ser-se bom, tem que se ser óptimo e isso só pode ter benefícios positivos para a economia e para o país.

HR: O Grupo Quinta da Marinha é uma empresa que cuida e valoriza os seus recursos humanos e os seus talentos. Que políticas especificas adoptam para reter os talentos e para motivarem os colaboradores? Como é que analisa o facto de os talentos portugueses estarem, cada vez mais, a sair de Portugal?

Luís Silvério: Como mencionei anteriormente, os recursos humanos são cada vez mais um dos activos mais importantes das empresas. Quando falamos em serviços, essa importância eleva-se, pela proximidade com o cliente e pela importância da satisfação e da motivação na qualidade do serviço prestado.

Nesse sentido, o Grupo Quinta da Marinha tem privilegiado uma estratégia de gestão de recursos humanos, assente em políticas de gestão do desempenho, pela determinação de objectivos trimestrais; a gestão de carreiras; as entrevistas de saída; o recrutamento e a selecção; e a análise do Clima Organizacional. Pilares estratégicos para uma gestão eficaz e responsável do capital humano da empresa.

Somos um Grupo de cariz familiar, cuja orientação para os processos, para a determinação de objectivos e para os resultados, é determinante, razão pela qual atribuímos igual importância à qualidade do serviço que prestamos aos nossos clientes.

Quanto à saída de talentos do país, trata-se de um percurso natural face à dimensão do nosso mercado. Temos um enorme potencial de talento, de profissionais altamente qualificados para os quais o país não tem capacidade de absorção. O importante é perceber que os portugueses são muito valorizados nos outros países e constroem importantes carreiras, prestigiando o país e todos os portugueses.

No Grupo Quinta da Marinha privilegiamos a contratação de recursos nacionais, valorizando as competências e talentos dos profissionais portugueses.

HR: Em que área (ou áreas) é que o país deve apostar e focalizar para se tornar mais próspero e competitivo?

Luís Silvério: Actuando no sector do turismo, tenho que ressaltar o enorme potencial que o país tem a este nível e que, apesar dos elevados esforços que se têm desenvolvido nos últimos anos – continua a ser subaproveitado.

Com uma posição geográfica privilegiada e uma imensa costa, Portugal oferece uma diversidade de destinos e de experiências. O clima, a hospitalidade e a gastronomia são vantagens competitivas importantes, que tornam o país num dos destinos preferidos dos europeus, sobretudo os oriundos do norte da Europa.

É importante que exista um investimento na promoção internacional do país e da sua oferta turística, que não esteja concentrada na região do Algarve, mas antes dê a conhecer a multiplicidade de oferta e experiências que o país oferece.

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