«O teletrabalho total não funciona. As pessoas não aguentam»

Helena Lopes, economista do trabalho e professora do ISCTE, considera que o fenómeno do «teletrabalho total não funciona», porque «as pessoas não aguentam».

 

«Preocupa-me concretamente o teletrabalho e a questão da polarização da sociedade, porque as duas coisas estão ligadas», disse Helena Lopes, em entrevista ao “Jornal de Negócios”, alertando para «pressões para alargar o teletrabalho». «Já está a haver. O próprio Estado prevê pôr 25% dos funcionários públicos a trabalhar remotamente», uma vez que «as estimativas dizem que o teletrabalho aumenta a produtividade em 15%, e também há menos custos fixos para as empresas», apontou.

Por um lado, fez notar, «as organizações vão fazer muita pressão para que haja o máximo de pessoas em teletrabalho», porque, «em termos económicos, é muito eficiente», mas também «há pressão por parte dos trabalhadores que estão em teletrabalho». «A maioria deles, de facto, gosta de estar em casa», referiu a especialista.

No entanto, a economista do trabalho chama a atenção para a intensificação do trabalho. «As pessoas, em geral, trabalham mais horas e, além disso, o teletrabalho aumenta as desigualdades de género, porque as mulheres continuam a assegurar a maioria das tarefas domésticas», enquanto «as decisões das chefias são menos questionadas», explicou ao jornal.

Por outro lado, «significa o fim das interacções sociais físicas, da relação entre colegas. Há uma diminuição da capacidade de ter empatia. E é isso que me leva a temer a tal polarização da sociedade que referi», porque nem todos podem trabalhar remotamente. «Só as pessoas com mais estudos e com tarefas intelectuais é que o podem fazer. As outras, as que têm de continuar a trabalhar com o corpo, precisam de se deslocar para trabalhar», apontou.

Assim, conclui que «o teletrabalho total não funciona» e «já se sabe que as pessoas não aguentam», pois «precisamos de interacção social». No entender de Helena Lopes, a resposta pode estar, eventualmente, num modelo misto, isto é, com componente presencial, que «tem de ser superior à não presencial», e remota. «E é preciso ter muito cuidado para que não se crie esta separação entre os que podem gozar o teletrabalho e os que não podem», avisou.

Ler Mais