O que pode a COVID-19 ensinar à Gestão de Pessoas?

Vivemos tempos difíceis, com novas realidades, mas é muito importante que comecemos a pensar no day after e em como poderemos potenciar e transformar estes desafios em novas oportunidades: novas oportunidades de negócio e novas oportunidades de organização interna: chegou definitivamente, e em larga escala, a digitalização, simplificação e agilização de processos.

 

Por Ângela Santos, board member e responsável pela gestão dos talentos da Abaco Consulting

A rápida propagação do novo coronavirús levou a que muitas empresas tivessem de tomar medidas de prevenção do dia para a noite, ainda que, meio sem certeza de quais os melhores passos a tomar. Foram começando a aderir ao teletrabalho, a incentivar e a pedir aos seus colaboradores que ficassem em casa e, sobretudo, que se mantivessem atentos e próximos dos seus clientes. Embora esta seja uma opção laboral com cada vez maior protagonismo na vida das organizações, a sua obrigatoriedade e urgência de implementação, acabou por impulsionar o surgimento de novos desafios.

Atrevo-me, talvez, a dizer que nunca tínhamos pensado em certas temáticas, como até agora. Chegou o momento das organizações se reinventarem! Não apenas em termos de negócio, apesar desse ser, certamente, o primeiro pensamento de qualquer gestor. Mas também não nos podemos esquecer de que nenhuma organização se conseguirá erguer se não tiver uma equipa estável e unida; disposta a enfrentar todos os problemas que possam surgir e a encontrar as soluções mais inovadoras para os resolver. Pessoas focadas em soluções. Parece um cliché, mas, mais do que nunca, é fundamental as empresas contarem com pessoas que vejam o copo meio cheio e que vão à procura de encher o outro meio.

Neste sentido, é essencial que os gestores, em momentos desafiantes como o que atravessamos, tenham em conta na sua estratégia dois níveis de comunicação: um tático e inicial, no qual o objectivo é transmitir a segurança aos seus colaboradores, assegurando o normal funcionamento da empresa e das suas diferentes áreas de actuação. E em segundo, deverão focar-se em demonstrar a resiliência e a continuidade do negócio, reforçando sempre a visão estratégica e os objectivos de médio prazo da empresa, onde deve ser reflectida a perspectiva do crescimento da empresa – novos produtos ou iniciativas específicas para apoiar o ecossistema –, visão esta que deverá ser demonstrada aos talentos, assim como reflectida para os clientes.

Perante todas as dúvidas que surgem e quais os melhores caminhos a seguir, é aqui que surge um novo e enorme desafio: como conseguir manter viva a cultura da empresa quando todos estamos em teletrabalho? Este é, realmente, o grande desafio, actualmente, para os gestores de Recursos Humanos. No meio de todos os outros processos que terão de desenvolver e implementar, não podem, sem dúvida, descurar a importância de manter activa a cultura da empresa, sendo essencial encontrar medidas para a continuar a fomentar, fortalecer laços entre equipas e ajudar à promoção de rotinas equilibradas de trabalho, em conciliação com o espaço e tempo pessoais.

Neste novo contexto, temos de ter sempre premente que a baixa comunicação, neste período crítico, incentivará a uma diminuição da produtividade e da inovação. Uma empresa com bons níveis de colaboração encoraja novas ideias e perspectivas e, portanto, implementar uma estratégia de comunicação duradoura e agora, mais do que nunca, mais próxima, fará com que os talentos se sintam mais envolvidos e executem projetos de uma forma incrivelmente mais fácil.

Deste modo, com o teletrabalho, os colaboradores estão fisicamente afastados, sendo por isso mais difícil transmitir os valores, hábitos e cultura da empresa. Para combater este desafio, enumero algumas medidas que devem ser implementadas para fortalecer a cultura organizacional, melhorar a comunicação e o trabalho de equipa, numa altura completamente atípica:

1 – Encorajar o feedback e demonstrar abertura para ouvir os colaboradores, criando novos canais internos: Com o intuito de se retirar o máximo partido do feedback, é importante passar a mensagem de que qualquer colaborador o pode dar e de que a organização está disponível para os ouvir. Para isto, é essencial que sejam disponibilizados vários canais, de forma a fomentar e a promover uma comunicação interna saudável e, consequentemente, aumentar a coesão das equipas.

2 – Fomentar espírito de equipa: Agora, mais do que nunca, é fundamental que, embora à distância, estejamos sempre atentos às reais necessidades e aos problemas dos nossos colaboradores, para que continuem a sentir-se apoiados e que o espírito de equipa não se perca. De facto, uma equipa que se entende bem irá, automaticamente, comunicar melhor. Mas para uma equipa que ainda não se entenda tão bem, a comunicação é a chave. Neste momento é fundamental comunicar mais: por não estarmos frente a frente, há partes significativas da comunicação que se perdem. Por isso, é importante dar mais contexto, mais informação, explicar melhor, transmitir decisões e racionais por trás das mesmas.

3 – Ser flexível nos horários estabelecidos: Para muitos o teletrabalho já era algo comum, mas, para muitos outros, era algo novo. Assim, a empresa deverá fazer de tudo para conseguir disponibilizar aos seus talentos todas as ferramentas que possam necessitar para desenvolver o seu trabalho, no dia-a-dia. É, igualmente, importante, que exista também uma maior tolerância e flexibilidade para os horários dos colaboradores, sobretudo, para o que estão em casa com filhos pequenos e que necessitam de uma maior atenção.

 

 

 

 

 

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