O novo normal: como assegurar uma retoma em segurança (com video)

RE(TALK)

Assegurar a saúde física mas também mental dos colaboradores. São estes os dois vectores que estão nas prioridades da retoma (gradual) à actividade no que respeita às pessoas. Ana Cristina Guimarães, directora de Recursos Humanos da Hovione, e de David Ferreira, Sales & Operations director da Randstad Portugal, aceitaram o desafio de partilhar, numa conversa em directo, como está a ser feito nas suas empresas. Foi a 12.º re(talk). Se não viu, (re) veja agora.

 

Saímos do Estado de Emergência e estamos agora em Situação de Calamidade Pública. O nome parece pior mas na realidade significa que, desde o passada dia 4 de Maio, estamos em fase de desconfinamento progressivo, com o retomar de algumas actividades. Ana Cristina Guimarães e David Ferreira partilharam aquelas que são as suas experiências, no confinamento obrigatório e agora na retoma de alguma normalidade, numa conversa moderada Ana Leonor Martins, directora de Redacção da Human Resources.

Na Hovione está a ser preparado um plano estratégico de regresso das pessoas ao espaço físico da empresa, mas que só será posto em prática a partir de dia 1 de Junho, de acordo com as indicações oficiais. «Há uma série de medidas que aplicámos desde o dia 16 de Março e que vamos manter, nomeadamente rotação das equipas e assegurar que as pessoas não se juntam em espaços comuns como na cantina e nos balneários», refere Ana Cristina Guimarães.

Na farmacêutica, a principal preocupação agora é olhar para as instalações e percebe de que forma vão conseguir trazer todas as pessoas de volta às instalações, cumprindo as medidas impostas de distanciamento social. «Vamos ter em atenção o espaço de dois metros entre as pessoas, estamos a verificar a questão dos acrílicos, com vista a rentabilizar ao máximo os espaços, e condicionar os fluxos de deslocação dentro da empresa», garante. «O cuidado com o bem-estar e a segurança dos colaboradores continua na ordem do dia para a Hovione, sendo que o desafio maior é perceber o que significa, na prática, o levantamento de algumas das restrições, de modo a perceber quem deve ou não regressar à empresa, e porque o deve fazer.»

 

Relativamente às empresas com quem a Randstad trabalha, David Ferreira sente que existe uma grande vontade em regressar à normalidade. E relativamente às pessoas acredita que a vontade é igual. «Mas é preciso garantir que esta retoma seja feita em segurança», sublinha. Foi com essa preocupação que a Randstad, tanto a nível global como nacional, «estabeleceu uma série de protocolos que permitem preparar este acompanhamento com uma proximidade muito grande, não só com as indústrias, mas nos vários sectores, para garantir que temos uma retoma em segurança e que os colaboradores podem dar corpo às operações dos clientes, garantindo assim a continuidade dos negócios, necessária ao sucesso dos sectores, das empresas e das pessoas.»

A preparação, o contacto e a comunicação, bem como a proximidade com as pessoas têm sido os lemas da Randstad. «Importa acompanhar os planos de desenvolvimento e de construção de protocolos específicos do cliente, porque cada indústria tem a sua especificidade, o que faz com que a Randstad tenha que aproximar adaptar as recomendações aos sectores e às suas necessidades especificas», faz notar David Ferreira.

 

E o que pensam as pessoas?

Nesta altura de retoma, importa também perceber o que sentem as pessoas, se estão tranquilas ou receosas em voltar ao posto de trabalho. Na Hovione, esse “medir de pulso” tem sido uma preocupação constante. «Um dos nossos objectivos durante todo este período foi também entender se as pessoas estavam bem em casa e que dificuldades é que estavam a sentir», garante Ana Cristina Guimarães. Para perceber se podiam criar melhores condições, a comunicação foi sempre muito próxima com todos os colaboradores. «Para além do nosso plano de comunicação, criámos grupos de watsapp com os colaboradores, sendo que comunicamos semanalmente, mantendo-os informados de todas as alterações que estamos a fazer na empresa e ajudando-os a passar esta fase através da partilha de dicas para que possam gerir melhor a situação em casa.»

