Opinião: Empreendedorismo feminino em Portugal

O empreendedorismo está em voga, disso não temos dúvidas. É um tema que tem sido falado vezes sem conta nos últimos anos. E, sem dúvida, Portugal é um país de empreendedores. Homens e mulheres. Mas é necessário dar maior visibilidade ao empreendedorismo feminino.

 

Por Monica Milone, general manager da Amway Iberia

Em Portugal assiste-se a uma enorme vontade de transmitir à população o quão importante é ter uma veia empreendedora, através de unidades curriculares presentes nas escolas, concursos e ajudas ou incentivos que são facultados por parte do governo, associações ou empresas.

O empreendedorismo está em voga, disso não temos dúvidas. É um tema que tem sido falado vezes sem conta nos últimos anos. E, sem dúvida, Portugal é um país de empreendedores. Todos os dias testemunhamos a abertura de um novo espaço, tomamos conhecimento de uma nova startup, de um novo produto/ serviço. Segundo dados da Comissão Europeia, as Pequenas e Médias Empresas (PME’s) portuguesas representam 67% do valor acrescentado total e proporcionam 79% do emprego total do país.

Estas empresas são geridas, na sua maioria, por empreendedores que identificaram uma oportunidade de negócio e arriscaram. Homens e mulheres com gosto pelo risco, por pensar em inovação e no desenvolvimento de novos produtos. Mas, apesar dos obstáculos de criar um negócio próprio afetar por igual homens ou mulheres, verificamos que a franja feminina da população domina, em 2016, a matéria do empreendedorismo.

Segundo o estudo de 2015 do Relatório Global de Empreendedorismo Amway (AGER), quando se fala em positivismo face ao empreendedorismo, as mulheres respondem com 53% face a 60% dos homens. E o que é mais significativo quanto ao tema do “potencial empreendedor” é o facto de se verificar, de forma prática, que, no que respeita a criar um negócio próprio, o sexo feminino representa cinco pontos percentuais a menos (36%) que o sexo masculino (41%).

A história faz-nos perceber que a presença das mulheres em ambiente laboral é fundamental. E, hoje em dia, existem mulheres pelo mundo fora com histórias verdadeiramente inspiradoras, que batalharam e fizeram a diferença para terem êxito nos seus projetos e serem as suas próprias chefes. Por isso é necessário salientar e dar visibilidade ao empreendedorismo feminino, uma vez que vai gerar independência e autonomia, mais emprego e, consequentemente, impacto económico e social.

Superar o medo do fracasso e assumir riscos é vital para qualquer negócio em desenvolvimento. Neste sentido, o mesmo estudo reflete que o medo de fracassar é uma barreira importante para as mulheres em Portugal: 72% afirmam que é um receio no momento de arrancar com um negócio próprio, frente a 69% dos homens. O ambiente económico não favorável, a burocracia para avançar e o possível insucesso do negócio são alguns dos elementos que contribuem para este medo de fracasso, e é por este motivo que as instituições que apoiam o empreendedorismo em Portugal precisam de modificar rapidamente este paradigma, com ações concretas de apoio no enquadramento destes temas direcionados às empreendedoras.

Com base no estudo AGER 2015, os principais motivos pelos quais as mulheres portuguesas tendem a criar o seu negócio é: o gosto de serem as suas próprias chefes (45%), auto-realização (30%), anseio de regresso ao mercado de trabalho (30%), segunda fonte de rendimento (15%) e conciliação da vida pessoal e familiar com a vida profissional (12%). O que não se sucede à escala global, uma vez que é a terceira opção escolhida.

A conciliação, porém, demonstra assumir um papel secundário para a sociedade, e inclusivamente para as próprias mulheres, que a colocam como uma das últimas motivações no momento de criar um negócio. No sul da Europa, onde os papéis tradicionais no que se refere ao género continuam a ser sentidos, e onde, por norma, as mulheres assumem as responsabilidades familiares e domésticas em maior número do que os homens, este aspeto não deve ser esquecido, já que tem influência direta no esforço e no tempo que podem dedicar às suas carreiras profissionais. Contudo, conciliar estes dois parâmetros deveria ser relevante na vida de todos os indivíduos, assim como o ajuste na flexibilidade e organização dos seus horários. Esta é outra das questões pendentes em Portugal.

Há mais de duas décadas que trabalho de forma próxima com o mercado português e ao longo destes anos tenho observado como, de forma evolutiva, o número de empreendedoras e de grandes empresas lideradas por mulheres tem vindo a crescer. Porém ainda existe algum trabalho a ser desenvolvido para que todas as todas as mulheres tenham foco, motivação e oportunidade para dar início ao seu futuro como empreendedoras.

*Texto escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 em vigor desde 2009.

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