Opinião: W.A.S.P.M

A Gestão Moderna e como esta tem sido dominada por um modelo estrutural de pensamento que se pode designar por W.A.S.P.M – White Anglo Saxon Protestant Man, segundo Pedro Raposo, Conselheiro Editorial da Human Resources Portugal.

 

A Gestão moderna é muito recente; remonta aos anos 50 do século passado e tem por isso aproximadamente 60 anos.

No entanto, sendo muito nova, tem sido dominada por um modelo estrutural de pensamento que se pode designar por W.A.S.P.M – White Anglo Saxon Protestant Man.

Se pensarmos nos mais importantes gestores do século passado, por vezes designados por “heróis” ou Super Gestores, como hoje tanto os gostamos de qualificar, e em toda a produção bibliográfica que lhe é inerente, vemos um padrão claro e consistente: são caucasianos, americanos ou britânicos, oriundos de famílias cristãs protestantes e sem margem para dúvida do género masculino. De Kotler a Jack Welch, as variantes são escassas, destacando-se a pouca diversidade na gestão de topo.

Analisemos então cada uma das três contantes deste modelo estrutural de pensamento e de gestão:

–  White – é um facto claríssimo que na prática de Gestão a ideologia dominante tem sido praticamente na sua totalidade expressa pelo Ocidente e pelo Homem Ocidental em particular.

– Anglo- Saxon – as Escolas de gestão eram até há poucos anos ou europeias ou americanas e os gestores icónicos todos ou quase oriundos destes dois Continentes.

– Protestant Man – a variável do protestantismo está claramente associada à própria natureza do pensamento americano e britânico: a maximização do lucro, os melhores a sobressaírem naturalmente, a mão invisível do Adam Smith como elemento explicativo do Universo.

Mas nada é constante e a actualidade colocou-nos perante uma modificação deste paradigma.

O Oriente nos últimos anos produziu os Jack Ma da Alibaba, destacou e diferenciou a Samsung que tem dado cartas claras não só na alta tecnologia das telecomunicações bem como nos seus processos de produção. As próprias Escolas de gestão começam a surgir com enorme qualidade no Oriente e na América do Sul pelo que a produção bibliográfica seguirá necessariamente este caminho. O que se vê hoje então?

As organizações orientais são estruturalmente crentes numa Gestão com foco no longo prazo, com uma maior atenção à sustentabilidade futura, caracterizada por planos a 10 e 20 anos, com mais paciência e menos subjugação à ditadura bolsista do trimestre e do final do ano.

Mas se levarmos este contexto de diversidade de gestão a um plano ainda mais extremo podemos apontar um negócio como o bancário onde as organizações de matriz social e cultural islâmicas criaram a chamada Banca Islâmica na qual é proibida a cobrança de juros. Trata-se de uma adaptação total de um negócio a uma cultura diferente e não é por isso que essas organizações não são rentáveis.

Por último importa dedicar umas palavras à questão do género. A Gestão tem sido monopolizada pelos Homens num estilo que se traduz numa certa dureza, implacabilidade, frieza de raciocínio e em que os fins justificam os meios. A gestão foi aqui buscar alguma da sua inspiração aos filmes do “ Dirty Harry”. Felizmente neste domínio tem-se assistido, embora lentamente, ao aparecimento de Gestoras Mulheres que mais do que se afirmarem por serem do género oposto, terão que se afirmar por um estilo distinto de gestão, também ele mais de longo prazo, menos sujeito à pressão do final de ano, mais compreensivo, mais inclusivo, mais relacional e sobretudo mais ponderado.

Acredito pois que a Gestão deste século será muito diferente! Mais diversa, mais rica e sobretudo melhor.

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