Opinião: Nós não somos a função “Pessoas”

A nossa verdadeira função é criar valor! Em Recursos Humanos, há muito tempo que estamos focados em processos e … mais processos. Poucas vezes em resultados e raras vezes em eficácia.

Rui Moita, director executivo da Consultora Esprit de Corps

 

Recorremos incessantemente a chavões, apostados que ficamos, por exemplo, no “talento”, na “gestão do talento”, no “employer branding”. Há quem queira agora chamar-nos de “Chief Happiness Officer”. Há outros que pura e simplesmente querem acabar com os “títulos”.

A “Iberização” das empresas, com consequências directas nas estruturas organizacionais em Portugal, também elas, mais por “ajuste directo” da posição hierárquica do que pelo conteúdo da função, veio alterar os títulos.

E perde-se tempo nisto.

Parece que continuamos a não querer ver o essencial, aquilo que de facto nos pode diferenciar… Precisamos de ser agentes multiplicadores, multidisciplinares, entender que conhecendo o negócio é o primeiro passo para uma gestão mais correcta e alinhada dos recursos humanos. Alterar conceitos, princípios de trabalho e, acima de tudo, atitudes e postura. Saber que mais do que um parceiro de negócio, devemos ser um agente do negócio. Alterar nomenclaturas não é o passo seguinte. É cosmética e apenas agrada ao “grupo”, mantém ou reforça um determinado status quo, premeia vaidades que parecem sustentar-se num mundo que não é o real.

Devemos estar no negócio do “alinhamento”. No alinhamento correcto, eficiente e com resultados, entre os recursos humanos e o negócio. Porque este alinhamento, promove o desenvolvimento das duas dimensões, que não estão separadas, são antes complementares e interdependentes.

A linguagem de um Conselho de Administração não é a linguagem dos Recursos Humanos, é a linguagem dos números, das finanças. Se queremos ser influentes e cumprirmos os nossos propósitos, devemos aprender a mesma linguagem, não só algumas palavras ou termos, mas sobretudo o seu significado. Escrevo e exponho este ponto há muito tempo.

“Entendo o que dizes e, realmente precisamos usar esse conhecimento para justificar o que fazemos”. Não! Não é esse o sentido, não é essa a questão! O entendimento, o conhecimento não deve ser usado para a racionalização do que aconteceu (passado!) mas, sim como o motor para definir o que e como é feito. Por outras palavras, influenciar a decisão antes que este seja tomada!

Precisamos de medir os impactos, não os processos. É  sobre estarmos obcecados com o valor que podemos e devemos criar nas organizações. É entendermos que a multidisciplinaridade de um(a) gestor(a) de RH é absolutamente critica! “Eu não abracei os RH porque gosto de números, mas porque gosto de pessoas” – a sério? É desta forma que justificamos o que fazemos?.

Nós não somos a função “Pessoas”. A nossa verdadeira função é criar valor! Ainda nem sequer percebemos as ferramentas básicas que permitem influenciar a “agenda da decisão”… Precisamos garantir que temos uma visão mais equilibrada do valor sustentável de e para as Pessoas e, do e para o Negócio! E isto não pode fazer apenas parte da conduta dos RH, é o todo, em torno e em resultado do qual, criamos real valor!

E devemos fazê-lo sempre com bom senso, com ética e integridade. É nestes princípios que se constroem relações de confiança. E é com estes que ganhamos credibilidade também…e no final, valorizamos e permitimos o desenvolvimento, do que é crítico para o negócio: as pessoas!

 

Sobre Rui Moita:

Actualmente é director executivo da Consultora Esprit de Corps. Passou por empresas como a General Motors, onde iniciou a sua carreira, seguiu-se a Samsung onde foi director de Recursos Humanos e Comunicação Corporativa, Netjets, foi para Moçambique durante 3 anos e regressou a Portugal, onde assumiu a direcção de Recursos Humanos da Parfois.

Licenciado em Sociologia pela Universidade Nova de Lisboa, completou o Programa Avançado para Gestão de Executivos em 2014, na Universidade Católica, School of Business and Economics.

Ler Mais