A preparação para o regresso significa que os line managers vão ter de sistematizar os pressupostos do regresso dos colaboradores, percebendo quem tem restrições em voltar e que restrições são. «O que sabemos é que vai haver um conjunto significativo de colaboradores que não vai conseguir regressar, pois temos muitos colaboradores com filhos pequenos», exemplifica a directora de Recursos Humanos. Este levantamento visa garantir que, antes de 1 de Junho, a empresa possa ter certeza de quem pode efectivamente regressar e que tem efectivamente condições para fazê-lo.

Relativamente ao sentimento dos colaboradores, Ana Cristina Guimarães refere que há de tudo um pouco: «uns estão tranquilos e desejosos de voltar à empresa, mas depois há aqueles que estão com algum receio de voltar porque passam de uma situação de super protecção deles e das suas famílias para uma situação em que estão expostos a um risco maior.»

 

Na Randstad também está a ser feito um acompanhamento muito próximo dos colaboradores, «não só para para garantir um regresso em segurança, mas para assegurar a preparação de alguns perfis de grupos alvo de que muitos dos clientes possam necessitar», esclarece David Ferreira. «Sendo a Randstad uma empresa de prestação se serviços na área de Recursos Humanos existe sempre um grau de proximidade com os colaboradores e com os clientes», garante, fazendo notar: «desde 2007 que a empresa usa a tecnologia a favor da parte humana e isso ajudou muito no assegurar o sucesso das operações durante esta crise».

 

A saúde psicológica também não é esquecida

Algumas empresas estão ainda a criar formas de garantir um apoio psicológico aos colaboradores. E na Hovione esse tema não está relegado para segundo. «Para nós faz todo o sentido, especialmente na fase pela qual estamos a passar», assegura Ana Cristina Guimarães, revelando que vai ser criado um programa – extensivo aos familiares dos colaboradores – cujo objectivo é facultar uma ajuda externa, para que se sintam mais  à vontade e não haja invasão de privacidade».

Relativamente a esta área, também a Randstad tem várias medidas a decorrer. «Se o objectivo é aproximarmo-nos das pessoas, temos que ter noção de que tanto a gestão da vida pessoal com a vida profissional é hoje um tema muito relevante para a nossa população», sublinha o responsável. Na área de Contact Centers, por exemplo, foi criada uma equipa interna de psicólogos que identifica, gere e acompanha toda a componente emocional das equipas, «enquanto que, internamente, temos a realização regular de um survey, tendo o último versado sobre aquilo que é a nossa vida em âmbito Covid-19».

Devido à obrigatoriedade de distanciamento, o Sales & Operations director defende que é ainda mais importante reforçar a proximidade. «As ferramentas, mesmo sendo digitais, criam uma proximidade com as equipas, tendo-se criado uma dinâmica que não existia antes, com momentos de partilha global.»

 

O papel do directores de Recursos Humanos

Nunca o papel e a importância dos directores de Recursos Humanos foi tão crucial como agora. Vivemos num ambiente de incerteza, o que torna ainda mais difícil a retoma, trazendo um maior grau de exigência para estes responsáveis. Ana Cristina Guimarães revela que a sua «maior aprendizagem com toda esta situação foi perceber que cada dia é efectivamente um dia, o qual tem de ser passado a avaliar situações e a tomar decisões muito rápidas». Mas também é verdade que passar a estar muito “dependentes” de directrizes externas, o que lhes retirou alguma autonomia. «Apesar de a Hovione, naturalmente pela área de negócios onde actua, ter uma enorme preocupação em criar condições de segurança, tínhamos de ir seguindo sempre as orientações, o que criou algum impasse na minha função, porque me impedia de me antecipar a algumas situações.»

Mas, para a directora de Recursos Humanos, um “ensinamento” fundamental foi a importância de manter o foco. «A capacidade de identificar o que é importante e o que é acessório trouxe também uma grande aprendizagem pois o tempo era pouco e não dava para tudo», afirmou.

 

Perante o actual desafio, David Ferreira conclui: «É preciso garantir a segurança das pessoas que trabalham fora e, relativamente às que trabalham desde casa, assegurar que possuem as melhores condições para o fazerem, garantindo sempre que os protocolos de segurança não são esquecidos, uma vez que a pandemia não acabou e o vírus continua lá fora.»

re(Veja) aqui a conversa, na íntegra:

As re(talks) são uma iniciativa que se repete todas as terças e sextas-feiras, juntando dois especialistas para repensar os principais temas do mercado de trabalho e perceber como empresas e colaboradores se estão a adaptar a esta nova realidade imposta pela COVID-19.

 

Texto: Sandra M. Pinto

 

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