Os desafios do futuro do trabalho: bem-estar 2.0 em 2020

A pandemia trouxe muitos desafios às empresas. Muitas sofreram quebras nas receitas, algumas viram-se obrigadas a colocar parte da equipa em lay-off e tantas outras a encerrar operações. O cenário actual não é positivo para o tecido empresarial e mesmo as que não viram as suas receitas afectadas directamente, foram apresentadas com outro desafio: o de trabalhar e gerir equipas remotamente.

Por Madalena Marinho, Happiness Director da Critical TechWorks

 

Numa fase inicial, o desafio passou por nos adaptarmos a esta nova realidade. Transformarmos as nossas casas em escritórios e passarmos a comunicar à distância não foi um trabalho árduo. A adaptação foi rápida e, até agora, os home offices permaneceram – e com eles a linha que separava o local de trabalho e o de lazer, que por si só já era ténue, tornou-se impercetível. A digitalização das iniciativas que já estavam em curso para fomentar a qualidade de vida e o espírito de equipa entre os colaboradores também não foi um processo complicado.

Em oposição, criar awareness dos beneficios de sessões de coaching e terapia online, que podem ajudar a prevenir situações de stress e ansiedade, foi um desafio maior.  Do nosso lado, profissionais que têm como objectivo garantir o bem-estar dos colaboradores, a tarefa foi acrescida – tivemos de começar a perceber e a “sentir” as pessoas à distância.

Ainda que trabalhar em casa seja uma regalia em algumas empresas, o seu prolongamento pode traduzir-se em muitas horas de trabalho e a ansiedade causada pela incerteza do confinamento pode, pontualmente, resultar em situações de burnout. É importante notar, no entanto, que somos todos diferentes e, naturalmente, há quem se sinta melhor a trabalhar a partir de casa.

Mas como é que podemos prever situações de esgotamento e de falta de bem-estar por parte dos colaboradores? Primeiro, e mais importante do que tudo o resto, é fundamental dotarmos as pessoas do conhecimento necessário para fazerem, elas próprias, uma avaliação do seu estado de espírito. Pode parecer imediato, mas são muitas as pessoas que se “deixam levar” e entram num estado de dormência, ignorando os sinais que, caso tivessem consciência, estariam à sua vista. Este tipo de iniciativas não só é importante para fazer uma autoavaliação, como também para que as pessoas se possam ajudar entre si ao detectar sinais nos seus colegas. Para que isto seja conseguido, é importante que os líderes se mostrem abertos a ouvir, de forma a que ninguém tenha de camuflar o seu estado de espírito da restante equipa.

A par disto, as empresas que têm essa possibilidade, devem dar acesso aos recursos necessários para aumentar o bem-estar das suas pessoas. A implementação de um programa que ajude os colaboradores a encontrarem melhor qualidade de vida a partir de conversas com profissionais – sejam eles professores de ginástica, psicólogos, nutricionistas –, é de extrema importância nestas alturas. Caso não tenham esta possibilidade, podem ser criados grupos com pessoas que partilham algumas características.

A título de exemplo, no caso da Critical TechWorks, criámos sessões de peer coaching para colaboradores, em que estes trazem para a mesa os seus desafios e o que os preocupa. Naturalmente, nestes últimos meses, o foco foi o confinamento, mas à medida que o tempo foi passando, os temas de conversa foram mudando – com esta iniciativa, foi-se desenvolvendo uma familiaridade e confiança entre os membros das sessões, fomentando, assim, o espírito de entreajuda. Além disso, criámos open sessions para os pais, que tinham de tomar conta das crianças no seu horário de trabalho, partilhassem as suas dores e estratégias durante o pico da pandemia.

Começamos a voltar aos escritórios a passo lento, tendo sempre as regras e conselhos da Direcção-Geral da Saúde (DGS) em consideração. Ainda assim, as dores do distanciamento persistem, principalmente para as empresas com equipas numerosas que ainda não se podem juntar. No nosso caso específico, para que seja fomentada a união e a partilha, é importante mantermos os momentos descontraídos, que alguns colegas apelidam de “Bring your own Coffee”, onde se fala de tudo menos de trabalho. A intenção é óbvia: descontrair e criar conexões. São estes os momentos em que as pessoas se abrem mais, dão espaço à vulnerabilidade, falam sobre o que se está a passar. Isto dá abertura à vulnerabilidade e permite que se crie um ambiente de confiança entre todos que, por sua vez, permite perguntar: “Estás bem?” ou dizer “Não estou bem, estou a precisar de ajuda”.

Por outro lado, é também fundamental mostrar transparência entre o board e a equipa. Para tal, passámos os nosso habituais “Breakfast Talks” para o online, onde contamos, por norma, com perto de 200 pessoas que se unem à hora de pequeno-almoço – tal como indica o nome – para colocar questões e ouvir o ponto de situação em que nos encontramos. Além de fomentar a transparência, este último caso é também a altura ideal para passar mensagens positivas, de esperança e criar conexões a um nível mais geral.

Sabemos que um colaborador quando está feliz no trabalho e adora o que faz, o seu espírito criativo dá azo a resultados que estão acima das expectativas e descobre soluções inovadoras. É, por isso, relevante que as empresas vejam os programas de bem-estar dos seus colaboradores, sejam eles presenciais ou à distância, não só como um benefício, como também como uma ferramenta de retenção, de fomento da produtividade e criatividade e, acima de tudo, como uma forma de criar um ambiente de trabalho amigável, onde todos se sintam confortáveis consigo e se mostrem abertos a partilhar.

É certo que a pandemia trouxe dificuldades para as empresas, mas não devemos descurar dos nossos activos mais importantes: as pessoas, que, dependendo da forma como se sentem, serão quem ajudará a insígnia que representam a dar a volta e a (re)conquistar o mercado.

 

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