O trabalho remoto chegou, mas não para todos…

«É preciso cuidar das empresas e dos empregos. É preciso apoiar quem continua a trabalhar, em casa ou fora. É preciso apoiar quem continua a dar trabalho. E é preciso apoiar também quem tem mesmo de parar de trabalhar.»

Por Marta Santos, EY Associate Partner, People Advisory Services

 

O trabalho remoto chegou. Sem pré-aviso, sem preparação, sem gestão de mudança, ou planos de transição. Da noite para o dia, deixámos de trabalhar no escritório e passámos a trabalhar em casa. Não foi fácil. Não é fácil!

Há uma gestão de espaços que é necessário fazer – manter o espaço-casa e o espaço-trabalho (e também o espaço-escola de várias escolas!) num mesmo espaço. Muitos “espaços” para caberem nas nossas casas!

Há também a gestão das rotinas. É preciso conciliar as horas de uns trabalharem e outros estudarem, de todos comerem, de depois conversarem, brincarem, descansarem…

Há ainda a gestão dos cuidados da casa – porque se estamos todos, precisamos de cuidar todos do tal espaço!

A gestão das compras! O que era, até há poucos dias, uma não questão – milhares de lojas abertas às mais variadas horas, com tudo o que se quiser para comprar, de bens essenciais e alguns acessórios – hoje é todo um planeamento de horários e logística para não apanhar tantas filas, para ter a certeza que temos tudo o que precisamos e com redobrados cuidados de higienização, antes e depois.

A gestão do stress – porque vivemos tempos difíceis e incertos. Porque temos medo de um inimigo invisível e desconhecido. Porque não estamos habituados a estar fechados em casa. Porque temos saudades da família que não está ao pé de nós, dos amigos, dos jardins, das esplanadas, das praias.

Não é fácil. Não é fácil para as profissões que podem trabalhar remotamente – e são várias! Desde os call centres – que abrangem sectores tão variados como a banca, a saúde ou o comércio; passando pelas áreas de IT, que podem apoiar remotamente grande parte dos utilizadores, como podem programar em qualquer local; as áreas financeiras e contabilísticas, que por acessos vários podem continuar a apoiar clientes e fazer transações; a consultoria, habituada a equipas de várias partes do mundo, que colaboram por projetos; a comunicação, ou o marketing, que se suportam em meios digitais para manter o trabalho a fluir; mesmo o ensino, ainda que longe de ser ideal, é possível…

Mas se para estes não é fácil, o que dizer dos outros?

Como podemos trabalhar remotamente se tivermos uma profissão hands-on? Como podemos trabalhar no sector da construção remotamente? Ou na indústria automóvel, ou naval, ou alimentar? Não num futuro repleto de drones e robots controlados remotamente… Mas hoje.

Como podemos ir trabalhar se as lojas em que trabalhamos estão fechadas? Como podemos trabalhar se os palcos que ocupamos estão vazios, de artistas, de pessoal de apoio de público e de palmas? Podemos tentar manter viva a arte, sim. E muitos têm-no feito – e ainda bem! – pelas plataformas possíveis.

Não há trabalho remoto de restaurantes (a não ser por take away ou delivery)… de cabeleireiros, de pessoal de voo e de terra, em aeroportos desertos, a não ser de aviões estacionados… Nem destes nem de tantos outros.

E claro – não há trabalho remoto nos hospitais. Nem nos lares de idosos, nem nas forças de segurança e de emergência. Para os que que cuidam de quem precisa. (a estes, em especial, muito obrigada!)

Não é fácil. Não vai ser fácil. Também por isto, é preciso que consigamos cuidar de nós. Uns dos outros. Das nossas casas, das nossas famílias, dos que nos são mais chegados.

Mas é também preciso cuidar das empresas e dos empregos. É preciso apoiar quem continua a trabalhar, em casa ou fora. É preciso apoiar quem continua a dar trabalho. E é preciso apoiar também quem tem mesmo de parar de trabalhar.

 

 

Ler Mais