O que podemos aprender com Steve Jobs e aplicar na Gestão de Pessoas

Génio. Visionário. Vanguardista. Inovador. Todos estes adjectivos são usados para descrever Steve Jobs. Mas o lendário co-fundador da Apple também ficou marcado por uma faceta não muito elogiosa da sua personalidade: a suposta falta de habilidades interpessoais.

 

O site convenia.com refere que “reza a lenda” que ele às vezes agia como carrasco frente aos sua subordinados, chegando ao ponto de demitir pessoas no elevador da empresa e de submeter colaboradores a jornadas de trabalho abusivas. Claro que esses actos não constam em nenhum manual de boas práticas de Recursos Humanos.

O que muitos ignoram é que no meio de toda essa aparente falta de habilidade para lidar com pessoas, havia algumas características importantes na sua personalidade que trariam bastante valor a qualquer gestor de Recursos Humanos.

Afinal, Steve Jobs foi capaz de guiar os colaboradores da Apple por um caminho rumo ao sucesso fazendo da Apple uma das maiores empresas do mundo. E isso diz muito!

Algumas lições que Steve Jobs pode ensinar aos Recursos Humanos

  • Valorizar os talentos

Jobs era um perfeccionista inveterado. Dizem que ele pedia à secretária para limpar a sua agenda na semana que precedia as suas famosas apresentações para que ele pudesse montar o discurso e treiná-lo com dedicação total.

Mas esse traço obsessivo trazia um bónus interessante no que diz respeito à gestão de pessoas: quando se deparava com alguém dotado de grandes habilidades para executar o trabalho devido na Apple, Jobs não tentava minar ou desprestigiar essa pessoa para se sentir mais competente (como fazem muitos chefes despreparados).

Era comum que ele desafiasse as convicções de um colaborador – mas sempre para testar se ele estava certo do que estava fazendo, e não para se autopromover. Quem passasse pelo teste era valorizado.

Exemplo disso foi o prémio anual criado em 1981 para quem melhor desafiasse Jobs na equipa de desenvolvimento do Macintosh. Steve sabia e aprovava a premiação, pois entendia o valor do “conflito positivo”.

  • Recrutar os melhores sem preocupação excessiva com burocracia

Processos selectivos em grandes empresas tendem a basear-se na burocracia, negligenciando candidatos com enorme potencial só que com faculdades e empregos modestos na bagagem em favor de candidatos que apresentam um currículo de peso mas que, em diversos casos, não são, de facto, as melhores opções para as vagas.

Steve Jobs, por outro lado, gostava do primeiro tipo de candidato. Ele não fazia muita cerimónia em entrevistas e lançava mão de métodos pouco ortodoxos para avaliar candidatos.

Quando estava a recrutar profissionais para integrar a equipa de desenvolvimento do Macintosh, o seu critério principal era a paixão que o candidato tinha pelo produto. Um dos “testes” que ele aplicava no processo selectivo era o de entrar com o candidato numa sala onde havia um protótipo do computador coberto por um véu, descobri-lo com um gesto teatral e verificar a reacção que a pessoa tinha ao observar o equipamento pela primeira vez. Quem se mostrasse legitimamente entusiasmado, em geral, era contratado.

Hoje em dia, já é mais comum testemunhar processos selectivos nos quais os recrutadores fogem um pouco do clichés e pedem ao candidato para responder a perguntas do tipo: “suponha que nesta sala entrava um pinguim vestindo com um sombrero. O que é que ele falaria?”. Este é o tipo de perguntas que Steve Jobs faria.

  • Extrair o melhor de cada profissional

Se Jobs não conseguisse estimular os profissionais da Apple a se superar, a empresa não se teria transformado no colosso que é hoje. “O meu papel não é ser bonzinho com as pessoas. O meu papel é torná-las melhores” dizia ele.

Uma ocasião, Jobs reclamou com o engenheiro Larry Kenyon que o tempo de execução do sistema operacional do Macintosh estava lento, ao que Kenyon retrucou que não havia como melhorar. Steve então perguntou: “se a vida de alguém dependesse de reduzir esse tempo de execução, você encontraria uma solução?”, e então explicou que se cinco milhões de pessoas usassem o Macintosh e se o tempo de execução fosse 10 segundos mais rápido, isso representaria uma economia de cerca de 300 milhões de segundo por ano. Poucas semanas depois, o sistema estava 28 segundos mais rápido.

Exigir que os gestores “distorçam a realidade” pode ser pedir demais, mas todos podem aprender a motivar colaboradores retirando deles o melhor dentro de um projecto.

Não é correcto (e nem eficaz) fazer ameaças ou chantagens, mas o gestor deve ter consciência de que um bom líder estimula o colaborador a sair ligeiramente de sua zona de conforto – sem cometer o erro de forçá-lo a fugir demais dela – para alcançar uma performance maior.

  • Criar um propósito inspirador

De entre as muitas frases famosas de Jobs, uma das mais marcantes é a que ele proferiu no seu regresso à Apple, em 1997: “We’re here to put a dent in the universe” (“Estamos aqui para colocar uma marca no universo”). E conseguiram.

Não que todos os colaboradores precisem ter a ambição de mudar o mundo com o seu trabalho. Mas é fundamental, tanto para o desempenho como para a satisfação do colaborador, que ele tenha um senso de propósito em relação ao que faz, e de preferência algum objectivo que extrapole o financeiro.

Quem não vê o motivo que o leva a fazer o que faz no escritório oito horas por dia, cinco dias por semana, dificilmente vai atingir uma alta performance – e muito menos ter uma elevada motivação.

Há mais frases que indicam o quão focado na motivação Jobs era: “Não me importa ser o homem mais rico do cemitério. Deitar-me na cama à noite e perceber que fizemos algo maravilhoso, isso sim é importante”.

Esta era a mentalidade transmitida por ele a quem trabalhava na Apple. Esta é a mentalidade que um líder deve transmitir aos seus colaboradores.

“O seu trabalho vai preencher uma grande parte da sua vida, e a única forma de se sentir plenamente satisfeito é fazendo um bom trabalho. E a única forma de fazer um bom trabalho é amando o que faz.” Outra frase que define o propósito e que poderia constar no cabeçalho de qualquer apresentação de PowerPoint exibida aos novos colaboradores de uma empresa.

Mesmo com sua “falta de tacto” para lidar com as pessoas, Steve Jobs ainda teria muito a ensinar sobre comportamento humano.

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